quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CPI dos incendios em favelas de SP esvaziada

Da Rede Brasil Atual

Subprefeitos de Lapa, Sé e Vila Mariana compareceram para prestar esclarecimentos, mas a reunião sequer pôde ser iniciada: apenas três vereadores apareceram e não houve quórum
 
Publicado em 31/10/2012

São Paulo: sem investigação, Câmara cogita encerrar CPI sobre incêndios em favelas
Formada por vereadores da base do governo Gilberto Kassab, CPI não consegue quórum para se reunir (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

São Paulo – “Como só nós três viemos, não podemos fazer a reunião.” Foi assim que o vereador Ricardo Teixeira (PV) anunciou o cancelamento de mais um encontro da CPI sobre incêndios em favelas da capital. “A gente quer investigar, mas não aparece ninguém”, lamenta, sinalizando que a comissão não sobreviverá se mais um encontro tiver que ser cancelado por falta de quórum. “Ou a próxima sessão ocorre ou vamos acabar com a CPI.”

Instaurada em 11 de abril pela Câmara Municipal de São Paulo para investigar as causas dos mais de 600 incêndios que atingiram favelas em diversas regiões da cidade desde 2008, a Comissão Parlamentar de Inquérito conseguiu reunir-se apenas quatro vezes até agora. Os encontros deveriam ocorrer quinzenalmente, às quartas-feiras, mas, como o de hoje (31), têm sido cancelados uma e outra vez por falta de quórum. Talvez por isso pouca gente tenha se dado ao trabalho de ir até o Palácio Anchieta, no centro da cidade: além de assessores da própria Casa, apareceram apenas um par de repórteres e uma militante da Pastoral de Moradia.

Quanto aos vereadores, assinaram a lista de presença Ricardo Teixeira, presidente da comissão, Edir Sales (PSD), vice-presidente, e Toninho Paiva (PR). O quarto e último membro nomeado da CPI, Ushitaro Kamia (PSD), não deu as caras – e sua ausência impediu o início dos trabalhos. Há outras duas vagas previstas para o colegiado, mas elas estão em aberto após outros integrantes da base aliada ao prefeito Gilberto Kassab (PSD) pedirem o desligamento dos trabalhos. Os convidados foram dispensados e quem se deslocou até a Câmara para assistir à discussão pôde aproveitar apenas a refrescância do ar condicionado num meio-dia de sol forte.

De acordo com a agenda da CPI, dois subprefeitos iriam prestar esclarecimentos à Câmara. E três apareceram: Manuel Antonio da Silva Araújo, da Vila Mariana; Nevoral Alves Bucheroni, da Sé; e Ailton Araújo Brandão, da Lapa. Todos são coronéis reformados da Polícia Militar e se apresentaram pontualmente para responder aos questionamentos da comissão. O vereador Ricardo Teixeira pediu desculpas pela “perda de tempo” e rogou aos subprefeitos que ao menos deixassem à secretaria da CPI os documentos, laudos e relatórios que trouxeram sobre os incêndios ocorridos nas favelas das regiões que administram.

Há vagas

“É uma situação constrangedora para nós que viemos”, conta a vereadora Edir Sales. Diante das “sérias dificuldades” para conseguir quórum e, assim, realizar as reuniões, a parlamentar sugere que as próximas CPIs instauradas pela Câmara sejam compostas por vereadores com conhecimento no tema. “Eu nunca fiz parte dos Bombeiros, não sou da Polícia Militar nem da Polícia Civil, não sou da Guarda Civil Metropolitana”, afirma. “Já era para eu ter passado minha vaga para outras pessoas, já deixamos nosso espaço à disposição, mas não conseguimos ninguém para ficar no lugar.”

O presidente da CPI informa que atualmente há três cadeiras vazias na CPI dos incêndios em favelas – e que vazias permanecem porque nem PSD nem PSDB nem PCdoB indicam vereadores para ocupá-las. “O PT tinha duas vagas, mas abriu mão para PSD e PCdoB. A vereadora Juliana Cardoso (PT) manifestou interesse em assumir a vaga do PCdoB, mas até agora não veio.”

Presente à que seria a quinta reunião da comissão, Toninho Paiva levantou a hipótese de que a CPI tenha sido utilizada com fins eleitoreiros por alguns movimentos sociais. “Várias reuniões tiveram a frequência de outras pessoas. Hoje, após o término das eleições municipais, as mesmas pessoas que reivindicavam, que vieram pra tumultuar muitas vezes, não estão presentes aqui”, observou. “Então, não sei qual é o interesse que os trouxeram pra cá nas outras oportunidades. Hoje não estão.” No encontro anterior, ele insinuou que os próprios moradores das favelas sejam os culpados pelas ocorrências.

Fim

Diante de mais um fiasco, foi o vereador do PR quem primeiro sugeriu a extinção da CPI – proposta que foi prontamente aceita pelos demais parlamentares. Agora, os membros da comissão farão um requerimento ao presidente da Câmara Municipal, José Police Neto (PSD), para convocar uma reunião de líderes e discutir a questão. Seria uma espécie de xeque-mate aos partidos, uma última chance de indicarem vereadores para assumir as vagas remanescentes na CPI. Caso contrário, os membros vão reunir o material que juntaram até agora e finalizar os trabalhos.

A próxima reunião está marcada para o dia 7 de novembro. Estão convidados dois comandantes do Corpo de Bombeiros e o secretário-adjunto da Habitação de São Paulo. “Está previsto na programação da CPI ouvir líderes comunitários e visitar as favelas, mas a gente não consegue nem oficializar um requerimento pra fazer isso”, lamenta Ricardo Teixeira. “Eu sou o vereador proponente da matéria e queria investigar, porque não acredito em acaso. Agora, por que não anda?” Até o momento, essa pergunta segue tão sem resposta como a causa dos incêndios.


MS nega socorro à indio Guarani

Do VioMundo

Guarani-kaiowá comete suicídio e MS se nega a prestar atendimento

MPF/MS: Estado se recusa a prestar atendimento emergencial nas aldeias de MS
via e-mail

Negativa da Polícia Civil em registrar ocorrência de suicídio no último final de semana ilustra descaso do governo estadual com população indígena

Mais um jovem guarani-kaiowá cometeu suicídio em Mato Grosso do Sul. Agripino da Silva, de 23 anos, foi encontrado morto na madrugada do último sábado (27) no acampamento Ypo’i, localizado no interior da Fazenda São Luiz, em Paranhos/MS.

A Polícia Civil, ao ser acionada, se recusou a comparecer ao local para realizar perícia e registrar Boletim de Ocorrência (BO), sob o argumento de se tratar de área em litígio. O corpo foi retirado do acampamento por uma funerária – após requisição enviada por e-mail pela Delegacia da Polícia Civil de Paranhos – e encaminhado ao Instituto Médico Legal de Ponta Porã para exame pericial.

O caso, além ilustrar os recorrentes suicídios nas comunidades indígenas do cone sul de MS, também elucida a falta de apoio policial e de segurança pública nas aldeias do estado, especialmente quando se trata de atendimento emergencial (190).

Para reverter essa situação e assegurar o direito constitucional à segurança, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou uma ação civil pública contra o Estado de Mato Grosso do Sul. A ação busca mudar o entendimento da Procuradoria-Geral do Estado que, em ofícios encaminhados às Polícias Civil e Militar, determina que os órgãos policiais não realizem atendimento às comunidades indígenas, seja ele emergencial ou preventivo, com a alegação de se tratar de competência exclusiva da Polícia Federal.

No entendimento do MPF, “o fato da Terra Indígena ser bem da União não torna os índios propriedade ou interesse desta, sujeitos, portanto, à competência federal”. A tese do MPF é reforçada na prática: delitos em detrimento da vida, patrimônio, honra e integridade praticados pelos índios são julgados pela Justiça Estadual e não Federal.

“O fato de serem índios não lhes atribui qualquer diferenciação na hora de serem julgados, desse modo, o atendimento emergencial aos indígenas não deve ser tido como uma exceção à regra, mas, também para eles, deve incidir a mesma regra que recai sobre os demais cidadãos”, destaca a ação.

Ausência

Na última quarta-feira (24), foi realizada na Justiça Federal de Dourados, audiência de conciliação para tentar solucionar a falta de atendimento emergencial nas aldeias. Estavam presentes representantes do MPF, Advocacia Geral da União, Procuradoria da União, Funai, Superintendência da Polícia Federal e lideranças indígenas. O governo do Estado, também convocado pra audiência, não compareceu.

Apesar da negativa em tratar do assunto, os índices de violência entre os guarani-kaiowá continuam elevados. Entre 2010 e setembro de 2012 foram registrados, apenas na Reserva Indígena de Dourados, 71 homicídios.

“É interessante observar que os indígenas são ignorados no atendimento policial, mas inclusos nas estatísticas do governo quando da solicitação de verbas federais para policiamento na fronteira. A fiscalização fronteiriça é expressamente privativa da União, mas curiosamente, neste caso, o Estado nunca alegou incompetência para realizar”, destaca o procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida.

Bloqueio de verbas

Diante do tratamento desigual, o Ministério Público Federal (MPF) em Dourados também ajuizou ação para garantir policiamento preventivo nas aldeias, em especial na Reserva Indígena de Dourados. O MPF pede à Justiça o bloqueio de verbas federais destinadas ao governo do Estado até a execução do Plano de Policiamento Comunitário nas Aldeias.

O plano foi definido em agosto deste ano, após assinatura de Acordo de Cooperação Técnica entre a União e o Estado de Mato Grosso do Sul – realizada em março de 2012. O projeto, entretanto, sequer começou a ser implantado, pois, segundo o governo do Estado, seriam necessários quase R$ 3 milhões de reais – de verbas exclusivamente federais – para sua execução.

