terça-feira, 5 de abril de 2011

Grupo de Extermínio Flagrado em SP

Brasília Confidencial No 443

A coragem de uma cidadã levou à prisão dois policiais militares que assassinaram um homem em Ferraz de  Vasconcelos, na Grande São Paulo. A mulher estava no Cemitério das Palmeiras para visitar a sepultura do  pai quando viu dois PMs tirarem uma pessoa da viatura e executá-la. Ela ligou imediatamente para o telefone 190, do Comando de Operações da PM, e relatou o crime. A gravação do telefonema, divulgada ontem  pela Rádio CBN, mostra que a testemunha conseguiu passar ao Copom até os dados da viatura.
 
Os policiais ainda tentaram intimidá-la, mas acabaram presos no dia 12 de março. ”Olha, eu estou aqui no  Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos, e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura  aqui dentro do cemitério, com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa dentro do carro e deu um  tiro”, denuncia a testemunha.
 
E continua:
 
“Essa hora do dia fazer isso!? Diz que já é normal fazerem isso aqui, mas não é normal eu assistir isso. Eu estou no Cemitério das Palmeiras, a viatura está parada, está ali”, relatou a mulher ao Copom. Um dos  policiais assassinos aborda a testemunha alguns minutos depois e alega que estava socorrendo a pessoa que  acabou de executar. A mulher o enfrenta indignada. “Socorrendo? Meu senhor, olha bem pra minha cara”. Os dois policiais denunciados, Ailton Vidal e Felipe Damel, estão presos e respondem a um inquérito policial militar. Um deles já se envolvera em três assassinatos de pessoas que, segundo os boletins de ocorrências,  resistiram a ações policiais. Segundo a polícia, o homem executado no cemitério de Ferraz de Vasconcelos  com um tiro no peito, Dileone Lacerda de Aquino, de 27 anos, tinha cumprido pena no interior de São Paulo e havia sido preso por suspeita de roubo, desacato, receptação, formação de quadrilha e resistência à  prisão. Ele teria sido apanhado novamente por participar do roubo a um furgão na zona leste de São Paulo. Ao tentar fugir, bateu o carro contra o muro de um condomínio e foi alvejado pelos policiais numa das  pernas. Em seguida, os policiais o colocaram no carro de polícia, o levaram até o cemitério, o executaram,  colocaram o corpo de volta na viatura e levaram até um pronto-socorro.
 
553 MORTOS POR ANO
 
São Paulo tem vários grupos de extermínio formados por policiais. Somente nos últimos quatro anos, pelo menos 150 pessoas foram assassinadas por policiais militares.
 
A PM paulista mata, em média, três civis a cada dois dias. Entre os anos 2000 e 2010, matou 553 pessoas e feriu 450, em média, a cada ano. No total, foram mais de 6.000 assassinados. No mesmo período, 390 PMs foram mortos em ação.
 
No mês passado, a Polícia Civil paulista divulgou documento que relata 150 assassinatos praticados por  policiais militares que agem em dois esquadrões, apenas na capital. Os crimes foram cometidos entre 2006 e 2010. Há suspeitas de outros esquadrões agindo na Grande São Paulo. A PM prometeu providências, mas apenas parte dos policiais criminosos está presa.
 
Segundo o relatório produzido no ano passado, 20% dos assassinatos foram cometidos por vingança; 13% por abuso de autoridade; outros 13% pelo que o documento chama de 'limpeza' (assassinato de viciados em drogas, por exemplo); 10% por cobranças ligadas ao tráfico e 5% por cobranças de jogo ilegal. 

VEJA ABAIXO A GRAVAÇÃO DO COPOM

Testemunha 1: Alô.

Copom: Alô. Pois não?
 
Testemunha 1: Olha, eu estou aqui no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos, e a Polícia  Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa dentro do carro e deu um tiro. Eu estou aqui, próximo da sepultura do meu pai.
 
Copom: A senhora sabe o prefixo dessa viatura, alguma coisa assim?
 
