domingo, 12 de julho de 2009

Voluntários

Neste final de semana, terminei a leitura de um livro: EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: COMPROMISSO COM O HUMANO. Escrito por Luiz Monteiro Teixeira e Roberta Maria Lobo da Silva, é um relato da construção da Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Este livro foi uma delicadeza do Luiz Monteiro que me enviou por uma das formadoras da Secretaria, a Eliana. Trata-se da história da construção política, pedagógica e física da referida escola. Interessante leitura.

Mas quero aqui me ater a uma frase do livro para justificar o nome desta postagem: "O trabalho voluntário já não implica em deixar uma parte do seu ser em forma de força de trabalho vendida, que não lhe pertença mais, porém significa uma emancipação de si mesmo que se reflete no cumprimento do seu dever social." Esta frase estava inscrita na fábrica de tijolos da escola em abril de 2003. Apesar de não ter o autor, reconhece-se a concepção de Che Guevara em seu conteúdo. A concepção de voluntariado de Che.

Por que me chamou a atenção uma frase em todo o livro? Pelo que ela representa diante das inúmeras formas de voluntariado que vemos no nosso dia a dia. O conceito mais comum e visível em nossa sociedade sobre o voluntário é justamente aquele da primeira parte da frase: dou aquilo que tenho de excedente para alguém ou alguma coisa. Não é uma entrega, ou mesmo uma tentativa de mudança. É simplesmente dar o que tenho de mais.

Nessa discussão também entra a questão da "ajuda aos que mais necessitam".

Tenho a impressão de que muitas das pessoas que se atiram para esse tipo de exercício não estão muito preocupadas se sua ação irá definir o fim das causas daquilo que demanda sua intervenção. Tenho até o medo de pensar que muitas delas fazem questão que essas causas jamais terminem, para que elas possam continuar sua boa ação sempre.

Percebe-se na frase um conceito diferenciado de ação voluntária: emancipação de si mesmo que se reflete no cumprimento do seu dever social. É uma ação transcendente, no sentido de transcender o que sou para agir no social naquilo que é meu dever. Simples entender porque esse conceito se coaduna com Che. Sua vida foi isso. Ele sempre se transcendeu para lutar por outros, por transformações concretas. E nunca o aspecto econômico era o fator propulsor. Ou seja, sempre a entrega era plena, independente dos resultados. Che não era alguém que saia nos finais de semana ou mesmo no final do seu expediente para "dar de si pelos outros". Não era alguém que após a "ação voluntária" tinha uma casa para voltar e uma forma de vida para lhe sustentar. A ação em si lhe sustentava. Muito diferente do que observamos, não é mesmo?

Lendo o livro que apontei é muito simples de entender essas diferenças. Toda a ação da construção da ENFF - Escola Nacional Florestan Fernandes - foi nessa toada: "emancipação do eu para o cumprimento do dever social". E os autores dessa toada são trabalhadores, lideranças e intelectuais que entenderam seu papel social no mundo que vivemos. Assim fossem todos os voluntários que temos espalhados por esse nosso país!!!

Quem puder, leia o livro.

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