Incluídos nos dados, excluídos dos benefícios

Em paralelo ao Plano de Policiamento, investigação do MPF identificou convênio entre a União e o Estado de MS no montante de R$ 20 milhões. Os recursos seriam utilizados no controle e fiscalização das fronteiras e o valor do repasse foi definido com base em índices de violência e de habitantes a serem alcançados pelo convênio.

Na região sul de Mato Grosso do Sul, área de fronteira com o Paraguai, são mais de 44 mil índios guarani-kaiowá que sofrem com um dos mais elevados números de homicídios e de suicídios do país. No entendimento do MPF, parte deste montante deveria ser destinado à segurança nas aldeias – que integram a região fronteiriça e, reconhecidamente, possuem alto índice de violência.

“O Estado, sabendo de suas reais necessidades em proteger a população indígena, condiciona a prestação de serviços de segurança pública a esses povos ao repasse de quase R$ 3 milhões pela União quando, por outro lado, e argumentando beneficiar diretamente toda a população fronteiriça, recebe quase R$ 21 milhões em repasses de verbas federais para alcançar os mesmos objetivos”, destaca o MPF.

Na ação, o Ministério Público Federal pede o bloqueio de 3 dos 20 milhões de reais transferidos pela União ao Estado. O valor corresponde à verba necessária para a implantação da Polícia Comunitária nas aldeias.


Na mídia, PT perde até quando ganha

Este vai em homenagem ao meu incômodo no último domingo assistindo ao Globo News. O esforço para falar das derrotas do PT foram hercúleos durante toda a cobertura.


Na mídia, Lula e PT perdem até quando ganham de lavada



O PT saiu das eleições municipais de 2012 como o grande vencedor. Menos na mídia. Tudo bem que o PSB – que, não nos esqueçamos, integra a base do governo Dilma – cresceu bastante, mas o grande vencedor é o PT. Se não, vejamos: governará o maior número de munícipes – não confundir com municípios – e as cidades mais importantes.

Aliás, o PT, além de passar a governar mais pessoas nos municípios e de ter conquistado a dita “jóia da coroa” (São Paulo), teve forte aumento do número de prefeituras, saindo-se muito melhor neste ano do que em 2008.

Apesar disso, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e o senador Aécio Neves afirmaram há poucos meses, com a conivência do colunismo midiático, que o PT iria se transformar, neste ano, no “partido dos grotões”.

O que engrandece ainda mais a vitória impressionante do PT em 2012, então, por contraditório que pareça é o julgamento do mensalão. Quantas “análises” você leu na mídia, leitor, no sentido de que o partido sofreria um forte baque eleitoral por estar sendo julgado pelo STF?

Dessa forma, o que a mídia e os “petistas arrependidos” fazem é fatiar o processo eleitoral de 2012. Lula e o PT ganham, mas perdem. As derrotas ganham muito mais peso do que as vitórias. É como se o partido e seu grande líder fossem os únicos que não venceram em toda parte. Cobram deles o que não existe em democracia alguma.

Pode contar, leitor: manchetes, artigos e colunas que associam o PT a derrotas superam largamente os textos que o associam a vitórias.

Enquanto isso, nenhum grande veículo discute a fundo o partido que mais perdeu – não por ter sido de fato o que mais perdeu, mas por conta das expectativas, pois se esperava que o PSDB tivesse vitória folgada em São Paulo e que no resto do país lucrasse com o julgamento.

Assim mesmo, quantas manchetes você viu aludindo à derrota estrondosa do PSDB em 2012? Sim, porque, além de encolher em número de governados e prefeituras, o partido perdeu o maior orçamento municipal do país. Isso sem falar que seu político com mais votos – os quais deve muito mais à mídia do que a si mesmo – ficou sem qualquer expectativa de relevo.

A mídia e a oposição demo-tucana diziam que o PT viraria um “partido dos grotões” porque só conseguiria vencer no Norte e Nordeste. De repente, as cidades nortistas e nordestinas em que esses partidos de oposição venceram passaram de grotões a grandes metrópoles. Manaus, por exemplo, virou “importante conquista”.

Nada contra Manaus – muito pelo contrário. Mas daí a considerar que vencer uma eleição lá é uma “grande vitória”, vai uma distância imensa.

A direita midiática e os “petistas arrependidos” também fatiam o PT e separam Dilma e Lula do partido. Na Band, no domingo, os “analistas” disseram que Dilma foi a grande derrotada porque “perdeu em todos os lugares em que apoiou alguém”, como se, tanto quanto Lula, não tivesse apoiado Fernando Haddad.

O Globo chegou a fazer até uma manchete principal de primeira página falando da “derrota” de Lula – no Nordeste. Em 2008, porém, quando o PT venceu mais no Nordeste, este, no PIG, não significava nada diante de São Paulo e outras cidades do Sul “Maravilha”.

A pergunta que se deve fazer para saber que partido teve o melhor desempenho em 2012 é uma só: qual partido atraiu o maior número de eleitores e qual administrará o maior volume de dinheiro dos orçamentos municipais? Ponto.

Essa história sobre “derrota” de Lula e do PT, porém, não visa convencer a sociedade de que os vencedores, na verdade, perderam. A discussão visa apenas não discutir a derrota da oposição, pois uma análise séria mostra que PSDB e DEM colheram muito mais resultados negativos do que positivos.

Sim, na mídia Lula e o PT não vencem nem quando suas vitórias são estrondosas como a deste ano. Mas de que vale vencer na mídia se o que ela diz sobre política a expressiva maioria não leva a sério? Perder na mídia, aliás, vai se tornando sinônimo de vencer nas urnas. Daqui a pouco vai ter político brigando com ela pra ver se ganha popularidade.


Barbaridades na Câmara Municipal de Piracicaba

Do Luiz Nassif, aqui e aqui

Por Gunter Zibell - SP
Do G1


Funcionário do MP foi expulso do prédio por PM e por guarda municipal. Segundo o presidente da OAB, ato foi 'exagerado' e desafia Constituição.

O funcionário do Ministério Público em Piracicaba (SP) Regis Montero foi expulso do plenário da Câmara na noite desta segunda-feira (29) por não ficar em pé durante a leitura de um trecho da Bíblia. A sessão chegou a ser interrompida pelo presidente do Legislativo João Manuel dos Santos (PTB) para a retirada do servidor, que foi levado pelo braço por um policial militar e por um guarda municipal. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) considera o ato inconstitucional.

Em imagens disponibilizadas no site da Câmara, o vereador André Bandeira (PSDB) começa a leitura da Bíblia quando foi interrompido pelo presidente da Casa. Santos pediu que o servidor que estava sentado ficasse em pé durante o ato ou que se retirasse. Após uma discussão, o manifestante foi expulso à força do prédio.

O presidente da Câmara afirmou que apenas cumpriu o Regimento Interno da Casa. Ele nega que o ato de retirar o servidor tenha sido inconstitucional. Já o diretor jurídico do Legislativo de Piracicaba, Robson Soares, disse que Montero fazia ‘baderna’ e que ‘tumultuava’ a sessão naquele dia. “O ato da leitura bíblica está no artigo n° 121 do Regimento Interno. É algo presente nas sessões desde a criação do Legislativo piracicabano. Não obrigamos ninguém a acompanhar a leitura, mas que essa pessoa respeite as regras da Casa ou que se retire”, afirmou Soares.

Ainda segundo o diretor jurídico, o homem desrespeitou os funcionários, os vereadores e os policiais durante a discussão. “Não é a questão constitucional que está em pauta, mas o desrespeito do homem com quem estava lá tentando trabalhar”, disse o funcionário.

Desrespeito de vereador
 
Segundo uma pessoa presente no plenário durante a confusão, e que pediu para não ser identificada, o movimento ‘Reaja Piracicaba’, que tem feito várias manifestações recentemente, está sendo responsabilizado pelos parlamentares pelo ocorrido na segunda-feira. “Já não basta o desrespeito do próprio vereador Trevisan Junior (PR) quando fala olhando para o plenário. Segundo o mesmo Regimento, quem utiliza a tribuna deve falar ao presidente”, afirmou.

Medida exagerada
 
O presidente da OAB de Piracicaba, Odinei Assarisse, afirmou que o acontecido na Câmara desafia o que está na Constituição Federal. “Acredito que é inconstitucional, pois o estado brasileiro é laico. Ninguém pode ser impedido de acompanhar a sessão na Câmara por não ser católico“, pontuou o advogado.

Ainda segundo Assarisse, a expulsão do homem foi uma ‘medida exagerada’ por parte dos vereadores. O presidente da OAB de Piracicaba também disse que cabe uma medida judicial por parte do homem retirado do prédio do Legislativo. ”Se o servidor se sentiu ofendido, cabe a ele tomar as atitudes necessárias. Não vejo motivo para a retirada dessa pessoa do plenário. Foi um exagero”, disse.

Posição da GM e da PM
 
A Guarda Municipal e a Polícia Militar de Piracicaba, por meio das respectivas assessorias de imprensa, afirmaram que apenas ‘cumpriam ordens’ do presidente da Câmara.

Posição do sevidor público 
Montero informou que não descarta acionar a Câmara juridicamente pelo ato. "Já estive outras vezes no Legislativo e isso nunca havia acontecido", afirmou. Ele disse também não lembrar se havia ficado sentado nas sessões durante leitura da Bíblia em outras ocasiões. O servidor disse que faz parte do Movimento Reaja Piracicaba se for considerado que ele é contra o aumento do salário dos vereadores.

