sexta-feira, 22 de maio de 2009

Vivendo pela dança

No dia 05 de novembro de 2005 os céus me abrilhantaram com um dos maiores acontecimentos de minha vida (senão o maior): meu namoro com Ismenia. Já a conhecia fazia algum tempo, mas foi naquele dia que resolvemos viver uma vida juntos. E a conhecia justamente por aquilo que toda a vida representou o maior de seus ideais: a dança. Era professora de ballet de minha filha, Larissa.

Não quero falar do nosso namoro, mas do que sinto quando penso naquilo que a impulsionou durante toda a vida. Bailarina prodigio, já aos sete anos dava seus primeiros passos e tinha suas aulas iniciais. Com 19 anos já era bailarina profissional em um grupo que revolucionou a dança no Brasil: o Ballet Stagium. E ela estava lá. Muitos e muitos anos dedicados a essa companhia. Ballet do Teatro Guaíra (Curitiba) foi outra companhia que dançou. Conheceu o mundo dançando. Pela inovação, qualidade e ousadia, o Ballet Stagium dançava em todas as cidades do mundo. Muitas viagens e apresentações. Na década de 90 do século passado volta para sua cidade, Sorocaba, e monta com outros dois sócios uma academia de danças, buscando mudar o conceito de dança comercial para viver a arte da dança. Consegue montar um grupo que faz muito sucesso no estado todo. Paralelo, dá aulas em várias cidades, inclusive em Salto, no Corpo de Baile. Hoje, com 53 anos, continua a fazer o que mais lhe realiza: formar bailarinos e criar a partir da dança.

Só um problema a persegue durante a vida toda: sempre, sempre teve grandes dificuldades financeiras, pois bailarino no hemisfério sul, como tantos outros artistas, não tem reconhecimento financeiro. Até hoje as dificuldades desse tipo de reconhecimento são extremamente difíceis. Olhando de fora, parece que as pessoas - expectadores, financiadores, homens públicos - acham que o aplauso em pé é suficiente para essas pessoas. Infelizmente não é.

Hoje, senti em seu semblante o peso dessa dificuldade.

Mas amanhã sabem o que estará ela fazendo? Apresentando seu grupo - o Balé da Cidade de Salto - em mais um dos grandes espetáculos que eles produziram.

O que sinto de fora é que o fazer a arte é mais importante que tudo. Nada é mais importante que poder mostrar para todas as pessoas (boas, más, bem intencionadas, mal intencionadas) sua arte, sua forma de expressão, sua forma de amar o mundo.

Além do grupo principal, ela prepara 50 novas crianças para serem futuros bailarinos. Dos nove aos doze anos. É delicioso vê-la falar do progresso de suas meninas, da mudança de postura, da disciplina, da vontade de fazer bem feito. E já prepara o primeiro espetáculo das pequenas. Ontem estávamos gravando as músicas.

Uma vida dedicada a um ideal.

Todos dizem que sou um idealista, mas diante de Ismenia sinto-me pequeno. Não conheço e não conheci ninguém com um nível de entrega aos seus objetivos como ela. Não tenho e não vejo em ninguém a metade da força que ela tem para fazer da dança sua vida e a vida de tantos outros.

Hoje, vendo-a ir embora, tudo isto me passou pela cabeça. E achei que deveria manifestar. Para que, mesmo que poucos leiam, fiquem meus sentimentos registrados.

Amá-la é um privilégio que ela me concedeu....

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