terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Projetos que já não participo mais...

Tem mais, muito mais....


Filme Documentário da Cidade de Salto

A Oficina gratuita de Interpretação para Cinema e Televisão, oferecida pela SEME - Secretaria Municipal da Educação da Estância Turística de Salto aos interessados em participar do filme documentário sobre a cidade, aconteceu nos últimos dias 26 e 27 de janeiro de 2012.

Estiveram presentes atores de Salto e toda a região, que receberam diversas informações teóricas e dicas práticas sobre o assunto, transmitidas pelo diretor Vicentini Gomez, responsável pelo documentário. Na ocasião, os participantes também fizeram diversos testes em frente às câmeras.

A partir de agora, a seleção acontecerá de acordo com a capacitação e características adequadas apresentadas pelos inscritos, semelhantes aos personagens presentes no filme. “Interpretar para cinema e televisão requer conhecimentos sobre os princípios básicos de como os filmes e novelas são feitos. O ator, em geral, habituado a representar no teatro para a última pessoa da platéia, perde a noção da `aproximação` da câmera e cria uma representação estereotipada para o vídeo. Necessário, portanto, identificar essa diferença entre representar no teatro para uma platéia e representar para uma câmera”, disse Vicentini.

Saiba mais sobre o projeto:

Com o objetivo de oferecer aos estudantes da rede municipal de ensino mais um instrumento de pesquisa e conhecimento sobre Salto, a Prefeitura da Estância Turística de Salto, através da Secretaria da Educação, realiza a produção de um filme sobre a história da cidade.
 
 
O ator e cineasta Vicentini Gomez é o responsável por toda a pesquisa e escrita do roteiro, já finalizadas, as quais contaram com supervisão do Prof. Jonas Soares de Souza, pesquisador do Museu Paulista da USP, e reuniram 76 volumes entre livros, artigos, dissertações e teses de doutorado, com aproximadamente 15 mil páginas.
 
 
O filme com linguagem mista –atores e animação em 3D- quer contar de maneira dinâmica, lúdica e didática a História de Salto, desde a pré-história com os Índios até a atualidade.

“Esse projeto será essencial para o ensino de história local, visto que na sociedade moderna é muito mais fácil absorver informações advindas de estímulos audiovisuais e o cinema apresenta grande potencial pedagógico. Um filme serve tanto para expor conteúdos, quando para ilustrar conceitos e demonstrar experiências. Sua utilização oportuniza enfocar os mais diversos aspectos, tornando-se uma essencial ferramenta educativa”, disse o diretor.

Meu Primeiro Livro

A Secretaria da Educação da Estância Turística de Salto, em parceria com a Editora Espaço IDEA, promoverá no próximo dia 02de fevereiro, quinta-feira, às 18 horas, no CEC - Centro de Educação e Cultura Anselmo Duarte – Sala Palma de Ouro, o lançamento do Projeto Meu Primeiro Livro.

Tal Projeto, que será desenvolvido com mais de 3.600 alunos da Educação Infantil e EJA – Educação de Jovens e Adultos, tem como objetivo resgatar a memória local, promovendo discussões e reflexões sobre o seu conhecimento, sua valorização e sua importância no processo de ensino-aprendizagem em sala de aula.

A duração do Projeto é de um ano e durante esse tempo, o mesmo contará com muitas ações pedagógicas, como o envolvimento de escritores, pesquisadores e artistas de renome nacional, que desenvolverão atividades e ministrarão palestras para professores e alunos da rede municipal. Além disso, também serão realizadas ações culturais para as comunidades que circundam as escolas, contribuindo para o enriquecimento do patrimônio educacional e cultural da cidade.
 
 
Ao final do Projeto, que já beneficiou mais de 50 mil crianças de todo o Brasil, serão ainda publicados livros escritos por todos os estudantes e professores da rede municipal de ensino, narrando em poesia e prosa a história de Salto, desde a sua formação até os dias atuais.

“Costumo dizer que o Projeto Meu Primeiro Livro é um momento extraordinário no dia-a-dia da escola, pois propicia ao aluno, ao professor e à comunidade, defrontar-se com a memória de seus antepassados, revivendo, junto a eles, o fantástico e o maravilhoso que fora suas vidas. Esta experiência, inserida no fabuloso universo do conhecimento letrado, através do contato democrático com o livro, modifica a maneira de se encarar não somente os personagens e os artífices da história local, mas o conceito de cidade, pois conhecendo a história local, passamos a nos sentir pertencentes dela.”, relata Mauricio Araújo, escritor e editor chefe da Editora Espaço IDEA.

Material Didático

Durante meses, representantes de todos os CEMUS - Centro de Educação Municipal de Salto estiveram reunidas para a elaboração do material didático que será utilizado nas escolas do Ensino Fundamental, Ciclos I e II, da rede municipal de ensino, neste ano de 2012.

Os encontros aconteceram diariamente no CEC – Centro de Educação e Cultura de Salto, foram coordenados pelas assessoras Julyany Gonçalves e Julyany ValiniJulyany ValiniRaquel Blasque e contaram também com o apoio de professores especialistas de Artes e Educação Física. Toda a elaboração foi feita a partir de pesquisas, análise da prática atual, discussão de adaptações e inovações necessárias e adequação dos conteúdos.

No último dia 19 de janeiro a Secretaria da Educação da Estância Turística de Salto recebeu os exemplares que serão utilizados no 1º bimestre do ano, os quais estão sendo distribuídos às unidades escolares. Já os do 2º bimestre serão enviados pela editora, para revisão final e posterior impressão.

O grande diferencial desses materiais é ter um foco exclusivo na realidade local, com o intuito de fazer com que as informações elaboradas tenham maior sentido e similaridade às crianças saltenses. Por isso, conteúdos relacionados ao trânsito e aos pontos turísticos da cidade foram os grandes focos do trabalho. “Além disso, a produção também foi pensada para padronizar os conteúdos por ano e área de conhecimento, e assim direcionar o ensino alinhado com o PCN”, completou Viviane Santos, do Departamento Pedagógico da Secretaria da Educação.
 
 
O projeto de confecção, inovador na região, despertou inclusive os olhares de estudiosos, como Rosilene Silva, aluna do curso de mestrado em Educação pela Unicamp, que faz parte de um grupo de pesquisadores sobre políticas públicas educacionais.

“Atualmente 307 municípios paulistas assumem parcerias com instituições privadas para aquisição de sistema apostilado. O que chamou a minha atenção foi o fato de o município de Salto nunca ter firmado esse tipo de parceria, optando por atuar ativamente na construção do material didático, mediante a participação dos professores no projeto”, salientou Rosilene, que no momento está fazendo a pesquisa de campo para o trabalho, com finalização prevista para junho de 2013.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Minha casa, minha vida na Bahia e em Salto

Antes que alguém assuma a paternidade dos investimentos do Minha Casa Minha Vida por esse Brasil afora, inclusive em Salto, é bom marcar que tais investimentos são do governo federal. Dá-lhe Dilma

Do Blog do Planalto

Segunda-feira, 30 de janeiro de 2012 às 11:01

Depois de 20 anos, Brasil voltou a ter política habitacional, diz presidenta Dilma



Ao lado dos ministros Antonio Patriota e Afonso Florence,
 e do governador Jaques Wagner, a presidenta Dilma
anuncia a construção de moradias populares para a população
da Camaçari que vivem em áreas de risco.
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje (30) que, passados 20 anos, o Brasil voltou a ter uma “uma política real de habitação”. Segundo ela, sem o acesso da população à casa própria, o governo não pode oferecer uma política de distribuição de renda. Na cerimônia de assinatura da ordem de serviço para as obras de urbanização da Bacia de Camaçari (BA), a presidenta anunciou a construção de unidades habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida para as famílias que vivem nas áreas de risco.
“Sempre que eu venho entregar ou lançar uma obra do Minha Casa, Minha Vida que tem ligação com qualquer obra de retirada da população de área de risco é um extremo orgulho. Porque eu acredito que nesse país uma das coisas mais importantes que nós mudamos foi a política habitacional. O Brasil passou mais de vinte anos sem ter uma política real de habitação, de garantia da casa própria para a sua população. E isso mostrava justamente a pouca importância que as lideranças políticas e os governos deram a uma questão essencial”, disse a presidenta.