***********
Por Eva


E vamos a mais notícias bastante preocupantes para a democracia em Piraicaba;

Do G1

O Ministério Público de Piracicaba(SP) informou que vai recorrer da decisão do juiz Wander Pereira Rossette Júnior que negou liminar para derrubar o aumento de 66% nos salários dos vereadores, que vigora a partir de janeiro. Além de negar o pedido do MP, o juiz deu prazo de 15 dias para que a Câmara justifique o reajuste de R$ 6,5 mil para R$ 10,9 mil. A comunicação oficial da decisão ainda não ocorreu, mas o promotor João Carlos de Azevedo Camargo disse que pedirá a revisão da medida no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

O promotor do Patrimônio Público pediu a anulação do aumento por considerá-lo inconstitucional e acima do crescimento inflacionário que define o reajuste em outras classes profissionais. Para o MP, o valor mais apropriado para os parlamentares de Piracicaba seria de R$ 6,8 mil por mês. O inquérito foi instaurado em agosto e se tornou ação civil pública no início de outubro.  Ao analisar nesta semana o pedido feito por Camargo, o juiz entendeu que não houve irregularidades no processo de aprovação dos salários para 2013 e rejeitou a liminar.

Depósito judicial Camargo informou que só poderá se manifestar depois que for notificado oficialmente sobre a negativa da liminar. "Depois de tomar ciência da decisão terei 20 dias para interpor o recurso, pedirei também liminar para depósito da diferença entre o subsídio atual e o que passa a valer no ano que vem em conta judicial antes mesmo da apreciação do mérito do recurso. Até porque a posse dos novos vereadores se avizinha", informou o promotor. 

Tramitação Ao apresentar o recurso, Camargo poderá submeter suas argumentações à avaliação de três desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo. O processo segue na Justiça local em paralelo ao julgamento em segunda instância. Se uma decisão diferente da tomada por Wander Rossete ocorrer, não haverá aumento até que a ação tenha um desfecho definitivo.


Efeitos positivos da decisão sobre índios do MS

Da Rede Brasil Atual

Em virtude da decisão, os 170 indígenas poderão permanecer em uma área de dois hectares dentro da fazenda Cambará até que os trabalhos de identificação da terra indígena sejam concluídos

Suspensão de ordem contra Guarani-Kayowá é comemorada em ministérios
Estudantes fazem ato em Brasília em defesa da comunidade (Foto: Elza Fiúza/ABr)

São Paulo – A  suspensão da liminar que determinava a retirada dos índios Guarani-Kaiowá do acampamento Pyelito Kue, na Fazenda Cambará, em Iguatemi (MS), determinada ontem (30) pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (São Paulo), foi comemorada pelo Ministério Público Federal, Ministério da Justiça e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A medida foi tomada em atenção a pedido da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do MPF, após intensa mobilização na internet.

Em virtude da decisão, os 170 indígenas poderão permanecer em uma área de dois hectares dentro da fazenda Cambará até que os trabalhos de identificação da terra indígena sejam concluídos. A desembargadora Cecilia Mello informou em nota que a Funai "deve adotar todas as providências no sentido de intensificar os trabalhos e concluir o mais rápido possível o procedimento administrativo de delimitação e demarcação das terras". A identificação vem se arrastando há cerca de três anos, quando a Funai assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o MPF para examinar a questão territorial dos Guarani-Kaiowá.

Para o procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida, a mobilização popular pela internet foi fundamental para a causa. "A mobilização das redes provocou uma reação raramente vista por parte do governo quando se trata de direitos indígenas", disse Almeida, em nota do MPF. Os Guarani-Kayowá tornaram-se assunto em todo o Brasil, quando divulgaram uma carta na qual declaravam que preferiam morrer coletivamente a deixar suas terras.

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, recebeu com entusiamo a decisão, e ressaltou a importância de o Estado brasileiro assegurar o direito à terra, das comunidades tradicionais. “Esse é um importante passo, mas não o definitivo. Para o governo federal, é uma prioridade a atenção às comunidades indígenas e a solução dos conflitos que envolvem a disputa por suas terras”, declarou Maria do Rosário em nota.

A ministra criticou a demora no julgamento, pelo Supremo Tribunal de Justiça (STF), dos processos de reconhecimento de terras. Para Maria do Rosário, essa demora colabora para o agravamento dos conflitos entre indígenas e fazendeiros. “Temos de trabalhar para agilizar o julgamento das ações onde já houve demarcação antropológica que comprova que as terras são indígenas. Quando esses processos ficam parados por um longo prazo, isso acaba gerando mais tensões e ameaças”, destacou a ministra.

Também em nota o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou a ampliação do efetivo da Força Nacional na região. “Diante desse cenário de conflitos, ameaças e delitos, determinamos um reforço no policiamento da Força Nacional, que já está no local com homens e viaturas. O novo efetivo já está em deslocamento. Estamos fazendo um deslocamento por terra justamente por termos a necessidade de viaturas circulando, já que é uma área muito grande. Dentro da análise técnica que foi feita nós teremos um bom efetivo para buscar dar o máximo de segurança e evitar os conflitos na região” explicou o ministro.

Segundo o ministro, por determinação da presidenta Dilma Rousseff, a Funai deverá concluir, em 30 dias, o estudo antropológico que comprova que as terras reivindicadas pela comunidade Guarani-Kaiowá pertencem de fato aos seus ancestrais. “Isso é um avanço muito importante. Esta decisão expressa um posicionamento da presidenta Dilma, que tem nos orientado a cumprir a Constituição, que é, na verdade, o papel que temos de desempenhar”, concluiu Cardozo.

Ato em Brasília

Com rostos pintados, estudantes de escolas e universidades de Brasília se reuniram com representantes de movimentos sociais e indígenas de vários estados, como São Paulo e Mato Grosso, para manifestar o apoio aos guarani kaiowá que lutam há décadas para conseguir a posse da terra em que vivem em Mato Grosso do Sul.

Aluna de uma escola pública, Bianca Gomes de Souza, 16 anos, explicou o motivo da presença dos estudantes  no manifesto: “Esta semana, assistimos a um filme sobre a luta dos guarani. Não sabíamos. Decidimos vir para ajudar no protesto. Queremos que a terra seja dada aos índios já que a terra é deles”, disse.

Bisneta de um índio da etnia Guarani-Kaiowá do Rio Grande do Sul, a nutricionista Denise Camargo da Silva disse que só soube dos episódios em Mato Grosso do Sul pela rede social Facebook.

Emocionada, Denise criticou a falta de informações sobre o que ocorre nas regiões onde vivem índios no país. “Trabalhei em um projeto pela UnB [Universidade de Brasília] e visitei algumas etnias em vários lugares do país. Independentemente do local, eles sofrem, são segregados, discriminados e violentados. E a língua deles poucas pessoas falam. Até isso estamos perdendo e são nossos ancestrais”, criticou a nutricionista.

O manifesto também contou com o apoio de representantes de outros grupos indígenas. É o caso de Manuel Claudionor, índio da etnia Mutina, de Mato Grosso. Ele é estudante e disse que soube do protesto pelas redes sociais. “Vim pelo que acontece na terra dos guarani, que estão perdendo a terra, muitos estão sendo assassinados ou estão se matando pela perda da sua terra, da sua cultura. Somos índios e temos convicção de que todos temos os mesmos direitos. Somos os primeiros habitantes do Brasil”, disse.

O ato que marcou a primeira manifestação pública a favor do povo Guarani-Kaiowá nas ruas da capital federal, desde que os conflitos entre índios e fazendeiros foram retomados, começou a ser organizado por um grupo de estudantes da Universidade de Brasília. “Começamos a divulgar nas redes sociais e rapidamente tivemos a adesão de centenas de pessoas que começaram a mudar seus nomes no perfil do Facebook [acrescentando o nome da etnia Guarani-Kaiowá aos sobrenomes] e confirmaram a presença na passeata. Essas pessoas divulgaram várias informações sobre a realidade desse povo”, explicou Luiza Oliveira, estudante da UnB.

Com informações da Agência Brasil

O outro lado da "confusão" com Genoino

Do Conversa Afiada

Verdades sobre a “confusão”na votação de Genoino

Não é verdade que houve vandalismo. Não é verdade que houve “pancadaria”.

“Genoino era um eleitor como outro qualquer”.

O Conversa Afiada publica texto enviado por pessoas que estiveram presentes no colégio durante a votação do Genoino:

Verdades sobre a “confusão” na votação de Genoino



Como umas das cerca de 100 pessoas que estavam na porta da Universidade São Judas, em São Paulo, na tarde de domingo, dia 28 – portanto, testemunhas do que a imprensa está chamando de “agressão a jornalistas” durante o voto do ex-deputado federal José Genoino –, não podemos nos omitir diante da prevalência da versão mentirosa que tem circulado como real.

Não é verdade que militantes petistas discutiam com militantes do PSDB na porta da universidade. Não havia militantes do PSDB na porta, mas apenas um casal identificado com adesivo do PSDB, acompanhado de uma criança, que passou todo o tempo ao lado do Vesgo, do programa Pânico, provocando os petistas. O humorista entregava ao casal cartazes alusivos ao “mensalão” para que fossem fotografados com ele. Assim, havia forte suspeita de todos os que acompanhavam o movimento que o casal havia sido contratado para provocar. Tanto que, com exceção dele, nenhuma outra pessoa foi hostil ao grupo de mulheres do PT que lá estava e que, de fato, pelas tantas, passou a trocar ofensas e xingamentos com o casal – único momento em que a polícia foi chamada para intervir. A suspeita de que o casal estava lá para provocar ficou mais evidente quando, com a chegada de mais petistas, ele decidiu ir embora, ela justificando: “Ah, vamos embora que o homem não vai vir votar não”. Foram sob os gritos de “contratada, contratada” e reagiram rindo.

Não é verdade que, ao sair do carro, o ex-deputado José Genoino recebeu do grupo de apoiadores uma bandeira do Brasil para cobrir o rosto e não ser fotografado, como escreveu o jornal O Globo, em matéria assinada por uma jornalista não esteve no local. A bandeira foi ofertada a ele para que se enrolasse nela. Não fosse assim, não teriam sido publicadas tantas fotos dele, sempre de rosto descoberto.

