sexta-feira, 15 de julho de 2011

ANÍSIO TEIXEIRA

Os que de vez em quando visitam meu blog perceberão que modifiquei algumas imagens e frases da página. Inspirado pelo magnífico trabalho que publico abaixo feito sobre a vida e obra de um dos maiores educadores brasileiros. Nosso país é rico de pessoas como Anísio Teixeira: preocupadas com a educação e a escola pública. Pena que ainda tenhamos muito o que fazer para colocar nossa educação à altura de seus melhores pensadores. 

Do Luis Nassif

Muitas informações sobre Anísio Teixeira, que muitos consideram um dos maiores pensadores da educação brasileira está em
http://elfikurten.blogspot.com/2011/02/anisio-texeira-o-inventor-da-escola.html

Vocês, argutos observadores, já viram que no link e no título que nomina o acervo distraidamente escreveram Texera, o que a meu ver não invalida o trabalhão que tiveram em juntar tudo aquilo sobre esse educador. 

Do Blog do Elfi Kürten
Anísio Texeira - O inventor da escola pública brasileira e o projeto de educação integral


"Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública"

 
BiogBIOGRAFIA

Anísio Spínola Teixeira nasceu em Caetité, sertão da Bahia, em 12 de julho de 1900. Após sólida formação adquirida em colégios jesuítas de Caetité e Salvador, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro em 1922 e obteve o título de Master of Arts pelo Teachers College da Columbia University, em Nova York, em 1929. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em março de 1971.

Considerado um dos maiores educadores brasileiros, Anísio Teixeira deixou uma obra pública excepcional que, ainda hoje, está à frente do nosso tempo. Sua formação educacional foi fortemente influenciada pelo pragmatismo do filósofo John Dewey, de quem foi aluno no Teachers College e cujas idéias divulgou no Brasil. Mas foi, sobretudo, nos embates entre a gestão cotidiana da educação e sua visão de futuro, em meio a aliados e adversários, que aprendeu a organizar homens e instituições.

"somente a educação e a cultura poderão salvar o homem moderno e que a batalha educacional será a grande batalha do dia de amanhã"

Iniciou-se na vida pública em 1924, no governo Góes Calmon (1924-1928), como Inspetor Geral do Ensino da Bahia, passando logo depois a Diretor da Instrução Pública desse estado. Mais tarde, já no Rio de Janeiro, assumiu a Secretaria de Educação e Cultura do Distrito Federal, no governo do prefeito Pedro Ernesto (1931-1935). Nessa gestão conduziu importante reforma educacional que o projetou nacionalmente, foi signatário do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), teve participação ativa na Associação Brasileira de Educação (ABE), criou a Universidade do Distrito Federal (UDF). Demitiu-se em 1935, diante de pressões políticas que inviabilizaram sua permanência no cargo, refugiando-se no interior de seu estado natal. Entre 1937 e 1945, afastado da vida pública, permaneceu na Bahia, dedicando-se a atividades de mineração, comércio e tradução de livros.

Em 1946, a convite de Julien Huxley, assumiu o cargo de Conselheiro de Ensino Superior da UNESCO, retomando sua atividades na área educacional. De volta ao Brasil em 1947, aceitou o convite de Otávio Mangabeira, recém-eleito governador da Bahia, para ocupar a Secretaria de Educação e Saúde desse estado, posto no qual permaneceu até o final desse governo (1947-1951). Nessa administração fez construir em Salvador o Centro Popular de Educação Carneiro Ribeiro, mais conhecido como Escola Parque, uma experiência inovadora de educação integral, onde atividades artísticas, socializantes e de preparação para o trabalho e a cidadania, e mais alimentação, higiene e atendimento médico-odontológico, complementavam as práticas educativas tradicionais. Esta obra, pioneira no Brasil, projetou-o internacionalmente.

"Numa democracia, nenhuma obra supera a de educação. Haverá, talvez, outras aparentemente mais urgentes ou imediatas, mas estas mesmas pressupõem, se estivermos numa democracia, a educação. Todas as demais funções do estado democrático pressupõem a educação. Somente esta não é conseqüência da democracia, mas a sua base, o seu fundamento, a condição mesmo para a sua existência."  

