segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Artigo de Edinho Silva, Presidente do PT/SP

Em nome do diálogo e da tolerância

A matéria divulgada nesta quinta-feira, dia 07, pela imprensa dando conta que uma criança de nove anos foi agredida em um colégio católico em São Paulo pelo fato de defender a candidatura de Dilma tem que nos levar a uma profunda reflexão. Que ódio é esse? Que intolerância é essa que está sendo disseminada e que ganha os corações e mentes até mesmo das crianças?

Essa reflexão me remete aos tempos em que, ainda jovem, nos bancos da Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora, na Vila Velosa, então bairro da periferia de Araraquara, me despertava para os compromissos do Evangelho, da fé transformadora. Lá aprendi que toda a doutrina da Igreja tinha como pressuposto o diálogo, a tolerância inspirada no próprio Cristo e a unidade da Igreja.

A Igreja sempre foi a interlocutora da paz e não há reflexão, por mais distorcida que seja perante a realidade, que consiga atribuir outra vocação missionária à ela.

O sectarismo eleitoral de setores da Igreja está abrindo um precedente extremamente perigoso. Os pastores, que deveriam pacificar o rebanho e incentivar o diálogo como instrumento de construção da unidade, por interesses meramente conjunturais, disseminam o ódio entre os católicos, semeiam o fanatismo religioso, cultivam a intolerância. O monstro que estão alimentando ninguém sabe o exato o tamanho que poderá ficar e tão pouco a sua voracidade.

A cultura religiosa brasileira, inclusive pela nossa diversidade étnica e cultural, sempre foi do convívio, da tolerância, do diálogo e da paz. A Igreja Católica no Brasil, pelo seu papel histórico e vocação evangelizadora, deveria ser a guardiã e incentivadora da convivência pacífica entre todas as concepções religiosas. E, justamente a Igreja Católica, por meio de setores pouco reflexivos, cria as condições para a intolerância e para o fanatismo religioso no Brasil.

Esses mesmos setores, por meros interesses eleitorais, colocam em risco o maior patrimônio da Igreja: a sua unidade.

Não vou me aprofundar aqui no mérito dos interesses eleitorais que estão movendo setores pouco reflexivos da Igreja, já que não passam de manipulações que incentivam a mentira com o único objetivo: impor uma derrota eleitoral a um projeto político. Por contradição, o projeto que na história do nosso país mais se aproximou da doutrina social da Igreja. Um projeto que valorizou a vida em todos os sentidos, que hoje é representado por Dilma. Um projeto que combateu a fome, a miséria, olhando e incluindo os socialmente oprimidos.

Quero terminar essa ponderação chamando a todos para uma simples reflexão: a cada dois anos temos eleições no Brasil e faz parte da tradição da Igreja pedir para os católicos orientarem sua decisão, seu voto, tendo como base os documentos da Igreja. Essa prática inspirada no diálogo e na tolerância de pensamento, inclusive no ecumenismo, fez com que a Igreja fosse evangelizadora, mas jamais manipuladora.
Colocar a unidade da Igreja, a sua vocação de diálogo, tolerância e paz em risco por conta de interesses pouco explícitos é secundarizar a dimensão histórica e profética da Igreja do Cristo.

Que a violência contra crianças (agredida e agressores), que buscam em um colégio de orientação católica uma formação inspirada em valores cristãos, não tenha sido em vão. Que possamos fazer urgentemente uma reflexão, que os sacrifícios de Pedro e do próprio Cristo sejam inspiradores e restaure no Brasil a verdadeira vocação da Igreja. Que o Espírito Santo ilumine o nosso Bispado neste momento, que infelizmente, tornou-se confuso.

Edinho Silva
Presidente do PT do estado de São Paulo; ex-prefeito de Araraquara (2001-2008) e deputado estadual eleito

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