Segundo a Caixa Econômica, 2.357 famílias que vivem nas áreas de risco ao longo do Rio Camaçari e seus afluentes serão reassentadas nas unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida. O investimento será de R$ 112,08 milhões.

As obras de urbanização integrada da Bacia do Rio Camaçari incluem a recuperação e a revitalização ambiental buscando a melhoria da qualidade de vida de 11,6 mil famílias. Serão investidos R$ 163,04 milhões em obras de saneamento, abastecimento de água, macro e microdrenagem, e reurbanização das margens dos rios que compõem a Bacia do Rio Camaçari.


Olha nas mãos de quem estamos....

Do Conversa Afiada



Vídeo revelador da Juíza: “PM foi admirável”

Publicado em 27/01/2012

O amigo navegante Claudinei envia video com entrevista da Juiza Marcia Loureiro, aquela que, em última instância, decidiu que Naji Nahas tinha direito à reintegração:

claudinei watanabe

Enviado em 28/01/2012 às 13:00

Bem para mim essa entrevista, é bem reveladora, há quatro meses a o governo Alckmin vem organizando essa operação, quando a juíza diz na terça feira houve uma tentativa de entrar em pinheirinho era na verdade um teste uma prévia da operação de domingo, essa mulher é um …, Paulo Henrique, veja a “nossa” juíza elogiando a ação da policia.

NAVALHA

A Juíza repete a acusação de que lideranças políticas no Pinheirinho criaram as condições para haver um banho de sangue.

Que o trabalho “admirável” da PM do Alckmin evitou.

A racionalidade da emérita Juíza se sustenta na ausência de uma solução de conciliatória: o Governo Federal chegou com um protocolo de intenções que não dizia nada – conclui ela.

“Ao Juiz cabe decidir” – sentencia.

Bravo !

Naji Nahas não argumentaria melhor !

Em Pinheirinho se rescreveu uma História do Brasil: os perdedores perdem sempre; os vencedores vencem sempre.

Paulo Henrique Amorim

Faces Ocultas - 1964

Cia de Danças Faces Ocultas - 1964

Ontem tive o privilégio de assistir a um dos mais belos espetáculos de dança dos últimos tempos. A Cia de Danças Faces Ocultas apresentou no CEC a coreografia "1964".

Uma poesia em forma de dança, que nos remete ao passado e nos faz questionar o presente. Com uma trilha sonora impecável, que contribui muito para a profundidade do tema e das cenas.

Como não se emocionar com os rapazes indignados ao lerem os jornais e observarem o quanto a ditadura arruinava o país. Como não se emocionar com a reação de poucos, é verdade, mas de corajosos brasileiros que de todas as formas possíveis tentaram derrubar aquele mal. Como não se emocionar com a cena da organização da resistência e da revolta do sujeito solitário que tentava afagar a vida com uma música ao piano, mas não se continha por conta da realidade. Como não se emocionar com as cartas recebidas e lidas pelas mulheres daqueles que por tentarem quebrar a ditadura eram presos e torturados. Como não se emocionar com as torturas realizadas e escancaradas aos nossos olhos pelos meninos da Cia., que certamente não viveram a época, mas absorveram seu mal. Como não chorar na cena do "cala a boca" (apresentada na foto acima), que mostra claramente como eram tratadas as pessoas na época (e algumas vezes hoje também).

Em 1964 tinha oito anos de idade. Não tinha consciência do que aconteceu. A única coisa que me lembro é de meu pai (dirigente sindical na época) queimando papéis e revistas em casa. Com o passar dos anos e a radicalização da ditadura, percebi duas coisas: em Salto não tivemos uma resistência e a Igreja ajudou muito a esconder o que acontecia no país. Quando percebi o que aconteceu e o que a Igreja fez, rebelei-me contra ela e passei a militar no partido e em seguida no movimento sindical.

Muitos caíram, muitos desapareceram, muitos foram mandados embora do país por conta de uma "verdade" imposta pela ditadura.

O resgate conseguido pela Cia. Faces Ocultas foi magistral. Não só pelo apanhado histórico (magnífico), mas pela possibilidade de reflexão. Sim, porque as ditaduras não são somente as agressivas e explicitas. Ela pode se manifestar de múltiplas formas. Hoje, por exemplo, ela deu seu "ar da graça" no evento de acolhida dos professores da rede municipal para mais um ano de trabalho: o vice-prefeito Juvenil, que apesar de todos os acontecimentos, é uma autoridade, foi impedido de dirigir a palavra aos professores presentes no CEC. Ordens expressas do paço....

No início da apresentação um vídeo com a atriz Célia Mariano declamando parte da música de Chico Buarque, "Apesar de Você" e destacando as sutilezas do espírito ditatorial, presente em muitas pessoas que nos cercam.

Parabéns aos meninos e meninas do Faces Ocultas!!! Parabéns ao seu diretor Arilton Assunção!!! A arte engajada é extremamente pedagógica. Que novos trabalhos como este tenhamos o privilégio de ver!!!

"Apesar de você, amanhã há de ser um novo dia....."


domingo, 29 de janeiro de 2012

27 de janeiro passou....

Aos poucos amigos que seguem este blog, já não mais exerço a atividade de secretário da educação, definida e assumida desde 2005, em minha querida cidade. Numa ação política ocorrida na sexta-feira, nosso prefeito resolveu assumir um dos lados da disputa, abdicando de sua figura de liderança e excluindo aqueles que não fazem parte de sua escolha. 

Todos sabemos que os sinais que se apresentavam, indicavam esse caminho. Entretanto como eternos otimistas que somos, sempre acreditamos que o bem estar da população e um projeto político de unidade pudesse "acordar" aquele que foi escolhido por todos nós como nosso representante maior. Mas assim não foi e certamente muitas análises ainda teremos sobre os motivos disso. 

Uma das coisas que ninguém, e friso muito essa palavra - ninguém - tirará da história é a aliança construída ainda em 2003 e que venceu as eleições de 2004. Ninguém tirará da história as inúmeras tratativas que existiram para se chegar a tal aliança. Ninguém tirará da história nosso primeiro planejamento de campanha, ocorrido na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde o compromisso selado foi para a busca constante de consenso numa caminhada de continuidades. Pode-se até dizer: na política tudo é efêmero - também sei disso e lamento que seja assim. Pode-se até dizer que a aliança construída (como li nestes dias) era uma aliança fadada a terminar mais dia, menos dia, como aconteceu. O que ninguém tirará da história serão os compromissos assumidos, "olho no olho", como homens dignos fazem. Isso só quem participou e vivenciou essa construção é que poderá testemunhar, se ainda for coerente com a história. 

Por muitos e muitos anos de minha vida estudei e tentei viver aspectos ligados a questão da liderança. Desde 2005, quando assumimos o papel de administrar a cidade, a prática foi muito fértil em mostrar as inúmeras facetas da liderança. As positivas, as negativas, as sorrateiras, as neutras, enfim, muitas. Quando vencemos a segunda eleição, uma amiga que participara de administrações de Diadema me dizia: "cuidado que a segunda é muito mais difícil que a primeira". Você não imagina, minha cara amiga, como essa sua frase esteve presente nos últimos anos. 

