domingo, 29 de novembro de 2009

Análise de Texto

César Benjamin e o rei do Senegal

Por Antonio PereiraCesar

Benjamim é um animal político; na vida política, já dizia Maquiavel, não se pode deixar passar a oportunidade. Política é momento, ocasião, o real, o aqui e agora. Nesse âmbito, toda reflexão metafísica sobre e condição humana é inútil e supérflua. Trata-se, portanto, de um texto de oportunidade ou oportunista, como queiram, maquiavélico no bom e no mal sentido, e cujo objetivo está longe de uma “reflexão sobre a complexidade da condição humana”, como inutilmente quer nos fazer crer o Ex-militante de esquerda ao final do seu artigo.

Essa é só mais uma das muitas artimanhas de que Cesar Benjamim lança mão para escamotear seu verdadeiro propósito: destruir a imagem do Lula, que além de analfabeto, equivocado, burro e boca suja, seria ao mesmo tempo gay, estuprador e um pedófilo com apetite sexual incontrolável; um monstro capaz de atacar, sem pudor, indefesos “Cesinhas” ( “meninos do MEP”). Note-se que Cesar, “ele mesmo”, não pretende “acusar, rotular e julgar” Lula, “o filho da p. do Brasil”! , isto ficará a cargo do leitor mediano da Folha.

Mas o juízo do leitor, já vem com o pacote: ” e se for verdade…Cesinha era chegado de Lula… é de esquerda, seu testemunho basta como prova e ponto final! E o bordão é outra vez repetido: “a César o que é de César, o meu reino de moralidade não é desse mundo podre! Fora Lula!”, assim julgará talvez o leitor mediano, envolvido pela prosa de um autor que monta um tríptico no qual de um dos lados está a imagem do militante heróico, capaz de resistir às piores torturas, que suportou fome, sede e toda sorte de violência; do outro lado, vemos a imagem do Lula “pai dos pobres, santo e filho do Brasil!” sendo esfacelada para, no final, dar lugar a uma síntese grotesca na outra ponta do quadro, lá onde está o “maléfico Lula” , o “comedor de criancinhas”, “muito pior do que e pior dos bandidos”!

Todo esse contraste é visível no primeiro plano da leitura, mas vejamos o quadro mais de perto.

Chamo a atenção para o tom confessional dessa tentativa de reconstrução “do real”, “do vivido”, “dos fatos”. Aqui, os fios soltos da memória carcomida pela tortura vem à tona ( e que memória colossal: César Benjamim se lembra quando quer lembrar esquece quando quer esquecer; e assim vemos desfilar no texto os seus colegas dos anos de tortura e detenção, um time completo: Caveirinha , Português e Nelson; Monique, Neguinha e Eva; Sapo Lee, Sabichão, Neguinho Dois, Formigão, Ari Navalhada e Chinês. O gênero baixo, humilde, sublime, vem permeado pela prosa reflexiva; o drama servirá para encobrir a farsa que está sendo montada.

Relendo o textos às avessas, vemos a memória – fonte de imaginação – deslizando para o terreno da literatura: uma mentira bem contada pode até ser verdade; mas, nessa altura campeonato,, já não sei mais se Cesar Benjamim sequer existe ou se é um personagem de ficção. inventado pela Folha de São Paulo. Quanta máscara cabe no meio dessa prosa engenhosa: “César Benjamim, o menino do MEP”; “Cesar Benjamim, militante de esquerda”; “Cesar Benjamim, o fundador do PT”; “Cesar Benjamim, o ‘Cesinha’ para os íntimos; “o Devagar” para os irmãos; “Cesar Benjamim, o bom moço”, o herói que sobreviveu às torturas mais cruéis da ditadura, que se esforçou para estudar e nos ensinar uma lição de moralidade; o leitor de Fernando Pessoa…etc..etc.

Agora, só vejo um César: aquele que adorna sua prosa e monta um discurso eloqüente para cair como um raio na cabeça do leitor. Mas é justamente aqui que mora o perigo: pois a eloqüência, destituída de um fundo de verdade, virá um panfleto ruim, e a história pessoal, sincera ou não, de luta e sacrifício, em breve se transformará em farsa. Para concluir, ao contrário do aqui foi dito, não acho César Benjamim um caso de demência, mas sim um animal político bem “esperto” ou que se julga muito “esperto”, amigo de gente “esperta” na terra “dos espertos”, para citar o Nelson, um dos seus mais “malucos” colegas de cela, “que fingia que falava inglês” e “queria ser rei no Senegal”.

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