Continua em busca de sua terra |
Quando tinha cinco anos, Joceli Borges foi retratada por Sebastião
Salgado ao lado dos pais, que peregrinavam pelo interior do Paraná em
busca de um lote de terra. Passados 16 anos, a jovem continua sendo uma
trabalhadora rural sem terra.
Seu rosto sujo de olhar provocativo virou capa de livro e ganhou
espaço na mídia, em museus e em galerias do Brasil e do exterior.
Hoje, com 21 anos, ela vive com o marido e a filha em um acampamento
do MST e diz ter dois sonhos: um lote e dois exemplares do livro que
espalhou sua imagem mundo afora. “Um pra mim e outro pro meu pai.”
Luta pela terra
À época da foto, os sem-terra marchavam pelo país para lembrar
o primeiro aniversário do massacre de Eldorado do Carajás (PA), que até
hoje não foi devidamente investigado e ninguém foi punido.
Após o clique de Salgado, Joceli viu seus pais conquistarem a posse
definitiva de um terreno. Era o fim de um drama: meses debaixo de
barracos de lona, em um acampamento com alimentação escassa e sem água,
saneamento e assistência médica.
Aos 17 anos, Joceli presenciou os disparos e, para se proteger,
correu para o meio de um milharal. O alvo era um amigo de sua mãe, que
sobreviveu mesmo atingido por dois tiros. Sua mãe, no entanto, foi
atingida na cabeça e morreu.
A família cresceu, ela se casou, teve uma filha, e decidiu se mudar
para um acampamento do MST. Hoje vive com o marido, Adair, e a filha,
Joslaine, em acampamento a 15 km do centro de Quedas do Iguaçu.
No dia a dia, planta o que chama de “miudezas”: mandioca, batata doce, milho, feijão, melancia e verduras para vender na cidade.
Até conseguir a entrevista, a reportagem teve três encontros com
Joceli. No primeiro, ela não quis falar. Disse que ainda estava abalada
pela morte da mãe com um tiro na cabeça em um acampamento de sem-terra, em 2009.
“Não me lembro da foto”
“Não vi ele me fotografando. Parece que estou olhando para a foto,
mas não lembro de ver alguém me fotografando. Nem minha família lembra o
local exato onde foi. Fiquei sentida por sair toda desarrumada. Mas
fico feliz pelo meu pai e minha mãe ter conquistado a sua terra.”
A imagem foi captada na margem da rodovia que liga Laranjeiras do Sul a Chopinzinho (oeste do Paraná).
Questionada sobre o que faria se encontrasse hoje com Sebastião
Salgado, disse que “nem saberia o que falar. Quero é conquistar meu
pedaço de terra. Acho que estudar não é mais importante para mim”. (Há
alguns anos o instituto criado por Sebastião Salgado ofereceu
oportunidade de estudo em São Paulo. Para não ficar longe da família,
ela recusou).
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