Quando do seu pronunciamento na sexta-feira, o prefeito deixou muito claro que sua opção era por um projeto político para a cidade. A maior certeza que temos hoje, apesar de ainda muitas análises precisarem ser feitas, é que efetivamente temos nas duas candidaturas oriundas da administração, dois projetos: um estrutural e físico e outro social e de organização. Impressionante como isso se manteve nas duas lideranças: um prefeito preocupado com os aspectos estruturais e um vice-prefeito preocupado com as questões sociais e organizativas da cidade. Solidificada agora as duas vias (que sempre tivemos como complementares, tanto que tudo o que foi feito não só apoiamos, como fizemos juntos, nos dois campos), o que se pode apontar para o futuro próximo é uma disputa clara de projetos.

De minha parte, não tenho dúvida do que a cidade precisa: uma estrutura que esteja a serviço das pessoas, que garanta uma profunda qualidade no atendimento público em todas as esferas, que garanta a vivência coletiva de nossos moradores de forma harmoniosa e organizada, que garanta todas as manifestações culturais que existem na cidade, que garanta uma preocupação redobrada para os excluídos de qualquer serviço e/ou sistema, que garanta uma educação baseada na cidadania e no trabalho, que garanta, enfim, uma sociedade justa e fraterna para todos nós. 

Hoje, depois de sete anos atuando na educação, não tenho dúvidas de que isso é possível. Para isso ser possível o que precisamos é agir coletivamente e fazer nossas opções. Olhando para os sete anos da administração e vivendo agora a separação dos projetos, não tenho nenhuma dúvida de quem é capaz de fazer isso. Não tenho nenhuma dúvida de quem submeterá os interesses políticos a esses objetivos maiores. Não tenho dúvida de quem tem a história voltada para essa plataforma. Não tenho dúvida de quem tem a sensibilidade para ouvir e construir junto com a sociedade. Não tenho dúvida de quem sabe ser a administração pública um dos agentes construtores dessa plataforma - muito forte, mas dependente da ação e participação de todos da cidade. 

E é essa certeza que nos animará nesse novo momento. Sem medos, sem subterfúgios, sem se esconder atrás de cenas pré-estabelecidas, sem tolher a participação de ninguém. Agindo coletivamente e de forma transparente, como sempre, tendo objetivos claros, podemos sim recuperar a construção iniciada em 2005, abruptamente interrompida no último dia 27 de janeiro. Com novos atores, infelizmente (ou felizmente??),   mas com a população. 




quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Experimentando o próprio veneno???

Do Blog da Cidadania

Há anos que os grandes meios de comunicação do eixo São Paulo – Rio de Janeiro (o que inclui jornais, revistas, rádios, televisões e portais de internet) vêm empreendendo uma cruzada contra o que chamam de “censura à liberdade de imprensa” ou “de expressão” que estaria sendo planejada pelo Partido dos Trabalhadores e seus aliados ou simpatizantes, de forma a coibirem críticas ao governo federal.

Para esses veículos, não pode haver limite para críticas ao governo, ainda que nunca tenham esclarecido se a premissa valeria para qualquer governo ou só para os governos do PT. Agora, porém, isso está sendo esclarecido.

Editoriais dos jornais O Globo e O Estado de São Paulo já vinham na linha da defesa incondicional do governo Geraldo Alckmin, mesmo que em suas campanhas pela “liberdade de imprensa” sempre tenham caracterizado qualquer defesa do governo federal como “jornalismo chapa-branca”.

Já o jornal Folha de São Paulo vinha em uma linha mais jornalística, inclusive dando furos de denúncias de assassinatos ou desaparecimento de moradores do Pinheirinho, mas acabou publicando editorial em que até reconhece os excessos da Polícia Militar, mas centrando fogo nos partidos e movimentos sociais que se ergueram em defesa dos flagelados pela ação da Polícia Militar e, o que é pior, não citando o governador de São Paulo ou seu partido uma única vez.

Mas, agora, o blogueiro e colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo foi mais longe. Publicou texto em seu blog na última quarta-feira em que aumenta o tom da defesa que os veículos da grande imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro vêm fazendo do governo de São Paulo diante da forte repercussão negativa de sua ordem para que a Polícia Militar despejasse 1.600 famílias do bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), no último domingo (22.01.2012).

A proposta desse texto é a de que sejam presos jornalistas ou mesmo cidadãos sem formação jornalística que façam acusações sem provas ao governo tucano de São Paulo, mesmo que estejam se limitando a reproduzir denúncias de violações de direitos humanos que já estão até sendo repercutidas no exterior e que já geraram decisão da Organização das Nações Unidas de denunciar o governo de São Paulo por tais violações.

Abaixo, trechos dos vários posts que esse blogueiro da revista Veja está publicando nesse sentido.
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Alô, governo de SP, Justiça e Ministério Público! Hora de combater os criminosos da rede. Cadeia para os mentirosos!

É impressionante!

Multiplica-se na rede a delinqüência originalmente veiculada pela Agência Brasil, sob o comando da EBC, segundo a qual houve mortos na desocupação do Pinheirinho. Há vídeos circulando na rede que acusam, entre outras coisas:

- a Polícia Militar de esconder corpos;
- o governo e a PM de separar as crianças de seus pais;
- a prática de tortura.

E onde estão as evidências? Não há! Até porque não aconteceu nada disso. Afirma-se que, entre os mortos, há crianças. São criminosos operando a serviço de teses políticas. A EBC publicou hoje uma patética reportagem desmentindo o que ela própria havia divulgado ontem (as tais mortes) e, mais uma vez, atropelou a boa técnica jornalística e o bom senso. Na madrugada, trato do assunto. Terei de lembrar a Nelson Breve alguns fundamentos da profissão, uns 20 anos depois de nossa última conversa. Daquela vez, eu lhe passei alguns fundamentos do jornalismo em seu primeiro emprego na área. Agora, eu vou convidá-lo a recuperar alguns fundamentos de sua experiência no setor bancário — de onde ele vinha. Ele precisa tratar o leitor, o ouvinte e o telespectador da EBC como os bancos tratam os correntistas: procurando ganhar a sua confiança!

A expressão na Internet é e deve continuar livre. Mas ninguém tem licença para usar a rede para cometer crimes. Acusar a Polícia Militar, o governo do Estado e a Prefeitura de São José dos Campos de esconder corpos é crime — no caso, de calúnia. E o lugar de caluniadores é a cadeia.

Ou os entes do estado reagem contra os criminosos, ou eles progridem! É perfeitamente possível chegar à origem dessas mensagens e responsabilizar seus autores, segundo as regras vigentes no estado democrático e de direito.
(…)

A liberdade de expressão não confere a ninguém a liberdade de caluniar — continua a ser um crime, pouco importa o meio.
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Há uma grave distorção dos fatos, aí. A matéria da Agência Brasil (EBC) não acusou Alckmin ou a PM de nada, apenas repercutiu denúncias que já ganharam o mundo, tendo sido largamente reproduzidas na imprensa internacional em veículos como o diário britânico The Guardian ou na rede de televisão Al Jazeera.

Contudo, quem tem incomodado a grande mídia paulista e fluminense não está fazendo nada nem parecido com o que ela mesma faz há anos contra o governo federal semana sim, outra também. A própria Veja e congêneres, nos últimos anos, não se limitaram a reproduzir denúncias até de assassinato contra o governo Lula, mas endossaram-nas

A revista Veja, por exemplo, em sua edição 1929, de 2 de novembro de 2005, publicou matéria acusando a campanha de Lula à Presidência em 2002 de ter recebido doações ilegais de dinheiro transportado de Cuba para o Brasil clandestinamente. Abaixo, o trecho da matéria contendo a acusação:

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Os dólares, acondicionados em caixas de bebida, andaram por Brasília e Campinas até chegar ao comitê eleitoral de Lula em São Paulo. Dois ex-auxiliares do ministro Palocci confirmaram a história a VEJA. São eles: Rogério Buratti e Vladimir Poleto, que transportou o dinheiro de Brasília a Campinas a bordo de um avião Seneca.
(…)
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Nada jamais foi provado e, que se saiba, ninguém pediu prisão para quem fez essa matéria. Como se vê, é muito diferente do que vêm fazendo a EBC ou mesmo a blogosfera. Não se está reproduzindo denúncias, mas endossando-as. O tom da matéria supra reproduzida não diz que pode ter ocorrido, diz que ocorreu.