Na década de 50 teve atuação destacada na esfera federal, no Ministério da Educação. Em 1951 assumiu a Secretaria Geral da Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que seria por ele transformada em órgão, a CAPES. Em 1952 assumiu também o cargo de diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Criou, então, o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) e uma rede de 5 Centros Regionais, com o objetivo de elaborar estudos antropológicos e sociológicos sobre a realidade brasileira. Durante sua gestão na CAPES e no INEP, proferiu inúmeras conferências no Brasil e no exterior, incentivou a criação de bibliotecas no país, foi eleito por duas vezes presidente da SBPC, participou ativamente da discussão da LDB (1961). Nesses anos de árdua luta pela escola pública, editou o seu livro mais polêmico: Educação não é privilégio (1957). E foi ainda nessa época que se tornou professor universitário, assumindo a cadeira de Administração Escolar na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje UFRJ.

“[...] Meu ponto de vista, pois, é simples: se alguém deseja ser professor é que resolveu devotar sua vida a estudar e como estudante é que vai ensinar. Como sua luta por aprender fez-se a sua própria vida, não há problema relativo a como aprender de que não tenha experiência. [...]”
 (Em trecho de uma carta escrita por Anísio Teixeira em 13 de dezembro de 1968 ao Professor Edivaldo Boaventura)

No início dos anos 60, juntamente com Darcy Ribeiro, foi um dos mentores da Universidade de Brasília (1961), tornando-se seu 2º reitor em 1963. O golpe militar de 1964 o afasta, mais uma vez, das suas funções públicas. A convite de universidades americanas, viaja para os Estados Unidos para lecionar como “visiting scholar”. De volta ao Brasil, completou o seu mandato no Conselho Federal de Educação (1962-1968), tornou-se consultor da Fundação Getúlio Vargas e retomou suas atividades de tradutor e escritor na Editora Nacional, organizando coleções e reeditando alguns de seus livros.

A história da educação brasileira, no século XX, está marcada por suas idéias e ações em favor da democratização das oportunidades de acesso à educação pública, universal, gratuita, laica e de qualidade. Sua obra representa um patrimônio importante da cultura nacional. O que produziu e criou permanece vivo como mensagem inspiradora dos intelectuais e educadores brasileiros na virada do milênio.

"… Anísio Teixeira é o pensador mais discutido, mais apoiado e mais combatido do Brasil. Ninguém como ele provoca a admiração de tantos. Ninguém é também tão negado e tem tantas vezes o seu pensamento deformado (…) Suas teses educacionais se identificam tanto com os interesses nacionais e com a luta pela democratização de nossa sociedade que dificilmente se admitiria pudessem provocar tamanha reação num país republicano."
Darcy Ribeiro

Influência americana
 
Anísio Teixeira e o filósofo-pedagogo John Dewey

Anísio Teixeira trouxe para o Brasil as idéias do pedagogo e filósofo americano John Dewey (1859 - 1952) e as introduziu em nossa educação a partir da década de 1930. Entre essas idéias, as duas principais eram a defesa da escola pública e gratuita e a necessidade da implantação de experiências práticas nas salas de aula.

A relação entre ensino e democracia também estava sendo discutida nos Estados Unidos. Dewey era um ferrenho defensor do direito de todas as classes sociais à educação.

Além disso, ele definia a aprendizagem como um processo ativo. Dewey criou a expressão "escola ativa" para denominar o ensino baseado em experiências práticas. "Todo conhecimento autêntico vem da experiências", dizia. Essa foi uma das bases do movimento da Escola Nova.

"Anísio Teixeira foi um profeta do saber, da cultura e da transformação social, sobretudo da transformação social. Foi um dos homens mais cultos deste país, mas ao mesmo tempo o menos exibicionista dos homens cultos deste país. Toda a produção intelectual de Anísio Teixeira é motivada por seu desejo de transformação social. O que ele foi, acima de tudo, foi um educador voltado para a prática da educação e da administração. E por causa dessa prática, que demandava conhecimento teórico, é que fez os seus livros. Ele não foi um teórico que se fez prático. Ele foi um homem que essa dialética do fazer e do conhecer acompanhou permanentemente. Lembrem-se de que, num momento de ostracismo, a prática que ele desenvolveu foi a de um minerador, de um exportador, de um comerciante e de um tradutor de obras que ele achava relevantes".
Antônio Houaiss

A Escola Parque 

Em 1932, Anísio Teixeira foi um dos signatários de um dos documentos mais importantes da história da educação no Brasil, o "Manifesto dos Pioneiros". O Manifesto defendia uma educação pública, gratuita, mista, laica e obrigatória, possibilitando a concretização do direito biológico à educação.