Não é verdade que houve vandalismo. Antes de o ex-deputado José Genoino chegar para votar, um representante dos apoiadores dele conversou com representante da diretoria da universidade e questionou se ela desejava que a polícia fizesse uma espécie de corredor para garantir mais segurança. Ela recusou, afirmando que “Genoino era um eleitor como outro qualquer”.

Não e verdade que uma senhora que chegou para votar foi derrubada por militantes petistas, também como afirmou a imprensa. A senhora chegou (não à toa vestida de vermelho) para “apoiar e dar um abraço no Genoino”. Ela havia participado, duas semanas antes, da reunião dos amigos de 68, em que estiveram, entre outros, Genoino e Jose Dirceu. Ela caminha com o auxílio de uma bengala e, na entrada tumultuada dos militantes, caiu e foi socorrida imediatamente por vários deles. Alguns cinegrafistas se aproximaram e uma suposta jornalista perguntou a ela quem a havia empurrado: “Foram os fotógrafos, que passaram correndo”, afirmou. Mas isso não saiu em nenhum jornal! Além dessa senhora, uma jovem foi derrubada também pelos fotógrafos, e um cinegrafista, que estava no meio do tumulto, caiu. Nenhuma pessoa que entrou para votar sofreu qualquer lesão.

Não é verdade que houve “pancadaria”. Houve, sim, o empurra-empurra típico das aglomerações, e a até agora alegação de agressão de um dos humoristas do programa CQC, que fez todo tipo de provocação e se postou (ele mesmo admite) diante do veículo onde supunha que Genoino estivesse (ele já havia ido embora àquela altura). No calor do conflito, com os ânimos acirrados, a insistência do humorista em falar com o ex-deputado teria irritado alguns militantes, o que, se ficar provado, terá sido o único incidente da manifestação.



Assinam:


Austriquiliano Lucena

Daniela Antunes

Danylo Bomtempo

Natalina Ribeiro

Marcia Barral

Sergio de Carvalho

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Combate à "brutal desigualdade" em SP

Da Rede Brasil Atual

Maria Victoria Benevides pede combate à 'brutal desigualdade' em São Paulo

Professora da USP espera 'aggiornamento radical' no PSDB
São Paulo – A professora Maria Victoria Benevides, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), conheceu tanto Fernando Haddad como José Serra no meio universitário. Assim, sua escolha pelo candidato do PT e agora prefeito eleito é sustentada em “grande conhecimento”, como ela diz. Para ela, a vitória de Haddad representa “um avanço no sentido de diminuir as desigualdades brutais em relação a acesso e à fruição dos direitos essenciais de todos”. Ao PSDB, Maria Victoria vê a necessidade de um “aggiornamento (atualização) radical”.

“Estou convencida de que a brutal desigualdade que existe em São Paulo está na raiz dos problemas urbanos e sociais que todos reclamam, mas que têm enorme dificuldade de enfrentar”, afirma a socióloga. “Confio inteiramente no compromisso do novo prefeito”, acrescenta, cobrando participação da população no enfrentamento dessas questões. “Se a sociedade não estiver convicta de que tem de fazer sua parte, não adianta reclamar que o trânsito é um inferno, que não dá para sair de casa. Há um pecado original da sociedade, que convive com a desigualdade como se fosse algo da natureza da mão divina.” Isso também passa pela questão dos impostos, por exemplo. “Todos nós sabemos que o pobre paga relativamente mais em relação ao que ganha.”

Como segundo desafio da gestão que se iniciará em 1º de janeiro de 2013, ela considera “importantíssimo que sejam retomados e melhor organizados os vários conselhos de fiscalização e acompanhamento de serviços públicos”, que aumentam as possibilidades de participação no poder. “Nós não vivemos no Brasil, não vivemos sequer no estado de São Paulo, vivemos no município, onde pagamos impostos, levamos nossos filhos à escola, usamos transporte.”

Para a professora, Haddad obteve uma vitória excepcional, considerando que partiu de 3% nas pesquisas e que disputava contra um “supercandidato”, ex-prefeito, ex-governador, duas vezes candidato à presidência da República e que tinha “toda a grande imprensa do seu lado”. Serra, por sua vez, carregou o peso de sua própria rejeição e a do prefeito Gilberto Kassab (PSD), enquanto o candidato do PT tinha a seu favor as avaliações positivas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da atual presidenta, Dilma Rousseff. Ela também criticou “uma campanha sórdida” na tentativa de associar Haddad ao processo do chamado mensalão. “O Fernando tem vida pública absolutamente ilibada. Isso mostra que o eleitor está se informando mais e sabendo separar as coisas.”

Mesmo assim, ela vê algum impacto do julgamento no alto número de abstenções. “Vinte por cento é muita coisa”, afirma, acrescentando nessa conta parte dos votos dados no primeiro turno a Celso Russomanno (PRB) e Gabriel Chalita (PMDB).

Maria Victoria considera “muito difícil” o futuro eleitoral de Serra, que tem pela frente nomes emergentes como os de Aécio Neves, de seu próprio partido, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e o prefeito reeleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB). “Não acredito que sequer ele pense nessa possibilidade (voltar a disputar a presidência)”, avalia, citando a necessidade do aggiornamento. “Todos eles (líderes tucanos) estão muito decepcionados.”

Sobre um possível fortalecimento do PT para tentar chegar pela primeira vez ao Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista), a professora vê alguns riscos, de ambos os lados. “Mesmo nesta campanha, acompanhei no meio universitário pessoas que se identificam com a esquerda vendo um 'perigo para a democracia' que o PT ficasse muito forte, tendo a presidência da República e a prefeitura de maior orçamento do país. Esse argumento é ridículo? E no tempo de Fernando Henrique? Esse argumento nunca foi usado para defender a democracia. Acho absurdo sob qualquer ponto de vista, a começar do político.”

Na outra ponta, Maria Victoria teme uma disputa prematura dentro do próprio PT, por cargos na futura gestão Haddad e também com vistas à eleição para o governo do estado. “Fico sempre muito impressionada com a fragilidade humana na fogueira das vaidades. Confio no espírito público e na disciplina partidária.”


Ria com os prognósticos dos tucanos

A "cara" do Sr. Merval ontem na GloboNews era digna de dó.....

Do Conversa Afiada

O Conversa Afiada reproduz texto da seção de Humor do Viomundo:

Publicar na integra, editor, para divertir o navegante nessa segunda-feira de sol e alegria.

Ria !

Merval Pereira: O mito e os fatos

por Merval Pereira

O GLOBO – 28/06/2012, reproduzido no Perca Tempo

A mais recente pesquisa do Datafolha mostra que 62% dos eleitores paulistanos e 64% dos simpatizantes do PT acham que o partido agiu mal procurando acordo com Maluf para a prefeitura de São Paulo.

O candidato do bolso do colete de Lula, o ex-Ministro Fernando Haddad, continua sendo apenas isso, mais uma invenção do ex-presidente.

Caiu dois pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, o que não tem significado estatístico, pois está na margem de erro, mas tem peso político porque a pesquisa foi feita logo depois da famosa foto em que Lula aparece nos jardins da mansão de Maluf comemorando o acordo político.

Cair dois pontos percentuais quando se tem 30% de intenções de voto, como tem o candidato tucano José Serra, seria irrelevante — e ele cresceu –, mas os mesmos 2 pontos num total de 8% significam uma queda de 25%, o que por si só explicita a difícil situação em que se encontra o candidato de Lula.

Haddad, que parecia ter iniciado a ascensão após aparecer com Lula no programa do Ratinho e ter quase triplicado as intenções de voto, fato muito comemorado entre os simpatizantes do PT, não conseguiu manter a curva ascendente.

Esperavam os petistas que, depois do episódio Maluf, o candidato de Lula atingisse os dois dígitos nas pesquisas, evidenciando a correção da manobra política de seu mentor.

Lula reagiu aos críticos ao afirmar que não tinha arrependimento nenhum pela foto. E Maluf fez sua análise particular: Erundina deixara a chapa por ciúmes de seu protagonismo, e, diante de Lula no governo, ele, Maluf, considera-se “de esquerda”.

O que parece divertir Maluf, e não é para menos, configura-se um problema político de envergadura para o PT paulistano.

A pesquisa Datafolha mostra que os eleitores estão ao lado de Erundina, pelo menos nesse primeiro momento. Nada menos que 67% dos eleitores consideram que Erundina fez muito bem em deixar a chapa de Haddad depois da divulgação da famosa foto.

Havia até em circulação uma curiosa interpretação na base do “falem mal, mas falem de mim”. Lula seria tão genial articulador que colocara a imagem de Haddad nas primeiras páginas e nas televisões do país, fazendo com que viesse a ser conhecido pelo eleitorado.

O que para o comum dos mortais parecia erro estratégico, para o infalível líder tinha o dom de alcançar o objetivo de difundir a figura de seu escolhido.Vem a nova pesquisa Datafolha e joga por água abaixo a teoria montada a posteriori, que tentava transformar um erro político em grande lance estratégico.

O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, considera que a rejeição ao apoio de Maluf ao PT pode ser determinante na eleição, o que indicaria que não se trata de um efeito passageiro.

Nesse caso, Erundina estaria certa quando comentou que 1min e 30s de propaganda eleitoral não justificam fazer uma aliança que renega uma vida inteira. Aparentemente, esse tempo extra que o PT obteve aderindo a Maluf não será suficiente para reduzir o desgaste provocado pelo acordo, considerado espúrio pela larga maioria do eleitorado paulistano e petista.

O tucano José Serra continua liderando a pesquisa, mas está parado desde o início com 31% das intenções, o que representa o eleitorado cativo do PSDB na capital. Na análise dos petistas, mostra que ele não tem condições de ampliá-lo.

O outro terço deve ficar, como tradicionalmente ocorre, com o candidato do PT, mas, se Haddad não demonstra ser competitivo para buscar no partido o apoio que seria automático, como ir além do eleitorado petista para buscar votos que podem lhe dar vitória?