A mesma coisa fez o jornal Folha de São Paulo em 2007 ou em 2009, por exemplo.

Em 19 de julho de 2007, o jornal publicou chamada em destaque em sua primeira página que remetia a matéria de um colunista do jornal que acusou o governo Lula de ter assassinado 200 pessoas no âmbito do desastre do avião da TAM em São Paulo, que ocorrera no dia anterior. Abaixo, trecho da matéria.

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FOLHA DE SÃO PAULO
19.07.2007
O que ocorreu não foi acidente, foi crime
FRANCISCO DAUDT
COLUNISTA DA REVISTA DA FOLHA

Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, “GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS”. O assassino não é só aquele que enfia a faca, mas o que, sabendo que o crime vai ocorrer, nada faz para impedi-lo. O que ocorreu não pode ser chamado de acidente, vamos dar o nome certo: crime.
(…)
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Alguns anos se passaram e o que se descobriu foi que havia um defeito no avião e que o piloto cometeu um erro. Mas a acusação jamais foi sequer retificada.

Já no dia 5 de abril de 2009, a mesma Folha de São Paulo publicou nova chamada em destaque em sua primeira página, que remetia a reportagem sobre o suposto plano do grupo VAR-Palmares durante a ditadura militar que visava sequestrar o então ministro Antonio Delfim Netto. Na mesma primeira página foi publicada ficha criminal de Dilma Rousseff que conteria seu indiciamento por ter participado desse crime.

O jornal, à época, alegou ter obtido a ficha criminal da hoje presidente da República junto ao arquivo do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Diante da contestação de Dilma, que apresentou inclusive perícias comprovando a fraude, o jornal admitiu, então, não ter obtido a ficha da parte do DOPS, mas via e-mail, declarando, pois, simplesmente “não poder atestar ou negar sua veracidade”.

Esses são só alguns dos exemplos mais clamorosos, mas há milhares. Não centenas, eu disse milhares.

Daqui por diante, portanto, a cada vez que a grande mídia falar em blogueiros e jornalistas “chapas-brancas” ou em “liberdade de imprensa para criticar o Poder”, você, leitor, jornalista ou blogueiro já está bem ciente do que pode argumentar a fim de encerrar e vencer a discussão: a liberdade de expressão que a mídia quer é só para si, enquanto prega censura e prisão para os que dela divergem.


Desemprego no Brasil despenca

Da Agência Brasil

Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O nível de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país ficou em 4,7% em dezembro do ano passado e, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados hoje (26), foi a menor taxa para o mês de dezembro e de toda a série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego, iniciada em março de 2002. Em novembro de 2011, a taxa ficou em 5,2% e em dezembro de 2010, em 5,3%.
Com o resultado de dezembro, o desemprego em Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre fechou o ano de 2011 em 6%, também a menor média anual desde 2003, de 12,4%.
A pesquisa mostra que em dezembro de 2011 havia menos 119 mil pessoas desocupadas, uma queda de 9,5% em relação a novembro, e de 9,4% na comparação com dezembro de 2010. Em todo o ano de 2011, os desocupados somaram, em média, 1,4 milhão de pessoas, enquanto em 2003 eram 2,6 milhões de desocupados.
Já a população ocupada em dezembro, de 22,7 milhões, manteve-se estável em relação a novembro e apresentou um leve aumento, de 1,3% na comparação com dezembro de 2010.
O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado também não registrou variação na passagem de novembro para dezembro, mas aumentou em 6% na comparação com dezembro de 2010, significando um aumento de 638 mil postos de trabalho formais no período de um ano.
“Esses resultados levaram, na média de 2011, a um recorde na proporção de trabalhadores com carteira assinada (10,9 milhões) em relação ao total de ocupados: 48,5%, frente a 46,3% em 2010 e 39,7% em 2003”, informou o IBGE.
Ainda em dezembro do ano passado, o rendimento médio real dos trabalhadores foi de R$ 1.650. Segundo o IBGE, foi o valor mais alto para o mês de dezembro desde 2002. A alta foi de 1,1% em relação a novembro e de 2,6% frente a dezembro de 2010.
Edição: Lílian Beraldo

Uma mentira se torna verdade pela repetição

Da Carta Capital

Matheus Pichonelli

Pinheirinho, campo de guerra

‘Não estou lá para saber’

O governo Alckmin só não fez chover durante a expulsão das 1,3 mil famílias do assentamento Pinheirinho, em São José dos Campos. Fora este detalhe, todas as leis da ciência e da lógica foram desafiadas no episódio.

No despacho judicial que autorizou a ação militar do Estado não constava a ordem “faça-se a chuva”. Mesmo assim, bastou uma canetada para provocar uma fileira com centenas de desalojados, tão comuns nessa época do ano, a estação chuvosa. As cenas pareciam repetição de tragédias naturais recentes: famílias deixando suas casas, e se abrigando em igrejas com o que conseguem carregar na enxurrada.

"Não deu tempo de pegar nada. Eles disseram: deixa tudo aí, depois vai voltar para buscar. Peguei o que deu", relata moradora

Coube ao governo decretar a calamidade, colocando todo seu efetivo policial nas ruas para, em tese, garantir a ordem. A ordem pelo caos. Detalhe macabro: chovia e fazia frio quando as famílias deixaram suas casas, sob o som das bombas e a sombra dos cassetetes.

E se após janeiro de 2012 os livros escolares disserem que um governo ou juiz não pode, com uma canetada, decretar uma tempestade, será bom desconfiar. Porque o excerto deverá conter um asterisco: a exceção é o estado de São Paulo.

“O que fizemos foi cumprir a lei”, saíram espalhando aos quatro ventos os responsáveis pela ação. E não houve violência policial – e desta vez quem é desafiada é a lei da física: a luz e a imagem projetada.

Porque, no discurso oficial, a lei foi cumprida e a legalidade, instaurada. E o que se vê no abrigo improvisado na igreja da cidade é tudo menos calma. E se a responsabilidade é cuidar da lei, e não de gente, soa inútil perguntar à secretária estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania se houve excesso policial, como fez o jornal Estado de S.Paulo. Se perguntar, ela te dirá: “Não estou lá para saber”.

Na mesma e inacreditável entrevista, Eloisa Arruda só faltou dizer que faltou à cena por medo de sujar o sapato na lama, tal a frieza nas respostas e o distanciamento do episódio. “Pelo que tenho conhecimento, as famílias estão alojadas e têm possibilidade de retirar pertences. Vivemos o império da lei”. E mais: “Uma ordem judicial foi cumprida e a polícia usou os recursos necessários”.

Se estivesse lá, talvez mudasse sua opinião a respeito das palavras “espancamento” e “abuso”, que ela e o chefe tanto hesitam em cravar.

Na mesma linha, o prefeito Eduardo Cury (PSDB) também jura que tudo está tudo muito bem, obrigado. E que, nas mãos dos policiais, todos estão mais seguros – apesar dos hematomas, faltou dizer. “Diversas famílias estão saindo do Pinheirinho por conta própria e pedindo apoio para retornarem às cidades de origem”, garante ele, via Twitter.

