sábado, 28 de novembro de 2009

Conferência Estadual de Cultura: Vergonha e Comprometimento

Na quinta-feira, dia 26, estive juntamente com Marcos Pardim, Vania Barcela e Arlindo Nicolau, representando nossa cidade na Conferência Estadual de Cultura. Confesso que sai de lá com um misto de vergonha e orgulho que há tempos não sentia.

Vergonha pelo discaramento do governo do estado que, pela Secretaria Estadual de Cultura, fez claras demonstrações que aquilo era um peso para sua rotina. A começar pela fala do Secretário João Sayad, totalmente desprovida de sensibilidade, para não dizer totalmente desprovida de educação. Primeiro, irritou-se com aqueles que quiseram tirar fotos com ele. Depois faz um discurso elitista e presunçoso, onde a cultura é vista pela sua pasta enquanto arte somente. E arte elitizada. Falou e foi-se embora.

Não bastasse a postura do Sr. Secretário, o que ficou no lugar dele (André Sturm) já no início deu claras demonstrações de que estava com "a ferradura afiada". Não quis discutir o regimento da Conferência, cortou a fala de vários delegados e empurrou os encaminhamentos como quis. Depois, provavelmente "aconselhado" por outros, inclusive observadores do Ministério da Cultura, voltou atrás em alguns encaminhamentos, como a eleição dos delegados para a Conferência Nacional, que na versão primeira do regimento seria individual e voto por cédulas. No meio da tarde, alterado para votação por região, como insistentemente a plenária havia pedido na parte da manhã, mas Sturm não quis discutir.

As discussões dos eixos (cinco deles) aconteceram em cinco grupos espalhados pelo Teatro Simon Bolivar no Memorial da América Latina. Agora, imaginem vocês: quase mil pessoas divididas em cinco grupos (uma média de duzentas pessoas por grupo) espalhados pelas cadeiras do teatro, sem som, pois se alguém usasse sistema de som os outros grupos não conseguiriam trabalhar. Três horas para que cada grupo discutissem uma média de 150 propostas em um universo de 200 pessoas. Evidente que não houve discussão. O grupo que participei resolveu ler as propostas e fazer dois momentos de votação: um para indicar as melhores e outro para indicar as que iriam para a Conferência Nacional (já que era para isso que todos nós lá estávamos).

Na plenária para aprovação das discussões nos grupos nova confusão pois as regras não existiam. E quando não existem regras, claro, impera a desordem. Imaginem mil pessoas sem saber direito o que estava acontecendo e onde iriam chegar com as discussões. E a "ferradura" do tal Sturm continuava afiada.

Mas enfim conseguiu-se chegar as propostas e a eleição dos cinquenta delegados que irão a Brasilia em abril do ano que vem. Não pela vontade das "ferraduras afiadas" nem pela gritaria dos mais exaltados: chegou-se a isso porque a maioria que lá estava queria discutir e queria dar sentido à conferência do estado, para que em Brasília realmente fossem levadas propostas sérias e consistentes de São Paulo. E isso encheu-me de orgulho. Se a Secretaria não queria fazer a Conferência, se os radicais queriam "melar" a conferência, se o local não era adequado para esse tipo de discussão, nada foi impedimento para que os que queriam realmente discutir e encaminhar propostas e representantes, o fizessem.

De Salto, levaremos um delegado para representar São Paulo: Marcos Pardim. Que todos os delegados eleitos no dia 26 levem o que de bom teve a Conferência em São Paulo: a determinação em discutir a Cultura no Estado e no País, independente daqueles que só pensam em boicotar, sejam do poder público, sejam dos movimentos extremistas.

E que se registre o lamentável papel da Secretaria Estadual de Cultura que em vez de coordenar e criar condições para que o debate fluisse, portou-se como um jovem militante enraivecido: a todo momento querendo truncar e complicar os trabalhos. Bem, o governo é de José Serra.... acho que isso explica um pouco. Explica também pela postura em outras conferências: a da educação foi coordenada e encaminhada pela UNDIME/SP (União dos Dirigentes Municipais de Educação) e a de comunicação foi chamada e coordenada pela Assembléia Legislativa. Realmente um governo que não gosta de discutir.

Parabéns para todos os que souberam ultrapassar os problemas premeditadamente criados e fizeram a Conferência Estadual de Cultura acontecer.

Parabéns aos delegados saltenses que fizeram parte daqueles que usaram o bom senso e a vontade de discutir propostas e manter o processo de discussão em todo o país.

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