sábado, 17 de abril de 2010

Tema Atual em Salto

Um dos assuntos mais fortes hoje na imprensa de Salto é a questão da possível saída da cidade da empresa Brose, produtora de auto-peças. Como sua matriz é no Paraná, a mesma começa o anúncio da transferência de linhas de produção para lá. Questionada sobre a transferência total da empresa para lá, ela não confirma nem desmente.

Com isso o Sindicato dos Metalúrgicos solicitou uma audiência pública na Câmara de Vereadores para discutir o assunto. Na audiência, como esperado, a empresa não mandou nenhum representante.

De toda a discussão vale a pena destacar duas questões: a guerra fiscal e a questão salarial.

A primeira delas enfatizada pelo nosso vice-prefeito Juvenil, que esteve na audiência, é a necessidade urgente de nossa cidade discutir melhores incentivos para as empresas (as que estão e as que querem vir para cá), já que a legislação atual é muito tímida em relação a outras cidades. Aliado a isso, Juvenil destaca o pouco espaço territorial existente em Salto para se conseguir muitas e novas empresas. Por isso o secretário do desenvolvimento (Daniel) destaca a importância de, na discussão dos incentivos, se pensar nas empresas que aqui estão. Possivelmente onde a Brose tem sua matriz os incentivos devem ser bastante atraentes, visto que a cidade de São José dos Pinhais (grande Curitiba) tornou-se rapidamente um grande pólo industrial. Existe ainda a possibilidade de a empresa, por conta dos tais incentivos, mudar-se para São Roque. Tem razão Juvenil: precisamos agir rápido nesse assunto.

A segunda questão é uma causa muito antiga. Quando era eu dirigente sindical esse fenômeno já existia: as diferenças salariais nas várias regiões do país. Tanto que quando estava na direção nacional dos metalúrgicos uma meta que construímos foi a implantação do Piso Nacional Profissional do ramo metalúrgico. Pelas declarações do atual presidente do sindicato de Salto esse objetivo não foi ainda alcançado, já que no seu exemplo, enquanto o metalúrigico aqui recebe $ 1.450,00 pelo seu trabalho, no Paraná, para o mesmo trabalho, o trabalhador recebe $ 900,00.

Como dirigente sindical vi várias vezes empresas dizendo que iam embora da cidade, principalmente pelas conquistas que o sindicato então obtinha. Confesso que todas as ameaças não se concretizaram. Pode ser o caso da Brose diferente, já que tem uma grande empresa no Paraná. Portanto, todo cuidado e negociação são fundamentais. Entretanto, se isso acontecer não imaginem que é de uma decisão tomada a "toque de caixa". Nenhuma empresa investe sem saber de seus riscos e oportunidades. Se realmente ela for embora, essa decisão já foi tomada há muito tempo. O caso mais emblemático para mim é o da empresa Thermoid que teve uma contenda enorme com a fiscalização na cidade de São Paulo por conta do uso de amianto e as sequelas que esse produto deixava nos trabalhadores. Depois de anos de contenda, ela se muda para Salto, trazendo para cá os problemas de lá. Quando fomos exigir que a mesma parasse com o uso da matéria-prima assassina por várias vezes ela ameaçou ir embora. Hoje ainda está em Salto e pelo que me consta sem o amianto.

Um grande problema que se realmente acontecer trará transtornos para vários trabalhadores. Talvez seja o caso dos nossos dirigentes sindicais negociarem com a empresa que é proprietária do imóvel futuros investimentos em novas linhas e empregos, já que a mesma vem num crescente de investimentos.

Mais uma vez fica claro para mim que no sistema capitalista o movimento sindical pouco pode diante de decisões dirigidas por objetivos de lucro. Por quinze longos anos vivi com essa realidade. Aqui em Salto, no Estado, no país e no mundo. Pelo lucro, nada vale o trabalhador. Essa é a regra.

Tive a oportunidade de visitar na Bélgica uma siderurgica de alumínio. Imensa. Uma enorme produção. Rodava 24 horas por dia. Cada turno tinha oito trabalhadores na linha de produção. Tudo eletrônico e automatizado. As siderúrgicas, tanto de ferro ou de alumínio que não tem um nível de automação alto empregam muitos trabalhadores. Mas como todos sabemos a automação é uma questão de tempo e de opção do empresário. O trabalhador? Bem, esse precisa sempre achar outro lugar ou outra profissão.

Aqueles que se preocupam com o "outro lado" - o da sobrevivência das pessoas - precisam encontrar mecanismos para diminuir esses impactos. O nosso vice-prefeito indicou um deles. O sindicato terá que buscar, nas negociações, outros. E isso será sempre assim enquanto o nosso sistema tiver como ponto de partida e de chegada o lucro monetário. Infelizmente.

Um comentário:

  1. Meu amigo, realmente a situação urge uma frente que discuta incentivos tributários que sejam possíveis de ser oferecidos não só para as grandes empresas mas também para as pequenas e médias que precisam se adequar por questões urbanísticas ou ambientais...

    A Lei Municipal 2201/1999 foi redigida em uma época que era suficiente apenas atrair as empresas de fora; agora precisamos cuidar das que temos!

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