A estratégia petista tinha um objetivo pragmático, traçado por Lula. Abriu-se mão de uma candidata forte como é a ex-prefeita Marta Suplicy na suposição de que ela não trazia novidade para a campanha que ampliasse seu eleitorado.

O “novo”, que Haddad representaria, teria mais facilidade para avançar no eleitorado que, não sendo petista, pode votar no candidato do partido.

Mas, ao mesmo tempo, a candidatura ficou limitada no viés ideológico quando se juntou a Haddad, um comunista saudosista, a ex-prefeita Erundina, que assumiu anunciando que continuava defendendo o socialismo. Para ela, estar no Partido Socialista Brasileiro (PSB) não é retórica, é uma profissão de fé. Com sua saída, o PT foi buscar no PCdoB a companheira de chapa de Haddad, fechando novamente o foco ideológico da candidatura.

Os petistas alardeiam que o candidato tucano José Serra tem mais rejeição do que apoio (35% contra 31%), o que é uma situação realmente incômoda para o candidato. Mas, por essa conta, o candidato petista tem o dobro de rejeição do que de apoio (12% contra 6%).

Lula promete “morder o calcanhar” dos adversários, mas precisará fazer com que Haddad aprenda a morder também, sob o risco de seu candidato ficar exposto ao público como figurante sem expressão.

Além do mais, as pesquisas do Datafolha vêm registrando a queda da influência de Lula como cabo eleitoral na disputa paulistana, embora ele continue sendo o mais influente deles, mais ainda que a própria presidente Dilma, que tem 28% de influência na escolha do candidato, ou que o governador Geraldo Alckmin, que influencia 29% dos eleitores.

O índice de influência de Lula no eleitorado é de 38%, mas o problema para o PT é que em janeiro eram 49% os que diziam que o apoio de Lula os faria votar em determinado candidato.

Se juntarmos a redução da influência de Lula no eleitorado com a incapacidade demonstrada até agora por Fernando Haddad de ser um candidato minimamente competitivo, teremos uma eleição que sugere ser muito mais difícil para o PT do que parecia meses atrás.

Serra já disse que os fatos mostram que Lula não é infalível, pelo menos nas eleições paulistas. Mas Lula é Lula, advertem sempre os petistas, agarrando-se ao mito na esperança da vitória. Lula faz bem em querer trazer para si a disputa contra Serra, nacionalizando a eleição paulistana. Caberá a Serra escapar dessa armadilha, convencendo o eleitorado que está pensando apenas em São Paulo, e não no Brasil.

Parabéns Sarah

A aluna Sarah Néris da Silva, que estuda na escola Hilário Ferrari, do Buru, vinculada ao CEMUS VI, foi premiada com medalha de bronze na  XV OBA - Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronautica - em seu nível II.

A competição aconteceu em maio e mais de setecentos e oitenta mil alunos de todo o país participaram. Brevemente Sarah e todos os vencedores serão premiados.

Parabéns também a toda a equipe da escola Hilário Ferrari e ao CEMUS VI, pela brilhante conquista coletiva, que é o modelo vivido por essa unidade. 

Viva Sarah!!!




Haddad: a escolha do mestre

Do Luiz Nassif

Por Frank
Do Estadão

Vera Rosa, de O Estado de S.Paulo

Mil duzentas e quarenta e seis páginas com anotações feitas a lápis desapareceram na Universidade de São Paulo (USP). De tão detalhados, os apontamentos escritos na margem de cada folha, dos dois lados, pareciam fazer parte do livro Economia e Sociedade , de Max Weber, que sumiu na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Fernando, fã de Paul McCartney e dono do livro, chegou em casa inconformado. “Estela, roubaram o meu Weber. É inacreditável! Todas as minhas anotações viraram pó”, disse ele para a mulher. “Roubaram? Mas onde estava o livro?”, insistiu Estela, curiosa. “No estacionamento. Dentro do carro”, respondeu Fernando, de supetão. Sem entender nada, ela prosseguiu o interrogatório. “E o que aconteceu com o carro? ” A conclusão foi lógica: “Ué, roubaram também”.

O Fernando do livro é Fernando Haddad, novo prefeito de São Paulo. O “Santana” velho de guerra de “Dandão”, seu apelido na juventude, foi furtado em 1995, época do doutorado em Filosofia, na USP. Dezessete anos depois, porém, ele só se lembra das anotações perdidas naquela edição especial da Fondo de Cultura Económica. “Você não tem ideia do que é ler aquele livro inteiro e anotar…”, diz o ex-ministro da Educação, professor licenciado de Teoria Política na USP. Ana Estela, casada com Haddad há 24 anos, já está acostumada com essas divagações. “Ele não liga para coisas materiais. Essa parte é comigo. “

Escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para representar a nova geração do PT, pós-mensalão, Haddad agora só tem tempo para ler relatórios sobre São Paulo. “Comprei na Bienal aquele livro do Mandela, mas está no meu criado-mudo. Confesso que durmo a cada cinco páginas”, afirma, rindo, o filho de imigrante libanês

Foi às margens do Lago Paranoá, em Brasília, que começou a ser desenhada a candidatura de Haddad, um calouro na política, a exemplo da presidente Dilma Rousseff. A conversa que selou o destino do então ministro da Educação ocorreu num almoço no Gazebo, especializado em comida francesa, em março de 2011. Os emissários de Lula foram o presidente do PT paulista, Edinho Silva, o vice-presidente do partido, Rafael Marques, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, e o vereador Alfredinho (PT). “O chefe mandou construir a sua candidatura. E aí, você topa?”, perguntou Marinho. “Eu topo. Estou à disposição”, respondeu Haddad. “Então, vamos discutir as tarefas que você tem de executar. Vamos montar o grupo de apoio para sustentá-lo, mas a liderança tem de ser sua. ” Com os tradicionais nomes do PT desgastados, muitos fora de combate desde o escândalo do mensalão, em 2005, Lula fazia planos para Haddad havia algum tempo. Chamava-o de “menino de ouro” e chegou a sondá-lo para concorrer ao governo paulista, em meados de 2009, quando já articulava a candidatura de Dilma à Presidência. “Mas eu ainda não tinha encerrado o meu ciclo em Brasília”, diz o candidato.

A crise do mensalão foi o passaporte de Haddad para o comando do Ministério da Educação (MEC), em 29 de julho de 2005. Foi nesse dia que ele assumiu a cadeira de Tarso Genro, convocado às pressas por Lula para presidir o PT, que teve a cúpula dizimada. “Meu filho, mas você aceitou ser ministro com o governo nessas circunstâncias?”, indagou dona Norma, mãe de Haddad, preocupada com a nomeação. “Mãe, se não fossem essas as circunstâncias, nunca me ofereceriam o ministério”, reconheceu ele.

No fim de 2010, com Dilma já eleita, Haddad estava de malas prontas para retornar a São Paulo, decidido a entregar o cargo, quando Lula fez a proposta que mudou sua vida. “Eu pensei no Fernando como pensei na Dilma. Eu disse a ele: o PT precisa de um nome novo, com um perfil como o seu, para atrair a classe média e ser candidato a prefeito de São Paulo”, conta o ex-presidente.
 
Haddad se entusiasmou, mas expôs uma dúvida: “Há espaço no PT para discutir essa tese? ” Lula admite que “não foi uma tarefa fácil” convencer o partido a aceitar o pupilo e, por isso, pediu ajuda a Marinho. “Diziam para mim: ‘Ele nem cumprimenta a gente’. Eu respondia: ‘Ele é tímido’. “

Apesar de filiado ao PT desde 1983, Haddad não era da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), do próprio Lula e de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil e réu do mensalão. Além disso, havia assinado, em 2005, um manifesto do grupo Mensagem ao Partido, liderado por Tarso, pregando a “refundação” do PT, na esteira da crise. “Foi aquele terremoto político que desencadeou a renovação de quadros no PT”, comenta Tarso, hoje governador do Rio Grande do Sul.

Os capítulos seguintes desse enredo tiveram momentos de alta tensão. Favorita nas pesquisas para a sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), que chegou a flertar com o PT, a então senadora Marta Suplicy queria ser candidata. Com rejeição na faixa de 30%, foi preterida por Lula, pressionada por Dilma e obrigada a desistir da prévia, que nunca saiu do papel.
 
Na conversa com ele, em 3 de novembro, Marta chorou. “Eu não entendo, Lula, o que você tem contra mim”, desabafou a ex-prefeita.

Os deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini e o senador Eduardo Suplicy também se retiraram do páreo, a pedido do ex-presidente. “Quando me chamou, Lula falou assim: ‘O Fernando implantou o ProUni e fez excelente trabalho. Para ganhar a classe média, tem de ser bonitinho, são-paulino e uspiano’”, recorda Tatto. “Ele achava que os votos da periferia já eram nossos e ninguém contava com Russomanno. Foi o nosso erro. ” Magoada, Marta boicotou a campanha por quase dez meses e só foi para as ruas um dia antes de virar ministra da Cultura. Para apoiar Haddad, o deputado Paulo Maluf (PP) – que está na lista de procurados da Interpol – exigiu uma fotografia com Lula, no jardim de sua mansão. Era o preço da aliança, que garantiu ao candidato do PT 1 minuto e 35 segundos na propaganda eleitoral de TV, a perda da deputada Luiza Erundina (PSB) como vice da chapa e uma queda de dois pontos porcentuais nas pesquisas. Erundina desistiu da dobradinha com Haddad 24 horas após o anúncio da coligação com Maluf. “Não preciso ser vice para fazer política”, protestou. Presidente do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, abriu mão da vaga para o PC do B de Nadia Campeão, sob o argumento de que a ex-prefeita Erundina era “incontrolável”.