O esforço pelo convencimento flerta com a tragicomédia. Dizem que uma mentira se torna verdade pelo esforço da repetição. Sob o governo tucano, a citação ao exercício é quase pleonasmo.

No Pinheirinho, a briga não é mais contra os sem-teto que um dia ousaram ocupar um terreno da massa falida que já pertenceu a Naji Nahas, o megaespeculador que frequentou mais a carceragem da Polícia Federal do que o bairro popular.

A briga é com as imagens, projetadas de uma forma e transmitidas, na boca das autoridades, de outra: enquanto as autoridades louvam a operação bem-sucedida, fotos e vídeos do mundo real vazam por rachaduras virtuais.

Vai ver são apenas miragens as fotos e testemunhos de moradores queixando-se da proibição de voltar para as casas, recuperar os bens, antes que um trator chegue e deite tudo ao chão. E das crianças fechando olhos e boca em meio à fumaça de gás lacrimogênio. Ou a queixa do secretário nacional de Articulação Social, que foi conferir a expulsão in loco e foi recebido com um tiro de borracha.

Pela internet, vemos o cartão de boas vindas do cumprimento de ordens: no centro de triagem montado pela prefeitura para atender os desabrigados, quatro policiais seguram e aplicam sete golpes de cassetete contra um homem desarmado. Ele também era um perigo à legalidade? Não importa. Em São Paulo, é assim que se cumpre a lei e se instaura a ordem.

E se as leis da ciência exata foram desafiadas pelas autoridades no episódio, ao menos uma máxima histórica saiu sem sequer um arranhão. A história é contada pelos vencedores. E os vencedores estão longe dos abrigos da igreja. Longe, como a secretária que “não estava lá para saber”.
 
 

Lábia Universal - Reportagem

Da Carta Capital

Por Rowan Moore Gerety

As autoridades dão um tratamento opaco aos processos criminais contra a Iurd, afirma ativista de direitos humanos. Foto: Rowan Moore Gerety

Poucos lugares do planeta fornecem terra mais fértil para uma mensagem de cura e prosperidade do que Moçambique. Com 90% da população tentando sobreviver com menos de dois dólares por dia, com metade das crianças sofrendo com desnutrição crônica, o país africano tornou-se um poderoso centro de captação de adeptos para a Igreja Universal do Reino de Deus, a Iurd.

Um exemplo do poder que a neopentecostal brasileira adquiriu em Moçambique ocorreu numa manhã de setembro de 2011. A Iurd promoveu o chamado “Dia de Decisões” (ou “Dia D”), um megaculto realizado no Estádio Nacional de Maputo, capital moçambicana. Teve como objetivo promover curas e demonstrações de fé e, claro, atrair novos fiéis. A igreja reuniu 42 mil pessoas no local e ainda viu outras 30 mil se aglomerarem do lado de fora, acompanhando via telão. As pessoas carregavam rosas nas mãos, símbolo do evento. A compor a massa estavam, entre ou-tros desesperados, jovens vítimas de poliomielite com suas bengalas, camponeses idosos descalços e vendedores ambulantes a sonhar com uma recompensa maior.

O megaculto marcou um ano lucrativo para a Iurd em Moçambique. O canal de televisão da igreja, a TV Miramar, ratificou-se como a líder de audiência. O seu apóstolo, Edir Macedo, foi recebido pelo presidente, Armando Guebuza. O chamado “Cenáculo da Fé”, um megatemplo para cultos, foi inaugurado em Maputo. E, por último, a concentração de populares no Dia D, que contou com a presença do primeiro-ministro Aires Ali e da ministra da Justiça, Benvinda Levy, entre outros figurões da política local.

Durante 20 anos de existência em Moçambique, a Iurd cresceu sempre além das expectativas e apesar das vozes contrárias de seus críticos. Nos primeiros anos da expansão, a Iurd enfrentou o então ministro de Cultura e Desporto, Mateus Katupha, que criticou o uso de instalações esportivas para eventos religiosos (enquanto seu atual sucessor presenciou o Dia D in loco). Em meados dos anos 1990, o falecido Carlos Cardoso, estrela do jornalismo moçambicano, publicou uma série de editoriais dizendo que a Iurd constituía uma empresa, ao invés de uma igreja, e como tal, deveria ser sujeita a impostos. -Concorrentes do canal Miramar – a TIM e a STV – têm feito reportagens sobre ex-fiéis da Iurd que entregaram as suas casas à igreja, na esperança de recompensas divinas.

Até hoje, epítetos como “Pastores Ladrões” e a “Igreja de Burla” (fraude), em homenagem à Universal, ecoam nos transportes públicos em Maputo. Descontentes com a igreja de Edir Macedo existem aos borbotões.

Num grupo de coral de outra igreja, a reportagem encontrou três personagens que lamentam ter participado dos quadros da Iurd. Graça entregou um crédito bancário no altar da Iurd para resolver um conflito com seu marido. Selma, que procurou seu filho durante 20 dias na Suazilândia e, aconselhada por um pastor, doou 1,2 mil dólares à igreja antes de tomar conhecimento do seu assassinato. E Felicidade, que interrompeu a construção da sua casa e deixou 25 sacos de cimento no quintal da igreja para se beneficiar de uma bênção anônima.

As três senhoras recordavam as exortações, entrevistas individuais e visitas à casa feitas pelos pastores da Universal, prática posteriormente considerada pelas três como mecanis-mo de manipulação.

Apesar das críticas, a Iurd estabeleceu-se como um ancoradouro na corrente principal da sociedade moçambicana. Nenhuma das queixas-crimes apresentadas contra a Iurd já logrou uma decisão judicial. A TIM e a STV cobram alto pelo enquadramento dos spots da Iurd em suas programações. A imprensa independente, apesar dos comentários ocasionalmente mordazes contra ela, deixa-se subsidiar pela propaganda. Um anúncio recente mostra um grupo de fiéis levantando retratos do presidente Guebuza durante uma “oração pela paz” da Iurd.

Tensões antigas com membros do gover-no foram resolvidas por meio de uma sutil simbiose com a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o partido no poder. “Certo, há muitos críticos”, assentiu José Guerra, fundador e presidente da Iurd em Moçambique. “Mas a Igreja fica mais cheia todos os dias.”

Para o Dia D, a estratégia de coerção da Universal assumiu o estilo das campanhas eleitorais. Caminhões com alto-falantes percorreram de forma constante os bairros de Maputo durante dois meses, tocando uma quizomba (música típica) sob encomenda.
A base da publicidade era um pôster, onipresente nas paredes e nos esgotos de Maputo, demonstrando o poder cura-tivo da fé: um par de pés coberto de repugnantes lesões (“Antes”) e, do outro lado, outro par, saudável e sem mancha nenhuma (“Depois”). “Meu nome é Armando”, anunciava o cartaz. “Sofri com feridas nos pés durante muito tempo. Mas, no dia em que tomei a decisão de participar de uma concentração de fé, fui curado e hoje estou livre.”

A Iurd foi a primeira igreja evangélica a se implantar em Moçambique, depois da longa e devastadora “Guerra de Desestabilização” (1976-1992).

A memória da antipatia marxista à religião, durante os primeiros anos da independência e do catolicismo paternalista do estado colonial, permitiu que a Iurd encontrasse um povo aberto a uma nova forma de expressão religiosa. Ganhou adeptos com o mesmo discurso existente no Brasil: a flexibilidade das suas orações, a ausência de regras fixas para os fiéis e, acima de tudo, pela grandeza da sua promessa de transformação pessoal.

