quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A morte de um herói - Artigo

Do Inebriada, de Carolina Padreca

A morte de um herói


Após muitos meses sem postar no blog, recomeço hoje, por conta de um assunto que tem deixado a cidade de pernas para cima.

Há menos de uma semana o Prefeito de Salto, José Geraldo Garcia, comunicou a alguns poucos representantes da mídia local, por meio de leitura de um discurso, que acabara de exonerar quatro secretários, todos eles de um só partido político, além do quinto que seria o então pré-candidato por ele escolhido a apoiar. Além disso, o vice-prefeito, Juvenil Cirelli (do mesmo partido dos exonerados) foi impedido de se pronunciar no primeiro evento público que se seguiu.

Hoje, pela manhã, o vice se pronunciou, dessa vez para todos os representantes da comunicação local, e sem discurso pré-montado.
Geraldo diz e reafirma que não traiu o vice, uma vez que não teria se comprometido a apoiá-lo. Juvenil, por sua vez, diz respeitar a quebra do compromisso, mas garante que tal acordo político existia sim.

Tenho 32 anos. Quando a atual gestão ainda cogitava a possibilidade de se unir eu estava com 24. O tempo não passou tanto a ponto de que eu pudesse me esquecer dos acontecimentos da época (minha amiga brinca sempre comigo, dizendo que eu sou o "HD externo" dela, tamanha boa memória).

Acontece que fui testemunha do início desse "namoro" entre as partes. O compromisso existia sim! Além disso, em diversas oportunidades públicas o prefeito tinha o costume de dizer que retribuiria ao vice todo o trabalho e dedicação deste.

Não estou aqui para dizer que o ser humano não possa mudar de ideia. Muito menos que ele, com o tempo e com o amadurecimento, não possa ter novos sonhos e objetivos.

O que se tenta expor na cidade hoje é a forma, não esperada e até então chocante, que tal decisão tenha sido passada aos que deveriam ter feito parte dela.

Da mesma forma que houveram conversas para ser decidida a união, dever-se-ia ter tido a mesma postura para o término.

Também não tenho absolutamente nada contra ao pré-candidato do Prefeito, o ex-secretário de governo Gilmar Mazzeto.

O que mais me deixa perplexa é ter sido “jogado fora” a boa administração dos secretários Caveden, Jussara, Tuco e Daniel. Fora isso, é bobagem afirmar o quanto desnecessário foi ter "ilhado" o vice dentro da administração.

Os representantes da comunicação local foram acostumados ao governo atual como transparente e acessível e de repente, após 7 anos, serão obrigados a se acostumarem novamente a uma nova regra: a obter informações somente com o aval do novo Diretor de Comunicação da Prefeitura.

Não sei se é apenas estratégia eleitoral, ou se é medo. Não sei se há coerção ou se a atitude do prefeito é voluntária e realmente consciente.

Hoje, um amigo meu, representante de um dos jornais da cidade me informou que o Prefeito tem andado com segurança. A pergunta é por quê? Por que ele se sente ameaçado por uma atitude que ele mesmo se propôs.

As palavras do vice hoje foram tranquilas e como sempre transparentes, sua atitude, ao longo do tempo que o conheço, sempre foi pacífica e coerente. O olho no olho do ser humano Juvenil continua como sempre foi, mesmo antes de ser vice.

Três frases que ele proferiu na coletiva me chamaram atenção:

"Eu acho que a gente tem que fazer política com inteligência”

“Eu detesto decepcionar as pessoas”
“O maior bem que um político tem é o cumprimento aos compromissos firmados”

Só isso já mostra o ser humano que ele é.

Há tempos, e já havia dito isso ao meu amigo assessor de imprensa Matheus Damato Jr. e a outras pessoas ligadas ao executivo, eu percebo que o Geraldo não olha mais as pessoas nos olhos. Que sorri encabulado... e que a admiração que eu tinha por ele foi se desmanchando pela diferença de tratamento que ele dava aos até então amigos e ouvintes.

Voltando ao início do texto, quando disse que fui testemunha da aliança, não foi uma participação direta, mas como membro cativo dos bastidores, onde reuniões eram feitas e objetivos traçados. Nessa época, Geraldo era próximo, encarava com vontade e tinha um brilho bom e bonito nos olhos.

Não discuto política, nesse momento. Para mim, é um momento de luto. Luto particular. Por que foi reafirmada a péssima impressão que estava tendo em relação ao homem que um dia admirei e que hoje lamento.

Esse texto não visa nenhum tipo de apontada de dedo na cara de ninguém. São todos adultos e sabem o que fazem. É mais um desabafo, apertado e sofrido, de uma pessoa que perde um ídolo. De uma filha que se decepciona ao ver que o pai, de herói não tem nada...

Que a cidade tenha melhorado é notável e louvável. Mas a administração não foi só nem de um, nem do outro. Era uma aliança. Era um grupo diferente e respeitador, onde cada um fazia a sua parte para Salto progredir.

E é disso que eu sentirei saudades. É a falta disso que lamento e lamentarei mais.
Tinha orgulho de poder ver a nossa querida localidade ganhar ares atrativos, ser gerenciada por pessoas ativas e dinâmicas. De saber que a democracia existia aqui! Realmente me orgulhava de poder ter assistido tudo desde o começo.

Hoje choro. Choro mesmo e Jussara, a ex-secretária viu isso acontecendo hoje cedo. Dói. Dói muito saber que a administração que acontecia muito bem aos meus modestos e ainda um pouco infantis olhos.

Não tenho conclusão montada. Não sei o que vai acontecer daqui pra frente. Só sei que tudo mudou e ainda há muita nebulosidade.

Torço apenas para o bem tanto da população, quanto do município em si.

Queria mesmo poder terminar esse texto de forma mais animada e positiva, mas, a única coisa que consigo escrever é que essa decisão não tem mais volta. Que essa aliança foi quebrada de vez. E que o futuro é incerto. E esse futuro que cito, nem é o de 2013, mas esse próximo, de final de mandato...

Que o prefeito, se chegar a ler essas palavras, possa, pelo menos, garantir que as pessoas que nomeou para representá-los nas diversas secretarias, possam ter direito a se expressar. Que dê ao vice o direito a voz e que perceba, que por mais que as pessoas próximas a ele tenham o dom da palavra e do discurso, não são donas da verdade e que precisam ser menos ditatoriais, para que não o prejudiquem ainda mais aos olhares do povo de Salto, que como eu, não se fez satisfeita, não pela escolha que ele fez, mas pela forma com que foi executada.

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