Aos 49 anos, Haddad foi “vendido” pela campanha como “o homem novo para um tempo novo”. Pesquisas mostraram que as falhas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não colaram nele, mas a foto com Lula e Maluf foi interpretada como a volta do velho coronelismo na política. “Nós fizemos uma cagada”, disse Lula depois, a portas fechadas. Marinho admite que, horas antes do almoço na casa de Maluf, em 18 de junho, procurou o ex-presidente na academia onde ele faz reabilitação desde que terminou o tratamento do câncer na laringe. “Ele não queria fazer a foto. Fui porta-voz de um pedido da direção do PT. Fiz e faria novamente”, diz o prefeito, candidato à reeleição.

Haddad conquistou Lula ainda em 2004, quando lhe mostrou um esboço do ProUni, programa que concede bolsas de estudo em universidades a alunos carentes. Na época, era secretário executivo na Educação e vinha da assessoria especial do Planejamento, então chefiado por Guido Mantega. Antes, tinha trabalhado com João Sayad na Secretaria de Finanças, na gestão de Marta. “Confesso que achei ruim quando Tarso Genro levou o Haddad para o MEC. Ele ia ser promovido”, revela Mantega, hoje ministro da Fazenda. “Dei-lhe a missão de elaborar as Parcerias Público-Privadas e ele conseguiu entregar dentro do prazo um projeto difícil, que funciona bem até hoje. ” O candidato do PT odeia atrasos. Na campanha, muitas vezes chegou antes que os aliados aos compromissos. Nem sempre teve a companhia de seus pares e muitos reclamaram de sua falta de traquejo político e do linguajar da academia. Na semana passada, por exemplo, Haddad disse que Russomanno não tinha plano de governo, mas, sim, um “simulacro”. Depois, afirmou que a disputa começava a sair da “mornidão” para a fase da empolgação. “Todo mundo tem um Houaiss em casa”, devolveu ele, quando questionado sobre o uso de palavras difíceis, numa referência ao dicionário de Antonio Houaiss.

Com 1,83 metro e pinta de galã, Haddad faz sucesso com as mulheres, que não raro trocam o seu sobrenome por “Andrade”. Ana Estela confessa ter um pouco de ciúme. “A gente é humano, né? ” Além da pontualidade, o petista tem como característica a obsessão por metas. Adquiriu o hábito quando era vendedor da Mercantil Paulista de Tecidos, a loja de seu pai, Khalil, na Rua Comendador Abdo Schahin, paralela à 25 de Março. “Ele saía da Faculdade de Direito, no Largo São Francisco, e ia a pé até lá. Na sobreloja, tinha duas pilhas de livros: uma só aumentava, com aqueles já lidos, e a outra diminuía, com os que tinha de ler”, descreve o jornalista Eugênio Bucci, seu amigo e antecessor na presidência do Centro Acadêmico 11 de Agosto, a única eleição que Haddad já disputou. “Eugênio foi o Lula para mim”, compara o ex-ministro, ao lembrar que o amigo patrocinou sua candidatura ao 11 de Agosto, em 1985, após o sucesso da chapa The Pravda na diretoria. “Fernando tinha dois ídolos: Karl Marx e Paul McCartney”, entrega Bucci, ex-presidente da Radiobrás. Tinha? Até hoje, quando se cansa de assuntos áridos, Haddad surpreende o interlocutor: “Vamos falar de outra coisa. O que você acha de Paul McCartney? “.


domingo, 28 de outubro de 2012

A história real da crise com o Irã

Do Luiz Nassif

Por Marco Antonio L.
No Democracia & Política

POR TRÁS DA CRISE COM O IRÃ. A HISTÓRIA REAL


Mísseis não-nucleares iranianos

POR TRÁS DA CRISE COM O IRÃ (QUE CONTINUA A AGRAVAR-SE): A HISTÓRIA REAL E A “MANCHETE DE 1ª PÁGINA” 
Por Mark H. Gaffney, no “The Information Clearing House” (EUA)

Mark H. Gaffney

“Recentemente, o presidente Obama impôs novas sanções ao Irã, as quais, segundo a imprensa-empresa, teriam sido “muito eficientes”, causando repentina desvalorização da moeda iraniana. Os iranianos, corretamente, entendem que estão sendo atacados; e ameaçaram, em resposta, bloquear o Estreito de Ormuz, por onde tem de transitar grande parte do petróleo que flui do Oriente Médio para a economia global.

Se a crise aprofundar-se e o Irã cumprir a ameaça e fechar Ormuz, praticamente com certeza os EUA intervirão para reabrir o estreito. Isso levará a guerra pela qual o Irã será responsabilizado, mesmo que, como se sabe, as recentes sanções impostas ao país pelos EUA equivalham a ato de guerra.

Minha opinião é que os EUA explorarão a situação para atacar as instalações nucleares iranianas. Mas, mais importante que elas, os EUA atacarão também as instalações que guardam os mísseis iranianos convencionais.

 Entendo que essa é a causa real das sanções norte-americanas contra o Irã; como me parece ser também a causa do aumento das tensões nos últimos dias. Apesar da retórica sobre armas nucleares e do que é mostrado à opinião pública, a crise atual nada tem a ver com armas nucleares ou com algum programa iraniano para construir armas atômicas. Essa, me parece, não passa de história criada para ocupar as manchetes de primeira página; a história de capa, para encobrir a história real.
 
Mapa geofísico do Irã e suas fronteiras

A real questão está em que o Irã aprimorou muito seus mísseis convencionais de médio alcance, todos já equipados com tecnologia GPS, o que os torna armas significativamente mais precisas.Significa que o Irã já pode atingir os arsenais israelenses de armas nucleares, biológicas e químicas, todos localizados em território israelense, e já pode atingir também [as fábricas israelenses de bombas atômicas e] o reator nuclear israelense em Dimona.

Em resumo, o Irã já tem capacidade convencional para conter Israel. Nesse sentido, acredito que os oficiais iranianos não mentem quando dizem que o Irã não tem programa de armas nucleares. De fato, o Irã não precisa de armas nucleares para conter Israel. O Irã já pode conter Israel com seus mísseis de médio alcance guiados por GPS. Os israelenses, evidentemente, ficaram em posição fragilíssima, porque, nessas circunstâncias, passam a ser, eles mesmos, as primeiras vítimas mais diretamente ameaçadas pelos seus próprios arsenais de armas de destruição em massa e pelo próprio reator nuclear israelense, em Dimona – os quais já são, todos, alvos acessíveis.

Qualquer ataque direto bem-sucedido àqueles arsenais e àquele reator provocará nuvem tóxica letal, que matará, primeiro, milhares de israelenses. Em caso mais grave, de ataque mais amplo, há hoje ameaça real à sobrevivência do estado judeu.

Simultaneamente, é preciso ter em mente que o Irã não tem interesse em lançar qualquer tipo de ataque preventivo a Israel, porque o Irã sabe que a reação conjunta Israel-EUA seria devastadora. Mas, se o Irã for atacado primeiro, desaparece esse cálculo estratégico. E não cabe descartar a possibilidade da reação iraniana, porque o Irã, se for atacado, terá de defender-se. Nesse caso, o Irã, sim, atacará Israel, dado que os líderes iranianos veem com absoluta clareza (apesar de o povo norte-americano nada ver e nada entender) que toda a atual “crise” foi fabricada exclusivamente para tentar tirar Israel da posição precária em que se meteu.

Do ponto de vista dos israelenses, a capacidade de contenção que o Irã alcançou (não nuclear, como se diz ou suspeita, mas capacidade convencional) é absolutamente inaceitável. Os estrategistas militares israelenses sempre insistiram na necessidade de manterem total capacidade de movimento.

Por isso Israel recusou, há vários anos, o pacto de defesa que os EUA ofereceram: porque aquele tratado teria limitado "a liberdade de movimento dos israelenses" [invasão e apropriação de territórios palestinos, das colinas sírias de Golã etc], limitação inaceitável para eles. Os líderes israelenses naquele momento optaram por manter-se independentes. Para Israel, essa independência seria crucialmente importante para que o estado judeu pudesse continuar suas políticas de intimidação contra os vizinhos regionais, qualquer deles, como melhor interessasse a Israel e sem considerar interesses estratégicos dos EUA. Israel jamais aceitou qualquer limitação a essa “liberdade” para intimidar vizinhos regionais, fossem quais fossem, e definidos por critérios do estado judeu. Os mísseis convencionais iranianos, hoje, puseram fim àquela “liberdade”. Os estrategistas israelenses muito provavelmente se preocupam, por exemplo, com a evidência de que os mísseis convencionais iranianos limitam consideravelmente a liberdade de Israel para atacar, em conflitos futuros, o Hezbollah no Líbano. O Hezbollah é íntimo aliado de Teerã.

Minha opinião é que a atual crise foi fabricada para criar o pretexto para um movimento da Força Aérea dos EUA para destruir os arsenais iranianos de mísseis convencionais. Os EUA também atacariam as instalações nucleares iranianas, mas o alvo primário seriam os mísseis convencionais. Os EUA estariam a serviço de Israel. O rabo sionista, mais uma vez, sacudindo o cachorro norte-americano subalterno.

Obviamente, é impossível obter apoio popular para esse tipo de ataque, em que os EUA estariam bombardeando nação não atacante, só porque os sionistas assim o ordenem. Então se inventou a “manchete de primeira página”: a versão segundo a qual inexistentes armas nucleares iranianas estariam ameaçando varrer Israel do mapa. As armas nucleares não existem, como até a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) já constatou oficialmente. Mas funcionaram, mesmo assim, como pretexto para vasta campanha de propaganda.

O problema, do ponto de vista dos EUA, é que a tarefa de destruir a capacidade iraniana de conter Israel não é tarefa fácil; de fato, é ainda mais difícil do que destruir as instalações nucleares iranianas. É muito pouco provável que os mísseis convencionais iranianos estejam armazenados num único ponto: com toda a certeza estão disseminados por todo o território iraniano. Se o Irã for atacado por ar, a liderança iraniana – que com certeza já fez toda essa análise – rapidamente “decifrará” o objetivo do ataque.