Para cativar os fiéis, a Universal utiliza-se das mesmas mandingas e talismãs típicos das religiões afro de Moçambique, justamente as que tanto criticam por, na visão da própria Iurd, promoverem “feitiçaria”. A utilização de um óleo abençoado e um tratamento espiritual à base de envelopes com dicas a seguir (e pedidos de donativos) são de praxe. “Eles entendem de feitiçaria e tradição africana muito bem. Dão incensos, pulseiras e todas as coisas que um curandeiro dá”, afirma o Pastor Claudio Mulungo, da concorrente Igreja Maná.

A Igreja Universal, como a própria admite, tem a ousadia de prometer milagres a quem tiver a ousadia de pedi-los com convicção – muitos deles ambíguos e presenciados pela reportagem.

E todos os “milagres” do Dia D tenderam ao “infalível” frente às câmeras do Miramar. Um idoso com dores crônicas nas pernas conseguiu correr e tornou-se, nas palavras do pastor acompanhante, um paraplégico curado. Quando voltou a sentar, o senhor me confiou, em voz baixa, que seus pés recomeçaram a doer. Na lógica da Iurd, não “ser abençoado” ou não se beneficiar de um milagre qualquer significa um sacrifício insincero, uma fé insuficiente por parte do fiel. Os milagres malogrados (como o de um rapaz em cadeira de rodas, acorrentado a um cateter, a quem o testemunho público nem foi proposto, apesar do esforço feito para se levantar) não são divulgados. O mais importante é mostrar o sentimento do possível, de acreditar numa inversão da pers-pectiva calvinista: quem for um crente perfeito terá recompensa sem limite.

Dois dias antes do Dia D, Alice Mabota, presidente da Liga Moçambicana de Direitos Humanos (LDH), folheou o Código Penal, detendo-se no crime de burla – obtenção dos bens de outrem por meios fraudulentos.

A aplicação da lei a donativos religiosos poderia estabelecer um prece-dente polêmico: os partidários da Iurd defendem-se de acusações de burla por invocarem a livre e espontânea vontade dos doadores. Porém, existem casos na Iurd, afirma Mabota, que se aproximam de contratos verbais.

O escritório de serviços paralegais da Liga em Maputo recebe, com regularidade, reclamações de burla contra a Iurd, mas os queixosos sempre desistem antes de levar os seus casos à Procuradoria. Algumas disputas laborais da Iurd (por dispensas ilícitas, dívidas à segurança social, discriminação entre moçambicanos e brasileiros) foram resolvidas por acordos de indenização em favor de ex-funcionários da igreja, que já gastou mais de 100 mil dólares com isso. Várias grandes empresas estrangeiras em Moçambique já foram penalizadas dessa forma. Porém, os poucos processos de crime já iniciados contra a Iurd, segundo Mabota, são reféns de uma instrução opaca por parte da Procuradoria.

“Em um Estado normal, (esses casos) receberiam uma decisão. Mas aqui, não. É por causa do poder de influência da igreja através do medo.” As atividades da igreja de Edir Macedo em Moçambique não parecem ter suscitado o menor interesse das autoridades tributárias. “Aqui, em Moçambique”, disse Felicidade, antiga integrante da Universal, “eles (a Iurd) fazem e desfazem, porque o nosso governo aceita.”
Alice Mabota enumerou vários membros influentes do governo adeptos da igreja de Macedo. “Por que nossos dirigentes a frequentam?”, interrogou-se.

“Para mim, é o governo a cuidar de si mesmo. Quando chega a hora de votar, eles vão mobilizar todo o povo da Igreja Universal para votar neles.”

Ela vê um padrão de exploração no discurso de esperança ilimitada e sacrifício material promovido pela Universal. “O que é que vão decidir no Dia D?”, perguntou-me, dias antes do evento: “Vão decidir ter marido, vão decidir ter emprego, vão decidir serem ricos. Acha que é verdade? Mas como dizer a uma pessoa que não tem instrução para não acreditar nisso se deseja tanto acreditar?”.

No Dia D, após a “hora dos milagres”, a multidão foi instruída para voltar para casa com as suas rosas, que atrairiam todo o ruim, todo o mal no ambiente, para depois as levarem a uma Igreja Universal no domingo seguinte, a fim de serem incineradas. “As coisas mudam pouco a pouco”, concluiu Amélia, uma fiel que esperava para partir na boleia de um caminhão.

“Não vale a pena mudar de igreja só por não ver um milagre todos os dias. O Dia me mostrou que Deus existe”, insistiu. Mas eu liguei dias depois para Amélia e, até hoje, sua rosa ficou em casa.

 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ainda mais popular - Pesquisa

Da Carta Capital

Matheus Pichonelli

Pós-Lula, mas ainda popular

O ano de estreia costuma ser cruel para um presidente da República. Em geral, o rosto do governo ainda não está definido, e, apesar do tempo ser insuficiente para promover grandes mudanças, o eleitor começa a dar os primeiros sinais de impaciência – seja em razão da possível demora nas reformas, seja pela rejeição a mudanças encaminhadas.

Números da economia explicam a aprovação do 1º ano de mandato de Dilma Rousseff, mas não só. Foto:Roberto Stuckert Filho / Presidência da República

Em seu primeiro ano, Luiz Inácio Lula da Silva mexeu em vespeiros, como o regime da Previdência e, ao mesmo tempo, manteve a ortodoxia econômica, com alta dos juros e demora para tirar do papel o projeto Fome Zero. Fechou o primeiro ano de mandato com 42% de aprovação (quase a metade do que iria alcançar ao fim de seu último ano como presidente).

Fernando Collor (23%), Itamar Franco (12%) e Fernando Henrique Cardoso (41%) também não agradaram a maioria da população em seus primeiros anos como presidente, em 1990, 1992 e 1995, respectivamente – sempre de acordo com o Datafolha.

A exceção parece ser Dilma Rousseff. Pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana mostra o governo da presidenta com avaliação superior a todos os antecessores desde a redemocratização.

Nos primeiros 12 meses de governo, 59% dos brasileiros diziam considerar sua gestão ótima ou boa. O índice supera o recorde de Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político, ao final do primeiro ano de seu segundo mandato, em 2007, quando era aprovado por 50% dos eleitores.

O instituto ouviu 2.575 pessoas em 159 municípios entre os dias 18 e 19 de janeiro.
Diante dos números, a maioria dos analistas parece ter chegado ao consenso: a economia explica tudo. Não é por menos. Em época de crise financeira nos países ricos, nada menos do que 46% dos entrevistados dizem acreditar que a situação econômica do País vai melhorar – e outros 37%, que fica como está, o que não é mau.

A esperança de aproveitar a onda é ainda maior: 60% das pessoas acreditam que vão melhorar as próprias condições econômicas, contra apenas 7% que dizem o contrário.
Os sinais de otimismo são explicados pelos números da economia acumulados em 2011. Apesar dos sinais de desindustrialização, a inflação ficou no teto da meta, a taxa de juros caiu, o nível de emprego se manteve estável e planos para a erradicação da miséria foram lançados.

Mas outras leituras também podem ser tiradas da pesquisa. Uma delas é que, diferentemente dos outros presidentes, Dilma recebeu a faixa de seu sucessor com a missão de dar continuidade a um governo bem avaliado.

Ao encerrar seu governo, Lula tinha 83% de aprovação. Em seu primeiro ato como ex-presidente, ao desembarcar em São Bernardo do Campo em 1º de janeiro de 2011, em um palanque improvisado em frente à sua casa, Lula pediu: “amem a Dilma como vocês me amaram”.

Funcionou. Se fosse uma corrida de revezamento, seria possível dizer que parte da popularidade da presidenta é rescaldo do bastão entregue pelo antecessor doze meses antes.

A Dilma do primeiro mandato é menos popular do que o Lula do último ano. Mas passou longe da queda livre apontada por muitos como destino certo da presidenta quando desse início ao seu voo solo, longe do carisma do antecessor.

Pelo contrário. Dilma, em um ano, teve tempo de imprimir sua marca.

