quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Candidato Tucano Não Responde e Mente




Brasília Confidencial No 366

 O candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, experimentou ontem a sua mais desastrada performance na televisão e, provavelmente, os piores 10 minutos de toda a campanha. Foi em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Questionado especialmente sobre o fato de explorar a religião para atacar sua adversária, Dilma Rousseff, e sobre as reações contraditórias que adotou diante das denúncias relativas a seu ex-assessor Paulo de Souza, o presidenciável tucano produziu um emaranhado verborrágico – e voltou a mentir sobre os dois temas Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista:

Fátima Bernardes: Esse segundo turno está radicalizado. Uma mistura entre religião e política que normalmente não costuma dar certo em lugar nenhum. A sua campanha tem explorado posições do PT e da candidata do partido, por exemplo, em relação ao aborto. Essa mistura, política e religião, não deveria ser evitada?

José Serra: Olha, não fomos nós que levantamos, nem nós exploramos. Acontece o seguinte: a Dilma manifestou-se a favor do aborto. Deu uma entrevista que está, enfim, tem o vídeo. O PT, no final do ano passado, fez aquele Programa Nacional de Direitos Humanos que tornava transgressor, criminoso, aquele que fosse contra o aborto. Então eles puseram a questão no ar.

Fátima: Mas a sua campanha também, candidato.

Serra: Eu sempre manifestei, eu sempre manifestei o seguinte: eu sou contra a liberação do aborto e nunca explorei isso do ponto de vista de que ela estaria errada por ser a favor do aborto. O que acontece é que ela afirmou uma coisa e depois afirmou o oposto. Nem reconhece que disse o oposto. E numa campanha, esses temas, Fátima, acabam sendo postos pela própria população.

Fátima: Mas, candidato...

José Serra: Nunca me passou pela cabeça transformar isso num centro de campanha.

Fátima: Mas candidato, sua campanha tem mostrado, falado insistentemente em Deus, tem mostrado imagens de missas, de cultos religiosos. Questões como essas do aborto, até mesmo a união civil entre homossexuais, elas não deveriam receber um tratamento de políticas públicas e não uma abordagem do ponto de vista da religião? Isso não contribui para um retrocesso no debate político?

Serra: Olha, eu insisto: quem introduziu esse ingrediente na campanha foi o PT e foi a Dilma. Como eu tenho uma posição contrária ao aborto, eu sempre fui perguntado, e sempre disse isso.

Fátima: Mas é um retrocesso. O senhor considera um retrocesso?

Serra: Todas as campanhas que eu fiz, eu sempre visitei igrejas, né, eu sou católico, mas sempre visitei igrejas, inclusive igrejas cristãs, evangélicas. Sempre falo no meu linguajar cotidiano, porque está incorporado, eu sempre digo: 'se Deus quiser'. Eu sou uma pessoa religiosa. Não há nada forçado neste sentido. E, aliás, a candidata não fez outra coisa senão passar a frequentar igrejas, coisa que habitualmente ela não fazia. Então isso dá um tipo de aquecimento que se transforma no que você falou. Agora o que eu quero dizer é que a base disso está no fato de que uma hora ela disse uma coisa e em outra hora ela diz o oposto. Aliás, não é o único caso que isso acontece.

Wiiliam Bonner: Candidato, na sua propaganda eleitoral o senhor tem mostrado obras grandes que realizou como governador em São Paulo: Rodoanel, a ampliação da Marginal do Tietê. Essas obras foram tocadas, em parte ou totalmente, pela Dersa, que é a empresa estadual que cuida disso. Quando o senhor era governador, o diretor da Dersa era Paulo de Souza, também conhecido como Paulo Preto por alguns. Paulo Preto foi acusado de ter arrecadado ilegalmente dinheiro para a campanha do PSDB e de ter ficado com esse dinheiro pra ele. O PSDB e o senhor já negaram essa afirmação, disseram que não houve essa arrecadação. Mas o fato é que antes de os senhores negarem isso, Paulo Preto, ao jornal “Folha de S.Paulo”, disse o seguinte: "Não se abandona um líder ferido na estrada”. O que ele quis dizer com isso?

Serra: Olha, William, antes dessa entrevista nós já tínhamos desmentido. Não houve desvio de dinheiro na minha campanha, que seria a vítima no caso. Ou seja: não houve ninguém que tivesse doado, o dinheiro não tivesse chegado, e a pessoa tivesse feito chegar a gente de que a contribuição não tinha chegado, porque ele tinha dado e não chegou. Isso não aconteceu.

Bonner: Mas esta frase, esta frase: "não se abandona um líder ferido na estrada".

José Serra: Esta frase...

Bonner: Parece ameaça.

Serra: Não, não. Porque sempre tem, dentro de um partido, gente que gosta de um, gente que não gosta de outro, mas o fato é que não houve o essencial que é o desvio de dinheiro da minha campanha, porque eu saberia. Em todo o caso, nós seríamos a vítima. Você percebe? Quer dizer, e aí não se trata, inclusive, nem de dinheiro do governo. É um dinheiro que foi contribuição para uma campanha. Eu desmenti isso há muito tempo. E o assunto volta posto, inclusive pelo PT, porque o que eles gostam de fazer? De vir com ataques, esses às vezes meio incompreensíveis para nivelar todo mundo, como se os escândalos da Casa Civil, como se os escândalos desse senhor Cardeal agora na Eletrobras, como se tudo isso pudesse ser também reproduzido, o que não aconteceu do outro lado. Eu não tenho nenhum chefe da Casa Civil...

Bonner: Sim, candidato...

Serra: ...que ficou do meu lado que aprontou tudo que a Erenice aprontou. Braço direito da Dilma.

Bonner: Sim, mas eu tenho de observar o seguinte: primeiro, Paulo de Souza tinha um cargo estratégico no seu governo. Era um cargo importante, de grandes obras. E teve uma filha dele, inclusive, contratada pelo senhor tanto na Prefeitura de São Paulo quanto no governo do estado em cargo de confiança. Quer dizer: essa relação sua com parentes, também, de alguma maneira, não configura aí um nepotismo dentro do governo?

Serra: Veja, essa menina foi contratada, eu nem conhecia, não foi diretamente por mim, para trabalhar no Cerimonial, que é, que faz recepções, que cuida de solenidades e tudo mais, entre muitas outras. Tinha um currículo, sabia dois idiomas, ou sabe dois idiomas, sempre trabalhou corretamente. Inclusive eu só vim a saber que era filha de um diretor de uma empresa muito tempo depois. Ela não está em nenhum cargo, nunca teve nenhuma acusação, nem nenhum cargo que tome decisões, faça lobby, pegue dinheiro, como no caso dos filhos da Erenice.

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