Ante o risco de perderem a capacidade para conter Israel, é possível que os mulás optem por disparar os mísseis convencionais que não tenham sido destruídos no primeiro ataque norte-americano. Se o fizerem e se apenas alguns dos mísseis atingirem arsenais israelenses de armas nucleares, químicas ou biológicas, o efeito, em todos os casos, será desastroso. Israel responderá. E pode recorrer, inclusive à “Opção Sansão”: usar armas nucleares contra o Irã. Não há palavras para descrever a escala horrenda a que esses desenvolvimentos podem chegar. Desgraçadamente, tudo isso é rigorosamente possível.

Desde o primeiro momento, além do mais, também as forças navais dos EUA no Golfo serão atacadas. E que ninguém se iluda ou se engane: o Irã tem quantidade suficiente de mísseis cruzadores terra-mar para provocar danos consideráveis na chamada “presença naval dos EUA no Golfo”. No momento em que escrevo já há milhares de marinheiros norte-americanos plantados, pode-se dizer, na linha de tiro, e sob ameaça.

É indispensável impedir qualquer ataque ao Irã. É absolutamente necessário impedir mais essa guerra.

Todos os ativistas devemos mobilizar agora todos os recursos de que disponhamos para defender e fazer avançar a paz. O povo norte-americano tem de conhecer a verdade. A ‘'crise iraniana'’ é falsa. É crise inventada. Mas o perigo de guerra é real.

É hora de gritar forte, de gritar muito a favor da paz. Amanhã talvez seja tarde demais."

FONTE: escrito por Mark H. Gaffney, no “The Information Clearing House”, sob o título original “Behind the Deepening Crisis with Iran: The Real Story Versus the Cover Story”. Traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado por Castor Filho no blog “Redecastorphoto”  (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/10/por-tras-da-crise-com-o-ira-que.html). [Imagem, trechos entre colchetes e "negritos" adicionados por este blog 'democracia&política'].
 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Desemprego continua abaixo de 6%

Da Rede Brasil Atual

Em 12 meses, mercado de trabalho tem 512 mil pessoas a mais e 125 mil desempregados a menos; rendimento cresce. No Rio de Janeiro e em Salvador, taxas foram as menores de toda a série, iniciada em 2002

São Paulo – A taxa média de desemprego medida pelo IBGE em seis regiões metropolitanas  ficou em 5,4% em setembro, praticamente estável em relação a agosto (5,3%) e a menor para o mês desde o início da série histórica da pesquisa, iniciada em 2002. Em relação a setembro do ano passado, houve recuo considerado significativo, de 0,6 ponto percentual. O número de desempregados (estimado em 1,326 milhão) não variou no mês e caiu 8,6% na comparação anual, com 125 mil pessoas a menos. Em Salvador e no Rio de Janeiro, a taxa foi a menor de toda a série.

O total de ocupados (23,164 milhões) cresceu 0,9% sobre agosto, com 212 mil pessoas a mais no mercado de trabalho. Em relação a setembro do ano passado, o aumento foi de 2,3%, o correspondente a um acréscimo de 512 mil pessoas. O número de trabalhadores com carteira assinada, estimado em 11,421 milhões, ficou estável no mês e subiu 3,6% em 12 meses, com 393 mil postos de trabalho a mais nas seis regiões.

A menor taxa foi registrada na região metropolitana de Porto Alegre (3,6%), que tem queda de 1,2 ponto percentual em 12 meses. Em Belo Horizonte, o recuo foi de um ponto (de 5% para 4%). No Rio de Janeiro, a taxa de 4,4%, a menor da série, também é significatimente menor que a de setembro do ano passado (5,7%), o mesmo acontecendo em Salvador (de 9% para 6,2%, também a menor de todas, desde 2002) e Recife (6,4% para 5,7%). A exceção foi São Paulo, onde a taxa subiu no mês (de 5,8% para 6,5%) e também está acima de setembro do ano passado (6,1%).

O rendimento médio dos ocupados ficou em R$ 1.771,20, também estável na comparação com agosto e 4,3% maior ante setembro de 2011. A massa de rendimento (R$ 41,3 bilhões) subiu 0,9% no mês e 6,5% em 12 meses. Em relação a setembro do ano passado, o rendimento teve alta em Recife  (12,5%), Belo Horizonte (9,3%) São Paulo (6,3%) e em Porto Alegre (6,1%), caindo em Salvador (-3,5% e no Rio (-0,4%).


Basta de conivência

Do VioMundo

publicado em 24 de outubro de 2012


Na aldeia de Guaiviry, em Mato Grosso do Sul (MS), fui recebida por um pequeno grupo de crianças indígenas. Foto: Mariana Boujikian

por Mariana Boujikian Felippe, especial para o Viomundo

Ao chegar à aldeia de Guaiviry, em Mato Grosso do Sul (MS), fui recebida por um pequeno grupo de crianças indígenas. Descalças, com os pezinhos cobertos de terra e as caras pintadas, elas dançavam de mãos dadas, e entoavam juntas uma canção de boas-vindas. Penduradas em cada uma delas, placas com os dizeres “Nós quero educação já/ Nós quero demarcação já/Pelo amor de deus parem o massacre contra os povos indígenas guarani”. As crianças guarani-kaiowá fazem parte de uma das maiores etnias do Brasil, e aprendem desde pequenas que precisam lutar para serem reconhecidas como cidadãs e terem seus direitos mais básicos respeitados. As placas eram sua forma de protesto, e representavam a voz de jovens brasileiros que parecem ter sido esquecidos há anos pelo seu próprio país.

Desde o seu descobrimento, o país adotou a prática do extermínio destes povos que cometeram um único crime: o de mostrar que é possível viver de uma maneira diferente. Para os guarani-kaiowá, a luta pela terra também é uma forma de resistência ao modo de vida do homem branco. Na sua língua, as terras tradicionais são chamadas de “tekoha”, palavra que vem de “teko” (modo de ser) + “ha” (lugar), o que poderia ser traduzido como “lugar onde se pode viver do nosso próprio jeito”. Para eles, os tekoha são lugares sagrados, onde é possível entrar em contato com os espíritos da terra e exercer sua própria cultura.

A guerra contra os índios de MS escancarou-se na década de 1940, quando começou o processo de colonização da região, com incentivo do governo federal. Os índios foram expulsos de suas terras, e forçados a se concentrar em oito pequenas reservas. Atualmente, os guarani-kaiowá estão confinados em cerca de 45 mil hectares, o que equivale a menos de 1% de seu território original. Onde antes estavam seus tekoha, agora há o mar de soja, cana-de-açúcar e pastos de boi. Os territórios sagrados deram lugar à produção desenfreada de commodities, que levarão o Brasil ao rol das novas potências econômicas.

A reação ao confinamento logo veio, ganhou força nos anos 1980, e vem retomando pequenas porções de terra desde então. Em sua luta, o movimento indígena enfrenta a força dos grandes proprietários de terra e do agronegócio. Hoje, MS abriga a segunda maior população indígena do país, mas é um Estado onde a lei pertence aos fazendeiros. Em agosto desse ano, Luis Carlos da Silva Vieira, proprietário do munícipio de Paranhos, declarou abertamente a um site de notícias: “Esses índios aí, alguns perigam sobrar. O que não sobrar, nós vamos dar para os porcos comerem”.

Infelizmente, a violência não se restringe ao discurso dos fazendeiros locais: neste último setembro, pistoleiros dispararam por horas contra os índios que participavam pacificamente de uma das retomadas, neste mesmo município. Pesquisas mostraram que, de 2003 a 2010, foram assassinados mais indígenas em MS do que em todo o resto do país. Grandes líderes vêm sendo perseguidos, ameaçados, e até mortos, como ocorreu com Nisio Gomes no ano passado. A impunidade dos mandantes se perpetua, e a terra continua sendo manchada de sangue.

Com restritas áreas para desenvolver suas práticas culturais e realizar plantio e caça, muitas aldeias passaram a depender de cestas básicas do governo para sobreviver. A consequência é um alto índice de morte por desnutrição infantil. Algumas comunidades buscam sustento trabalhando nos canaviais, conhecidos pelas suas condições trabalhistas precárias. Diante desse quadro, não é difícil entender porque o número de suicídios entre jovens indígenas é quatro vezes maior do que entre jovens do resto do país.

A Constituição Federal prevê que todos os territórios tradicionais deveriam ter sido demarcados até 1993, mas até agora, apenas 1/3 das terras foi demarcado. A luta pela demarcação de terras esbarra na lentidão do Judiciário em julgar processos pendentes, e no descaso do Executivo em homologá-las.

Para que possamos chamar este país de democrático, é essencial que haja o reconhecimento do direito desses povos aos seus territórios. As terras precisam ser devolvidas aos seus ocupantes originais, para que o Brasil seja de fato “um país de todos”. O Estado não pode mais ser conivente com o extermínio velado dessas populações. É preciso que cada cidadão divulgue essa causa, que é de todos os brasileiros. O rosto de cada criança indígena que implora pelo fim do genocídio contra seu povo é a face de um Brasil indigno e desumano. É preciso que as vozes das crianças de Guaiviry e de todas as outras comunidades reverberem e sejam ouvidas. É preciso que se faça justiça, pois os povos indígenas não podem esperar mais.

Mariana Boujikian Felippe é estudante de Ciências Sociais da USP.


Fim da tutela da Globo?

Da Carta Maior

A última eleição sob a tutela da Globo

A sólida dianteira de Haddad em SP, reafirmada pelo Ibope e o Datafolha desta 5ª feira, deixa ao conservadorismo pouca margem para reverter uma vitória histórica do PT; talvez a derradeira derrota política do seu eterno delfim, José Serra. Ainda assim há riscos. Não são pequenos. Eles advém menos da vontade aparentemente definida do eleitor, do que da disposição midiática para manipulá-la, nas poucas horas que antecedem o pleito de domingo.