Anísio Teixeira apostava na educação para benefício e desenvolvimento de todos os indivíduos, voltada para a democracia e a liberdade de oportunidades. Criou o sistema educacional "ESCOLA PARQUE" onde as escolas, além do currículo básico, propõem o acesso a aprendizagens sobre trabalho e à cultura ampla da humanidade, desenvolvendo o senso de responsabilidade, de ação prática e de criatividade.

A primeira unidade da "ESCOLA PARQUE" de Anísio Teixeira foi instalada na Bahia, em Salvador, onde funciona até hoje com o nome de Centro Educacional Carneiro Ribeiro, reconhecida pela UNESCO como modelo educacional. Em 1957, Anísio Teixeira elaborou o plano de sistema escolar de Brasília, onde instalou várias outras unidades da ESCOLA PARQUE, conhecidas como ESCOLA CLASSE.

Em 1970, fundada a ESCOLA PARQUE, no Rio de Janeiro, reiterando os ideais de educar para a vida e para a democracia. Tem por objetivo formar pessoas que se importem com o mundo onde vivem e que saibam viver no mundo e no tempo a que pertencem.

ESCOLA PARQUE não é apenas um nome, mas um conceito complexo e profundo, uma filosofia de Educação. Neste início de século, certamente Anísio acompanharia com entusiasmo as modificações necessárias para a formação das novas gerações e conclamaria todos ao estudo, à discussão e às novas práticas, como sempre fez seu espírito inquieto.

"Não será espontaneamente que haveremos de sair da estrada do medo e da catástrofe para a da segurança e do razoável"... "os professores e a escola - cada vez mais importantes na civilização voluntária e inteligente que estamos criando, hão de ser os pioneiros nessa fronteira de progresso moral, que se terá de abrir de agora e por diante, na conquista do verdadeiro poder não só material mas humano sobre a vida neste planeta". 

O Complexo Educacional Carneiro Ribeiro (Escola Parque) projeto arquitetônico de Diógenes Rebouças, localizado no bairro da Caixa D'Água, criada pelo educador Anísio Teixeira, possui um grande tesouro artístico, que reflete os ecos do modernismo na Bahia, reunindo murais dos principais artistas da cena baiana da época.

Os cinco murais do pavilhão de trabalho, assinados por Mário Cravo, Carybé, Jenner Augusto, Maria Célia Mendonça e Carlos Mangano, com temas como 'o homem e a máquina', 'a energia' ou 'a evolução humana',encomendados pelo próprio Anísio Teixeira. Os dois principais painéis, de 20 metros de largura por 12 de altura, foram feitos por Cravo e Carybé, que utilizaram a técnica de têmpera a ovo sobre compensado, os afrescos de Jenner Augusto e Carlos Mangano e uma pintura a óleo sobre madeira de Maria Célia Mendonça.
 

"o mestre do amanhã, reunirá as funções de preceptor e de sacerdote. Ele será o sal da terra, capaz de ensinar-nos, a despeito da complexidade e confusão modernas, a arte de vida pessoal em uma sociedade extremamente impessoal".

   "…Eureca! Eureca! Você é o líder, Anísio! Você há de moldar o plano educacional brasileiro. Só você tem a inteligência bastante aguda para ver dentro do cipoal de coisas engolidas e não digeridas pelos nossos pedagogos reformadores… Eles não conhecem, senão de nomes, aqueles píncaros (Dewey & Co.) por cima dos quais você andou e donde pode descortinar a verdade moderna. Só você, que aperfeiçoou a visão e teve o supremo deslumbramento, pode neste País falar de educação!"  
Monteiro Lobato

Depoimentos de Anísio Teixeira, sobre a vida, amor, educação, democracia, ... 
(observando que ao longo do post, tem muito mais) 

“A vida não me deixou ser senão um homem de ação, ... de administração, escrevendo ao comando da circunstância, do dever imediato do meu cargo...”
(Trecho de carta a Alceu de Amoroso Lima, Rio de Janeiro, 17/5/1964)

“As coisas melhores que pude construir até hoje foram as minhas amizades. O nosso amor há de ser qualquer coisa de maior e de melhor. Ajude-me pois a construí-lo. Com o seu auxílio, ele há de ser tão alto, tão sólido, tão humano e tão bom que irá para além do nosso sonho...”
(Trecho de carta a Emília Telles Ferreira. Bahia, 31 julho de 1930)