A primeira – que pode não ser lembrada pela maioria da população – foi a da primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Ali, em tom mais enfático do que seu antecessor, falou sobre a situação de opressão vivida pelas mulheres em boa parte do planeta, lamentou a ausência da Palestina entre os Estados representados, exigiu mais representação na entidade e mandou uma reprimenda geral pela crise inventada pelos países ricos.

A segunda marca foi alcançada pela forma como lidou com as crises envolvendo seu primeiro escalão. Diferentemente de Lula, conciliador, Dilma preferiu não blindar os ministros na berlinda.

Com isso, ganhou pontos com parte uma parcela da classe média refratária ao antecessor. Em um ano, sete ministros deixaram o governo, seis por suspeitas de corrupção.

Dilma passou a ser bem avaliada tanto por quem estudou só até o ensino fundamental (61%) como por quem tem curso superior (59%). Entre quem ganha entre cinco e dez salários mínimos, ela ganhou 16 pontos em relação à última pesquisa.

Dilma hoje é considerada como uma pessoa “decidida”, “muito inteligente” e “sincera” por mais de 70% dos brasileiros. É aprovada até mesmo pela oposição: 40% dos eleitores que se dizem tucanos aprovam sua gestão. Em parte, por ter surpreendido ao levantar bandeira branca, afagar adversários e pregar parceria em Estados governados por tucanos.

Por algum motivo, em que pesem as críticas aos auxiliares diretos, Dilma passou o primeiro ano praticamente preservada das críticas de boa parte da imprensa.

Diferentemente de seu antecessor, que recebia críticas (e ganhava plateias) com metáforas sobre futebol, brincadeiras ou crítica aos rivais, Dilma assumiu uma postura menos emotiva e mais protocolar – portanto, menos polêmica. Tanto que as manchetes com frases atribuídas a ela são, quase sempre, insossas, se comparadas com a lista de frases de efeito proferidas por Lula no palanque ou em solenidades – e que prendiam a atenção da plateia do início ao fim.

Mas nem tudo era protocolo nas aparições públicas da presidenta. A imagem da “gerente” – muitas vezes pejorativamente ligada à “faxineira” que distribui broncas e se desfaz de ministros-problema como lastros – foi quebrada mais de uma vez, quando, por exemplo, ela foi às lágrimas ao lançar um plano para pessoas com deficiência ou quando pediu um minuto de silêncio pelas crianças assassinadas na chacina de Realengo, no Rio de Janeiro.

Porque ninguém é de ferro – e ninguém garante apoio da maioria da população só na base de números, broncas e protocolo.
 

A serviço da treva - Artigo

Da Carta Capital

Mino Carta

A serviço da treva

Âncora do Jornal Nacional da Globo, William Bonner espera ser assistido por um cidadão o mais possível parecido com Homer Simpson, aquele beócio americano. Arrisco-me a crer que Pedro Bial, âncora do Big Brother, espere a audiência da classe média nativa. Ou por outra, ele apostaria desabridamente no Brasil, ao contrário do colega do JN. Se assim for, receio que não se engane.

É que a Globo procura. Achou Daniel, que tem o mérito de ser contra as cotas. Foto: Frederico Rozário/TV Globo

Houve nos últimos tempos progressos em termos de inclusão social de sorte a sugerir aos sedentos por frases feitas o surgimento de uma “nova classe média”. Não ouso aconselhar-me com meus carentes botões a respeito da validade dos critérios pelos quais alguém saído da pobreza se torna pequeno burguês. Tanto eles quanto eu sabemos que para atingir certos níveis no Brasil de hoje basta alcançar uma renda familiar de cerca de 3 mil reais, ou possuir celular e microcomputador.

Tampouco pergunto aos botões o que há de “médio” neste gênero de situações econômicas entre quem ganha salário mínimo, e até menos, e, digamos, os donos de apartamentos de mil metros quadrados de construção, e mais ainda. Poupo-os e poupo-me. Que venha a inclusão, e que se aprofunde, mas est modus in rebus. Se, de um lado, o desequilíbrio social ainda é espantoso, do outro cabe discutir o que significa exatamente figurar nesta ou naquela classe. Quer dizer, que implicações acarreta, ou deveria acarretar.

Aí está uma das peculiaridades do País, a par do egoísmo feroz da chamada elite, da ausência de um verdadeiro Estado de Bem-Estar Social etc. etc. Insisto em um tema recorrente neste espaço, o fato de que os efeitos da revolução burguesa de 1789 não transpuseram a barreira dos Pireneus e não chegaram até nós. E não chegou à percepção de consequências de outros momentos históricos também importantes. Por exemplo. Alastrou-se a crença no irremediável fracasso do dito socialismo real. Ocorre, porém, que a presença do império soviético condicionou o mundo décadas a fio, fortaleceu a esquerda ocidental e gerou mudanças profundas e benéficas, sublinho benéficas, em matéria de inclusão social. No período, muitos anéis desprenderam-se de inúmeros dedos graúdos.

A ampliação da nossa “classe média”, ou seja, a razoável multiplicação dos consumidores, é benfazeja do ponto de vista estritamente econômico, mas cultural não é, pelo menos por enquanto, ao contrário do que se deu nos países europeus e nos Estados Unidos depois da Revolução Francesa. De vários ângulos, ainda estacionamos na Idade Média e não nos faltam os castelões e os servos da gleba, e quem se julga cidadão acredita nos editoriais dos jornalões, nas invenções de Veja, no noticiário do Jornal Nacional. Ah, sim, muitos assistem ao Big Brother.

Estes não sabem da sua própria terra e dos seus patrícios, neste país de uma classe média que não está no meio e passivamente digere versões e encenações midiáticas. Desde as colunas sociais há mais de um século extintas pela imprensa do mundo contemporâneo até programas como Mulheres Ricas, da TV Bandeirantes. Ali as damas protagonistas substituíram a Coca e o Guaraná pelo champanhe Cristal. Quanto ao Big Brother, é de fonte excelente a informação de que a produção queria um “negro bem-sucedido”, crítico das cotas previstas pelas políticas de ação afirmativa contra o racismo. Submetido no ar a uma veloz sabatina no dia da estreia, Daniel Echaniz, o negro desejado, declarou-se contrário às cotas e ganhou as palmas febris dos parceiros brancos e do âncora Pedro Bial.

A Globo, em todas as suas manifestações, condena as cotas e não hesita em estender sua oposição às telenovelas e até ao Big Brother. E não é que este Daniel, talvez negro da alma branca, é expulso do programa do nosso inefável Bial? Por não ter cumprido algum procedimento-padrão, como a emissora comunica, de fato acusado de estuprar supostamente uma colega de aventura global, como a concorrência divulga. Há quem se preocupe com a legislação que no Brasil contempla o específico tema do estupro. Convém, contudo, atentar também para outro aspecto.

A questão das cotas é coisa séria, e quem gostaria de saber mais a respeito, inteire-se com proveito dos trabalhos da GEMAA, coordenados pelo professor João Feres Jr., da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: o site deste Grupo de Estudos oferece conteúdo sobre políticas de ação afirmativa contra o racismo. Seria lamentável se Daniel tivesse cometido o crime hediondo. Ainda assim, o programa é altamente representativo do nível cultural da velha e da nova classe média, e nem se fale dos nababos. Já a organização do nosso colega Roberto Marinho e seu Grande Irmão não são menos representativos de uma mídia a serviço da treva.
 

Confronto antecipado

Da Carta Capital

Rodrigo Martins

Campo de guerra

Despacho para reintegração previa confronto entre polícias militar e federal

Ao ordenar a reintegração de posse do assentamento Pinheirinho, no município de São José dos Campos (SP), o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Ricardo Garisio Sartori, previu a possibilidade de enfrentamento entre a Polícia Militar e a Polícia Federal. É o que revela a leitura do despacho assinado pelo desembargador no sábado 21.