Há alguma coisa de profundamente errado com a liberdade de expressão num país quando, a cada escrutínio eleitoral, a maior preocupação de uma parte da opinião pública e dos partidos, nos estertores de uma campanha como agora, não se concentra propriamente no embate final de idéias, mas em prevenir-se contra a 'emboscada da véspera''.

Não se argui se ela virá; apenas como e quando a maior emissora de televisão agirá na tentativa de raptar o discernimento soberano da população, sobrepondo-lhe seus critérios, preferências e interditos.

Tornou-se uma aflita tradição nacional acompanhar a contagem regressiva dessa fatalidade.

A colisão entre a festa democrática e a usurpação da vontade das urnas por um interdito que se pronuncia de véspera, desgraçadamente instalou-se no calendário eleitoral. E o corrói por dentro, como uma doença maligna que pode invalidar a democracia e desfibrar a sociedade.

A evidencia mais grave dessa anomalia infecciosa é que todos sabem de que país se fala; qual o nome do poder midiádico retratado e que interesses ele dissemina.

Nem é preciso nominá-los. E isso é pouco menos que a tragédia na vida de uma Nação.

De novo, a maleita de pontualidade afiada rodeia o ambiente eleitoral no estreito espaço que nos separa das urnas deste 28 de outubro.
 
Em qualquer sociedade democrática uma vantagem de 15 pontos como a de Haddad seria suficiente para configurar um pleito sereno e definido.

Mas não quando uma única empresa possui 26 canais de televisão, dezenas de rádios, jornal impresso, editora, produção de cinema, vídeo, internet e distribuição de sinal e dados.

Tudo isso regado por uma hegemônica participação no mercado publicitário, inclusive de verbas públicas: a TV Globo, sozinha, receberá este ano mais de 50% da verba publicitária de televisão do governo Dilma.

Essa concentração anômala de munição midiática desenha um cerco de incerteza e apreensão em torno da democracia brasileira. Distorce a vida política; influencia o Judiciário; corrompe a vaidade de seus membros; adestra-os, como agora, com a cenoura dos holofotes a se oferecerem vulgarmente, como calouros de programas de auditório, ao desfrute de causas e interesses que tem um lado na história. E não é o do aperfeiçoamento das instituições nem da Democracia.

O conjunto explica porque, a três dias das eleições municipais de 2012, pairam dúvidas sobre o que ainda pode acontecer em São Paulo, capaz de fraudar a eletrizante vitória petista contra o adversário que tem a preferência do conservadorismo, a cumplicidade dos colunistas 'isentos',a 'independência' do Judiciário e a torcida, em espécie, da plutocracia.

Não há nessa apreensão qualquer traço de fobia persecutória.

Há antecedentes. São abundantes a ponto de justificar o temor que se repitam.

Multiplas referenciais históricas estão documentadas. Há recorrência na intervenção indevida que mancha, enfraquece e humilha a democracia,como um torniquete que comprime a liberdade das urnas.

Mencione-se apenas a título ilustrativo três exemplos de assalto ao território que deveria ser inviolável, pelo menos muitos lutaram para que fosse assim; e não poucos morreram por isso.

Em 1982, a Rede Globo e o jornal O Globo arquitetaram um sistema paralelo de apuração de votos nas eleições estaduais do Rio de Janeiro.

Leonel Brizola era favorito, mas o candidato das Organizações Globo, Moreira Franco, recebera privilégios de cobertura e genuflexão conhecidos. Os sinais antecipavam o estupro em marcha das urnas.

Ele veio na forma de um contagem paralela - contratada pela Globo - que privilegiaria colégios do interior onde seu candidato liderava, a ponto de se criar um 'consenso' de vitória em torno do seu nome.

O assédio só não se consumou porque Brizola recusou o papel de hímen complancente à fraude.

O gaúcho recém chegado do exílio saiu a campo, convocou a imprensa internacional, denunciou o golpe em marcha e brigou pelo seu mandato. Em entrevista histórica --ao vivo, por sua arguta exigencia, Brizola denunciou a manobra da Globo falando à população através das câmeras da própria emissora.

Venceu por uma margem de 4 pontos. Não fosse a resistência desassombrada, a margem pequena seria dissolvida no contubérnio entre apurações oficiais e paralelas.

Em 1983 os comícios contra a ditadura e por eleições diretas arrastavam multidões às ruas e grandes praças do país.

A Rede Globo boicotou as manifestações enquanto pode, mantendo esférico silêncio sobre o assunto. O Brasil retratado em seu noticioso era um lago suíço de resignação.

No dia 25 de janeiro de 1984, aniversário da cidade, São Paulo assistiu a um comício monstro na praça da Sé. Mais de 300 mil vozes exigiam democracia, pediam igualdade, cobravam eleições.

O lago tornara-se um maremoto incontrolável. A direção editorial do grupo que hoje é um dos mais aguerridos vigilantes contra a 'censura' na Argentina, Venezuela e outros pagos populistas, abriu espaço então no JN para uma reportagem sobre a manifestação. Destinou-lhe dois minutos e 17 segundos.

Compare-se: na cobertura do julgamento em curso da Ação penal 470, no STF, o mesmo telejornal dispensou mais de 18 minutos nesta terça-feira a despejar ataques e exibicionismos togados contra o PT, suas lideranças e o governo Lula.

Naquele 25 de janeiro estava em causa, de um lado, a democracia; de outro, a continuidade da ditadura.

Esse confronto mereceu menos de 1/6 do tempo dedicado agora ao julgamento em curso no STF. Com um agravante fraudulento: na escalada do JN, a multidão na praça da Sé foi associada, "por engano", explicou depois a emissora, 'a um show em comemoração aos 430 anos da cidade'. Passemos...

Em 1989, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello realizariam o debate final de uma disputa acirrada e histórica: era o primeiro pleito presidencial a consoliar o fim da ditadura militar.

No confronto do dia 14 de dezembro Collor teve desempenho pouco superior ao de Lula. Mas não a ponto de reverter uma tendência de crescimento do ex-líder metalúrgico; tampouco suficiente para collorir os indecisivos ainda em número significativo.

A Globo editou o debate duas vezes. Até deixá-lo 'ao dente', para ser exibido no Jornal Nacional.

Collor teve um minuto e oito segundos a mais que Lula; as falas do petista foram escolhidas entre as suas intervenções mais fracas; as do oponente, entre as suas melhores.

Antes do debate a diferença de votos entre os dois era da ordem de 1%, a favor de Collor; mas Lula crescia. Depois do cinzel da Globo, Collor ampliou essa margem para 4 pontos e venceu com quase 50% dos votos; Lula teve 44%. As consequências históricas dessa maquinação são sabidas.

São amplamente conhecidas também as reiterações desse tipo de interferência nos passos posteriores que marcaram a trajetória da democracia brasileira.

Ela se fez presente como obstaculo à vitória de Lula em 2002; catalisou a crise de seu governo em 2005 --quando se ensaiou um movimento de impeachment generosamente ecoado e co-liderado pelo dispositivo midiático conservador; atuou no levante contra a reeleição de Lula em 2006 e agiu na campanha ostensiva contra Dilma, em 2010.

A indevida interferência avulta mais ainda agora. Há sofreguidão de revide e um clima de 'agora ou nunca' no quase linchamento midiático promovido contra o PT, em sintonia com o calendário e o enrêdo desfrutáveis, protagonizados por togas engajadas no julgamento em curso do chamado mensalão'.
Pouca dúvida pode haver quanto aos objetivos e a determinação férrea que vertem desse repertório de maquinações, sabotagens e calúnias disseminadas.

Sua ação corrosiva arremete contra tudo e todos cuja agenda e biografia se associem à defesa do interesse público, do bem comum e da democracia social.Ou, dito de outro modo, visa enfraquecer o Estado soberano, desqualificar valores e princípios solidários que sustentam a convivência compartilhada.

Os governantes e as forças progressistas brasileiras não tem mais o direito --depois de 11 anos no comando do Estado- de ignorar esse cerco que mantem a democracia refém de um poder que só a respeita enquanto servir como lacre de chumbo de seus interesses e privilégios.

Os requintes de linchamento que arrematam o espetáculo eleitoral em que se transformou a ação Penal 470, ademais da apreensão com a 'bala de prata midiática' que possa abalar a vitória progressista em SP, não são fenômenos da exclusiva cepa conservadora.

A conivência federal com o obsoleto aparato regulador do sistema de comunicações explica um pedaço desse enredo. Ele esgotou a cota de tolerância das forças que elegeram Lula e sustentam Dilma no poder.

O país não avançará nas trasformações econômicas e sociais requeridas pela desordem neoliberal se não capacitar o discernimento político de mais de 40 milhões de homens e mulheres que sairam da pobreza, ascenderam na pirâmidade de renda e agora aspiram à plena cidadania.

A histórica obra de emancipação social iniciada por Lula não se completará com a preservação do atual poder de veto que o dispositivo midiático conservador detém no Brasil.

Persistir na chave da cumplicidade, acomodação e medo diante desse aparato tangencia a irresponsabilidade política.

Mais que isso: é uma assinatura de contrato com a regressão histórica que o governo Dilma e as forças que o sustentam não tem o direito de empenhar em nome do povo brasileiro.

Que a votação deste domingo seja a última tendo as urnas como refém da rede Globo, dos seus anexos, ventrílocos e assemelhados. Diretas, já! Esse é um desejo histórico da luta democrática brasileira. Carta Maior tem a certeza de compartilhá-lo com seus leitores e com a imensa maioria dos homens e mulheres que caminharão para a urna neste domigo dispostos a impulsionar com o seu voto esse novo e inadiável divisor da nossa história.

Bom voto. 

Postado por Saul Leblon