“Caiu-me nas mãos um precioso livrinho francês, L’Idée réparatrice. Nenhum outro livro me soube fazer conhecer, tão a fundo, a essência mesma da doutrina de Jesus que este; (...) parece que Deus me esclarecia, para poder transpor com convicção a única barreira que encontrava para a Companhia de Jesus: o afastamento da família. Este ano não tive a consolação de obter o vosso consentimento...”
(Trecho de carta aos pais, Caetité, 25 de março de 1920, sexta-feira santa)

“Democracia sem educação e educação sem liberdade são antinomias em teoria, que desfecham, na prática, em fracassos inevitáveis.”
(Citação do professor Anísio, que consta no livro Anísio Teixeira: educador singular, de Hermano Gouveia Neto, p. 82)

“Jamais fizemos da educação o serviço fundamental da República...”
(Trecho de discurso na Assembléia Constituinte Baiana, em 1947)

“O passado é extremamente importante, mas como luz que ilumina o presente e nos ajuda a vê-lo melhor, e a evitar os erros e omissões da experiência anterior.”
(Extraído da nota explicativa do livro Educação e o mundo moderno)

“A Escola que possuímos é a escola para o tipo de civilização urbana, só aplicável ao campo na medida em que ele se urbaniza, reurbaniza, como dizem hoje, os sociólogos. Como isto, de fato acabará por se dar, em todo país, a escola deverá organizar-se tão bem quanto possível nas cidades e ir se estendendo pelo campo na sua missão de lhes transformar também gradualmente a vida...”
(Trecho de carta a Rubem Braga, [Rio de Janeiro], maio de 1957)

“Guardei de minha formação religiosa o sentimento de que viver é servir e nada mais esperar que o conforto desse possível serviço. A isto juntei sempre um agudo senso de certa insignificância pessoal, que jamais me permitiu pedir ou pleitear reconhecimento de qualquer espécie.”
(Trecho de carta a Fernando de Azevedo, Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 19..?)

“A liberdade do administrador público é muito pouca...”
(Trecho de sua fala na III Conferência Nacional de Educação, em Salvador-BA, 1967)

“Profissões se regulamentam, mas não se regulamenta a cultura. Um homem culto e um homem diplomado são duas coisas, infelizmente, bem diversas entre nós.”
(Trecho retirado de discurso proferido quando reitor interino da Universidade do Distrito Federal, em 31 de julho de 1935)

“Caro Lobato, amar a Unesco é uma coisa e casar com ela, outra. Com sete meses de vida marital, ando triste e desconsolado, nada me faz crer na Unesco de nossos sonhos.”
(Trecho de carta a Monteiro Lobato. Londres, 1947)

“O século XX ainda não descobriu que a verdadeira revolução é a Democracia, pois ela exige e impõe a transformação integral do ser humano e das sociedades”
(Citação extraída de “Anísio Teixeira: breve retrato de uma grande vida”, de Artur da Távola)

“Sou um homem a quem a vida dá e tira com a mesma grosseria e sinto que me vou desabituando à delicadeza”.
(Trecho de carta a Abgar Renault, Rio de Janeiro, 19 de maio de 1964)

“A realidade, porém, é que nos acostumamos a viver em dois planos, o real com suas particularidades e originalidades e o oficial com seus reconhecimentos convencionais de padrões inexistentes. Continuamos a ser, com a autonomia, a nação de dupla personalidade, a oficial e a real.”
(Trecho citado na revista Educação e Sociedade, ano 20, n. 68/Especial, dezembro de 1999, p. 81)

“No Brasil, a cultura isola, diferencia, separa. E isso por que? Porque os processos para adquiri-la são tão diversos, e os esforços para desenvolvê-la tão hostilizados e tão difíceis, que o homem culto, à medida que se cultiva, mais se desenraíza, mais se afasta do meio comum, e mais se afirma nos exclusivismos e particularismos da sua luta pessoal pelo saber.”
(Trecho de discurso pronunciado como reitor interino da Universidade do Distrito Federal, Rio de Janeiro, 31 de julho 1935)

Segue uma Bibliografia com centenas de livros, trabalhos e outros de e sobre ANÍSIO TEIXEIRA.

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