sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Resposta do Jornalista ao Novo Senador

Rede Brasil Atual

São Paulo – O jornalista João Peres, da Rede Brasil Atual e da Revista do Brasil, escreveu uma carta-resposta ao senador recém-eleito pelo PSDB em São Paulo, Aloysio Nunes, que na segunda-feira (25) o ofendeu verbalmente, momentos antes do início do debate entre os presidenciáveis, na sede da TV Record, em São Paulo.

O episódio foi lembrado na noite da quarta-feira (27) durante o ato que reuniu diversos representantes de setores da sociedade civil em defesa da democracia e da liberdade de expressão, pilares institucionais que vêm sendo sistematicamente atacados pela campanha de José Serra (e seus correeligionários).

Leia abaixo a íntegra da resposta de João Peres a Aloysio Nunes, publicada no blog Nota de Rodapé:

Senador, não tenho obrigação de me curvar ao poder

O senador eleito Aloysio Nunes (PSDB-SP) afirmou nesta quinta-feira (28) ao jornal Folha de S. Paulo que minha versão sobre o xingamento proferido por ele na última segunda-feira (25) é “mentira de petista”. Após me chamar de “pelego filho da puta”, diz o senador que sou “insolente.”

Vamos por partes. Quanto ao que me toca, o senhor sabe que não é mentira. O que eu lucraria inventando essa história? Como já lhe disse antes, sou jornalista, apenas relato aquilo que vi. Invenções, deixo-as para aqueles que se interessam por elas. Sobre o “petista”, senador, há coisas que a gente precisa provar quando fala. Essa é uma delas. O senhor pode revirar todos os registros do PT que não vai encontrar qualquer ligação entre mim e o partido. Se encontrar, pode escolher o local em que devo lhe pedir desculpas publicamente.

Se não encontrar, faz aquilo que deveria ter feito desde o lamentável episódio: retrata-se, mostrando que, como homem público, sabe reconhecer erros. Um colega seu, o prefeito Gilberto Kassab, já o fez uma vez e, ao que parece, segue vivo. A questão, senador, é que o mundo não está dividido entre tucanos e petistas. Recorrer a simplificações demonizantes, como se tudo que lhe ocorre de ruim na vida fosse culpa do PT, não vai resolver o problema.

Quanto à terceira acusação, a de ser “insolente”, contento-me em analisar o uso histórico desta palavra. Insolente era a característica que se atribuía aos escravos “rebeldes” ou “fugidios”. Depois, como nosso país não apagou certas heranças, passou a ser maneira como as elites chamavam aquele funcionário que tinha a ousadia de ter pensamentos próprios. É aquela empregada que irrita os patrões porque tem a insolência de atender o celular durante o trabalho. É aquele funcionário que enerva o chefe porque tem a insolência de propor que seu salário de miséria seja aumentado.

Então, sob os olhos da elite, sou mesmo insolente. Afinal de contas, não me agacho frente a uma pessoa pelo simples fato de ela ter mais posses ou mais poder do que eu. Muito pelo contrário, olho nos olhos de quem quer seja. Minha espinha, senador, nasceu com essa terrível mania de não se curvar. Sei que há colegas de profissão que não têm problemas em serem subservientes, em terem coleguismos com o poder.
O senhor me perdoe, senador, mas não é meu caso, e isso não me faz insolente nem petista.

Diferentemente do que o senhor insinua, sou jornalista sem aspas, jornalista de verdade. Como lhe disse, sou formado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e em algumas das redações para as quais gente de seu partido certamente dispensa grande apreço. Agora, se o senhor ainda não tirou o pé da Casa Grande, lamento. O meu já deixou a Senzala há algum tempo.

João Peres é jornalista, colunista do NR e repórter da Rede Brasil Atual

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