Justiça previa possibilidade de enfrentamento entre PM e PF

Ao autorizar o despejo das 1,3 mil famílias que ocupavam a área, Sartori destacou a necessidade de a PM paulista repelir “qualquer óbice que venha a surgir no curso da execução, inclusive a oposição de corporação policial federal, somente passível de utilização quando de intervenção federal decretada nos termos do art. 36 da Constituição Federal e mediante requisição do Supremo Tribunal Federal, o que inexiste (grifo do desembargador).”

Na ocasião, havia uma disputa entre as Justiças estadual e federal pela competência de decidir sobre o impasse. Somente na noite da segunda-feira 23 o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Ari Pargendler, considerou legal a decisão da Justiça paulista, que ordenou a reintegração de posse. O ministro negou o pedido de liminar feito pela União para validar uma decisão da Justiça federal que impedia a remoção das famílias.

No sábado 21, no entanto, o impasse ainda não estava resolvido. A 6ª Vara Cível de São José dos Campos havia decidido pela reintegração de posse, mas ainda era válida a decisão da Justiça Federal pela suspensão do despejo.

Mesmo antes de o STJ, a instância superior, decidir sobre a competência do caso, o desembargador Sartori ordenou o “imediato cumprimento” da ordem expedida pela Justiça paulista, ainda que a Polícia Federal pudesse se colocar contra a remoção das famílias.

O desfecho da história é conhecido: às seis da manhã de domingo, os policiais militares pegaram os moradores desprevenidos e ordenaram, com uso da força e de bombas de efeito moral, a remoção das famílias – a maioria, apenas com a roupa do corpo, levada a abrigos improvisados. Até agora nem estado nem a prefeitura explicaram aos moradores por que a área deveria ser evacuada naquelas condições.

"Não deu tempo de pegar nada", relata moradora

CartaCapital procurou o desembargador Sartori para pedir esclarecimentos sobre o despacho, que indica a possibilidade de enfrentamento entre as forças de segurança do estado e da União.

A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo informou que apenas o desembargador Rodrigo Capez, designado por Sartori para acompanhar a reintegração de posse, poderia se pronunciar sobre o caso.

A assessoria de Capez ainda não respondeu ao pedido de entrevista.
 

Lula no Planalto

Da Agência Brasil

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, na tarde de hoje (24), no Palácio do Planalto, da cerimônia em que a presidenta Dilma Rousseff deu posse aos novos ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp.

Usando um chapéu preto e uma gravata vermelha, Lula desceu a rampa interna do Palácio do Planalto, que dá acesso ao salão onde ocorreu a cerimônia que marcou a despedida do ministro da Educação, Fernando Haddad. É a segunda vez que Lula retorna ao Palácio do Planalto após deixar a Presidência da República em 1º de janeiro do ano passado. Ele esteve no palácio em março de 2011, para participar do velório do ex-presidente José Alencar.

Em discurso, Dilma se disse emocionada por receber o ex-presidente no Planalto. “É um enorme prazer receber aqui o presidente Lula”, afirmou a presidenta. “Temos que reconhecer de público que a estratégia de democratizar o acesso à educação foi do senhor", acrescentou Dilma.

Edição: Nádia Franco


Ministro sai emocionado

Da Agência Brasil

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil


Brasília – Durante a cerimônia de posse de Aloizio Mercadante no Ministério da Educação, o agora ex-ministro Fernando Haddad emocionou-se ao lembrar dos seis anos à frente da pasta e agradeceu pelo apoio que recebeu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff. Lula, que está em tratamento para combater um câncer na laringe, acompanhou a cerimônia nesta tarde, no Palácio do Planalto.
Haddad deixa o governo para disputar indicação do PT para concorrer à prefeitura de São Paulo.

“Foi uma honra iniciar os trabalhos na Educação pelas mãos de uma metalúrgico", disse Haddad. "Falo isso como professor universitário", acrescentou o ex-ministro, ressaltando que teve "apoio incondicional" tanto no governo Lula, quanto agora com a presidenta Dilma.

"Pude apresentar projetos ousados, sonhar com um país diferente e ver esse sonho se tornar gradualmente em realidade, a ponto de elevar a esperança do mais humilde jovem”, destacou Haddad, em referência aos alunos formados pelo Programa Universidade para Todos (ProUni).

O ex-ministro fez um agradecimento especial ao Congresso Nacional que, segundo ele, teve uma visão suprapartidária ao aprovar mais de 50 projetos de lei e duas propostas de emenda à Constituição (PECs) encaminhados pelo Ministério da Educação nos últimos anos. Ele citou a PEC que incluiu a pré-escola e o ensino médio na escolaridade obrigatória.

Haddad também lembrou o pacto feito com os prefeitos e governadores que aderiram ao Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que estabeleceu metas de qualidade a serem alcançadas por todos os sistemas de ensino até 2020.

“Hoje o Brasil é o único país que tem metas quantitativas para a educação, mas também metas qualitativas. Nós vivemos uma década auspiciosa até 2010 e viveremos mais uma década, avançando ainda mais sob o comando da presidenta Dilma. Se o Brasil mantiver o rumo, nós vamos erradicar a pobreza, educar nossa gente e garantir oportunidades a todos os cidadãos brasileiros”, disse.
Ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Mercadante destacou que assume o MEC com honra, mas que será um grande desafio continuar o trabalho da gestão anterior. Mercadante foi breve no discurso e não adiantou suas prioridades à frente do MEC. Segundo ele, esses assuntos serão discutidos hoje à noite na cerimônia de transmissão de cargo. O cientista Marco Antônio Raupp tomou posse na pasta da Ciência, Tecnologia e Inovação.

“A história será escrita pelos historiadores, mas não vejo como seu nome [Haddad] não possa estar entre os grandes ministros da Educação por sua capacidade de expandir oportunidades da pré-escola à pós-graduação, de construir programas inovadores e criativos”, afirmou Mercadante, agradecendo o apoio da presidenta Dilma e a presença do ex-presidente Lula.

“Aprendi muito [com a Dilma] e sei que vou continuar aprendendo. Foi uma honra e um aprendizado inédito trabalhar com essa eficiência e esse rigor que o Brasil precisa”, disse.

Edição: Nádia Franco

Ainda ontem, tensão no Pinheirinho

Do Correio do Brasil

Pelo segundo dia consecutivo, moradores e a Polícia Militar entraram em confronto durante a reintegração de posse na ocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). A polícia atirou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para conter a multidão que resiste à reintegração, e todos se dispersaram. Instituições da sociedade civil organizada, no entanto, têm realizado uma série de protestos, nas principais capitais brasileiras, em solidariedade aos moradores do assentamento invadido pela PM.

Pinheirinho
Polícia desocupa comunidade em São José dos Campos

Durante a manhã desta segunda-feira, a Polícia está lacrando os imóveis e colocando etiquetas nos pertences dos moradores, para que um caminhão da prefeitura recolha os objetos e os leve para um depósito da empresa Selecta, do mecaespeculador libanês naturalizado brasileiro Naji Nahas, proprietário da área.

Na área ocupada irregularmente há oito anos viviam cerca de 6 mil pessoas, das quais apenas 600 procuraram centros de triagem da prefeitura alegando não ter para onde ir. O restante está pelas ruas do bairro Comando dos Alemães, próximo ao Pinheirinho. Pelo menos 32 pessoas já foram detidas.

A ação de reintegração de posse começou na manhã de domingo e cumpre determinação da Justiça estadual de São Paulo em benefício da massa falida da empresa Selecta. Os ocupantes da área dizem ter uma decisão do Tribunal Regional Federal contra a reintegração.