José Antonio Lima
Cinco boas notícias das eleições dos Estados Unidos
Os
norte-americanos reelegeram Barack Obama para mais quatro anos de
mandato na terça-feira 6. No mesmo dia, o eleitor aprovou mudanças
importantes que terão impacto nas políticas públicas não apenas dentro
do país, mas também no exterior. Confira abaixo alguns dos resultados
positivos que emergiram das urnas nos Estados Unidos.
Os eleitores do Colorado e de Washington aprovaram a legalização da
maconha para uso recreativo por adultos. É um passo polêmico, mas
extremamente importante. Uma análise minimamente razoável da “guerra às
drogas” é capaz de constatar que ela, além de não conseguir conter o uso
de entorpecentes, ela transformou o mundo, e particularmente a América
Latina, num lugar mais perigoso. O continente produz e serve como ponto
principal de transporte para a droga usada nos Estados Unidos, um dos
líderes do consumo mundial. É por esse motivo que presidentes e
ex-presidentes latinos (como Fernando Henrique Cardoso) defendem a
descriminalização das drogas. A partir de agora, as legislações do
Colorado e de Washington serão conflitantes com a nacional dos EUA, que
proíbe qualquer posse ou venda de maconha. A discussão a respeito do
assunto nos Estados Unidos é capaz de tornar o debate no resto do mundo
mais racional e menos apaixonado.
O próximo Senado dos Estados Unidos terá um número recorde de
mulheres. Serão pelo menos 19 de um total de cem parlamentares na Casa,
contra as 17 atuais, o recorde antigo. As mulheres se destacaram
principalmente no Partido Democrata, graças à tese de que alguns membros
do Partido Republicano, como Richard Mourdock e Todd Akin (leia
abaixo), estariam realizando uma “guerra às mulheres”. As seis senadoras
democratas que disputavam a reeleição venceram. Duas democratas eleitas
serão as primeiras mulheres a representar seus Estados – Elizabeth
Warren em Massachusetts e Tammy Baldwin no Wisconsin. Tammy é também a
primeira senadora abertamente homossexual a ser eleita. Outra democrata,
Mazie Hirono, é a primeira senadora de origem asiática do Havaí.
Segundo a rádio pública NPR, 33% das disputas ao Senado tinham uma
candidata viável, número significativo já que, mesmo quando conseguem se
candidatar, as mulheres têm problemas para financiar suas campanhas. A
participação das mulheres no Congresso norte-americano ainda é
considerada baixa (cerca de 17%), mas o resultado no Senado comprova um
aumento sistemático da participação delas na tomada de decisões. Em
1991, havia apenas duas senadoras nos Estados Unidos. O resultado deste
aumento de participação é óbvio, como disse em entrevista Barbara Lee,
líder de uma fundação que busca ampliar a representação legislativa das
mulheres. “Quanto mais mulheres em cargos eletivos, mais barreiras são
dissipadas”.
Em referendos, três Estados americanos – Maine, Washington e Maryland
– aprovaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ampliando de sete
para dez os locais nos Estados Unidos em que este direito é garantido.
Antes, pessoas do mesmo sexo podiam se casar em Connecticut, Iowa,
Massachusetts, New Hampshire, Nova York, Vermont e no distrito de
Columbia, onde fica a capital do país, Washington. Em maio, o presidente
dos Estados Unidos, Barack Obama, disse ser favorável ao casamento gay e
não apenas à união civil de homossexuais. A decisão dos estados dá mais
força a quem acredita que todos os cidadãos de um país,
independentemente de orientação sexual, têm direitos iguais e enfraquece
religiosos de todo o tipo que se mobilizam para impedir que
homossexuais tenham o mesmo direito de se casar que eles, religiosos,
têm.
Dois candidatos republicanos ao Senado que provocaram ultraje com
declarações a respeito do aborto foram rejeitados pelos eleitores dos
Estados de Indiana e Missouri. Em Indiana, Richard Mourdock se tornou
favorito ao encampar as ideias da Tea Party (uma facção radical do
Partido Republicano), mas provocou indignação, inclusive entre os
eleitores republicanos, ao afirmar que “mesmo quando a vida começa numa
situação horrível de estupro, isso é algo que Deus quis que
acontecesse”. Mourdock recebeu 44,4% dos votos, mas foi superado pelo
democrata Joe Donnelly (49,4% dos votos). No Missouri, um fenômeno
parecido ocorreu. Esperava-se uma disputa acirrada entre a democrata
Claire McCaskill e o republicano Todd Akin, mas o segundo conseguiu
destruir sua campanha ao afirmar que mulheres vítimas de “estupros
legítimos” não ficam grávidas pois seus corpos têm uma forma de “fechar
toda aquela coisa”.
Tradicionalmente, os eleitores jovens têm pouca representatividade
nas eleições norte-americanas. Em 2008, Obama fez um apelo a esse grupo,
que compareceu em peso às urnas (18% do eleitorado eram pessoas com
idades entre 18 e 29 anos). Para o democrata, foi positivo, pois ele
obteve uma vitória por 34 pontos porcentuais. Em 2012, a participação
dos jovens continuou grande (19%). Como afirma o jornal The Washington Post,
um comparecimento deste tamanho ocorrer uma vez é uma anomalia. Duas
vezes, é uma nova realidade política. Como também afirma o jornal, é
preciso saber se o fenômeno jovem está diretamente ligado à figura de
Obama. Se não estiver, os EUA podem estar diante do crescimento da
importância de um eleitorado que busca ideias novas, muito necessárias
para resolver os problemas do país.
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