Testemunha 1: Não. Eu não vou chegar perto pra olhar. Eu estou olhando a viatura, mas não dá pra ver o  prefixo. Essa hora do dia fazer isso? Diz que já é normal fazer isso aqui, mas não é normal eu assistir isso. Eu estou no Cemitério das Palmeiras. A viatura está parada, está ali.
 
Copom: Senhora, eu entendo. Ferraz de Vasconcelos. A senhora poderia repetir o endereço ai?
 
Testemunha 1: A viatura vai passar e vai dar pra ver o prefixo (vozes ao fundo). Estou ligando para a polícia, estou ligando para a polícia.
 
Copom:Olha, eu vou anotar o prefixo quando a senhora me falar.
 
Testemunha 1:Olha, eles estão fechando, eles vão passar pela gente e ai eu vou ver o prefixo da viatura.
 
Copom:Tá certo.
 
Testemunha 1: Eles estão lá. Eles vão sair. Ela está dando ré. Vai passar por mim.
 
Copom: Já está com o prefixo já, senhora?
 
Testemunha 1: Espera só um pouquinho que eles estão fazendo a curva.
 
Copom: Eu vou registrar um alerta aqui e eu peço a sua gentileza de também fazer essa denúncia na Corregedoria da Polícia Militar.
 
Testemunha 1: Espera só um pouquinho que eles vão passar por mim agora.
 
Copom: Tudo bem.
 
Testemunha 1: Espero que eles não me matem também. Olha lá. A placa é DJL-0451. O prefixo é 29411, M29441.
 
Copom: Tudo bem, senhora. Obrigado por essa informação. Eu vou cadastrar essa ocorrência e eu peço que a senhora também ligue na Corregedoria da Polícia Militar. O telefone a senhora pode anotar?
 
Testemunha 1: (falando com terceiros) Já passei. Já passei. Está bom.
 
Copom: 0451 o final da placa, né?
 
Testemunha 1: Eu não sei porque ele está vindo agora. Tem um PM vindo na nossa direção. Eu não sei qual  é o (...). (falando com o PM) Oi, desculpa senhor. O senhor que estava naquela viatura ali? O senhor que  efetuou o disparo? É o senhor que tirou a pessoa de dentro ali atrás de onde nós estávamos? Eu estou  falando com a Polícia Militar.
 
PM suspeito: Não, não. Eu estava socorrendo o rapaz.
 
Testemunha 1: Socorrendo? Meu senhor, olha bem pra minha cara. (Trecho incompreensível)
 
PM suspeito: Calma, senhora. A senhora não sabe o que o rapaz fez.
 
Testemunha 1:Minha nossa. (Trecho incompreensível)
 
Testemunha 1: É verdade então a história, realmente. Ele falou que estava socorrendo, mentira. Ele entrou dentro do cemitério com a (...)
 
Testemunha 2: Você não sabe o que aconteceu.
 
Testemunha 1: Eu sei bem. Eu não sei o que ele fez (voz do PM ao fundo) É mentira, senhor. Eu não quero  conversar com o senhor. O senhor paga o que o senhor faz. O senhor tem a consciência do que faz.
 
Copom: Senhora? Senhora?
 
Testemunha 2: Você vai se complicar.
 
Testemunha 1: Não vou me complicar. Vou me complicar por quê? Ele está dizendo que estava socorrendo, ele entrou dentro do cemitério.
 
Testemunha 2:Você também, ele ameaçou. Ele ameaçou.
 
Copom: Senhora?
 
Testemunha 1: Está bom, obrigada. O senhor já registrou, né?
 
Copom: Sim, eu já registrei, eu tenho os dados aqui. Mas eu falei pra senhora, liga no telefone da  Corregedoria da Polícia Militar e passa essa denúncia.
 
Testemunha 1: Não entendi.
 
Copom: A senhora precisa ligar no telefone da Corregedoria da Polícia Militar e fazer essa denúncia.
 
 

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