Do Luis Nassif - vale a pena ler os comentários
Eleonora Ducerisier
Hoje não me sinto cidadã. Cidadã de nação alguma, de país algum. Desejo esquecer o idioma que falo. Desejo me desfazer de qualquer coisa que me caracterize e que indique, mesmo que de forma remota, que eu compactuo com o mundo ao meu redor.
Enlouquecemos.
Essa é uma carta de repúdio. Repúdio à atrocidades, repúdio à conivência, repúdio à impossibilidade de se viver em paz. Peço que nenhum filósofo de plantão se levante esclarecendo que a paz é um conceito relativo e que isso e que aquilo. Respeitem a minha condição de ser vivo apenas, não quero racionalizar, não posso elevar meu medo à transcendência. Calem-se todos os que dirão que o ser humano é imperfeito e que nossa angústia é lírica. Vocês também sentem dor, também sentem medo e tenho certeza que correm ao ouvir um disparo. É ao estampido, à corda no pescoço, ao abuso sexual, ao desvio de verba destinada a erguer um hospital, ao mau professor, a falta de empatia e compaixão que eu dirijo minhas palavras.
Não é possível não se fazer nada.
Não é um problema da nossa pátria amada tão desgarrada e que nos pari aos milhões, é global. É a única coisa realmente democrática nesse mundo: a selvageria e a estupidez humana. Culpem quem quiserem culpar, isso não altera em nada. Se não é o governo, é a desigualdade, a condição humana. É tudo.
Não vamos culpar ninguém, foi dito, não fará diferença. Vamos nos responsabilizar pelo quinhão que nos cabe. Cada um de nós, brasileiros, americanos, suíços, japoneses, congoleses, e todos os outros adjetivos pátrios que há, somos os responsáveis pelas dores individuais e coletivas. Em grande e pequena proporção.
Hoje me doeu ler que crianças foram mortas numa escola. E não sou uma fútil de me emocionar com o que é relatado, de forma sensacionalista e clichê, pela grande imprensa. Nem uma simplória de achar que essa é a pior coisa que possa acontecer. Sou uma hipócrita. Que hoje sentiu as bases de sua hipocrisia abalada, já que a dissolução de nossa sociedade é tão clara, que nem mesmo eu posso fingir que não a vejo.
É evidente demais, é claro demais, é triste demais e é o suficiente. Não é possível viver de olhos fechados o tempo todo.
Ouvi culparem os islâmicos, a pobreza no país, a falta de segurança nas escolas, a existência de armas, mas alguém por favor desperte! Armas não se disparam sozinhas! Não é um problema terceirizado, não é um problema do lado de fora. É algo interno, é um problema humano, de conduta, de escolhas. Somos nós os problemas. Nossas escolhas, nossas postura enquanto indivíduos. Seria impossível descrever a bola de neve que uma atitude impensada pode ter. Mas são essas atitudes que nos remetem de volta à barbárie. De que adianta qualquer passo em direção a um futuro, se ele representa um retrocesso? Sociedades anteriores a era cristã eram mais equilibradas do que a nossa... E sociedades são compostas por indivíduos. O desequilíbrio é nosso. É seu, é meu, é de todo mundo. Nos tornamos um arremedo da evolução, crescemos ao contrário. Tecnologia nunca foi e nunca será sinônimo de evolução. É apenas poder. Somos boçais.
Não há um único culpado por situações de atrocidades. Nada justifica o indizível. Hoje eu demonstro meu repudio ao indivíduo humano, à unidade transformadora que aperta o gatilho, que viola um outro ser, que se compraz na falta alheia, que se compraz com a dor alheia.
E a todos os organismos formados por essas unidades, aos meios de comunicação, aos governos e aos sistemas, às elites e massas dominantes, aos dominados e servis, aos bancos,aos mercados, aos carros, às sacolas plásticas, às igrejas, aos ignorantes, aos desumanizados, aos intelectuais, aos artistas, às artes, às necessidades, aos egoísmos, às instituições, a todos e todas: espero que daqui 500 anos quem olhe pra trás se arrepie com nossa brutalidade.
Eleonora Ducerisier
Eleonora Ducerisier
Hoje não me sinto cidadã. Cidadã de nação alguma, de país algum. Desejo esquecer o idioma que falo. Desejo me desfazer de qualquer coisa que me caracterize e que indique, mesmo que de forma remota, que eu compactuo com o mundo ao meu redor.
Enlouquecemos.
Essa é uma carta de repúdio. Repúdio à atrocidades, repúdio à conivência, repúdio à impossibilidade de se viver em paz. Peço que nenhum filósofo de plantão se levante esclarecendo que a paz é um conceito relativo e que isso e que aquilo. Respeitem a minha condição de ser vivo apenas, não quero racionalizar, não posso elevar meu medo à transcendência. Calem-se todos os que dirão que o ser humano é imperfeito e que nossa angústia é lírica. Vocês também sentem dor, também sentem medo e tenho certeza que correm ao ouvir um disparo. É ao estampido, à corda no pescoço, ao abuso sexual, ao desvio de verba destinada a erguer um hospital, ao mau professor, a falta de empatia e compaixão que eu dirijo minhas palavras.
Não é possível não se fazer nada.
Não é um problema da nossa pátria amada tão desgarrada e que nos pari aos milhões, é global. É a única coisa realmente democrática nesse mundo: a selvageria e a estupidez humana. Culpem quem quiserem culpar, isso não altera em nada. Se não é o governo, é a desigualdade, a condição humana. É tudo.
Não vamos culpar ninguém, foi dito, não fará diferença. Vamos nos responsabilizar pelo quinhão que nos cabe. Cada um de nós, brasileiros, americanos, suíços, japoneses, congoleses, e todos os outros adjetivos pátrios que há, somos os responsáveis pelas dores individuais e coletivas. Em grande e pequena proporção.
Hoje me doeu ler que crianças foram mortas numa escola. E não sou uma fútil de me emocionar com o que é relatado, de forma sensacionalista e clichê, pela grande imprensa. Nem uma simplória de achar que essa é a pior coisa que possa acontecer. Sou uma hipócrita. Que hoje sentiu as bases de sua hipocrisia abalada, já que a dissolução de nossa sociedade é tão clara, que nem mesmo eu posso fingir que não a vejo.
É evidente demais, é claro demais, é triste demais e é o suficiente. Não é possível viver de olhos fechados o tempo todo.
Ouvi culparem os islâmicos, a pobreza no país, a falta de segurança nas escolas, a existência de armas, mas alguém por favor desperte! Armas não se disparam sozinhas! Não é um problema terceirizado, não é um problema do lado de fora. É algo interno, é um problema humano, de conduta, de escolhas. Somos nós os problemas. Nossas escolhas, nossas postura enquanto indivíduos. Seria impossível descrever a bola de neve que uma atitude impensada pode ter. Mas são essas atitudes que nos remetem de volta à barbárie. De que adianta qualquer passo em direção a um futuro, se ele representa um retrocesso? Sociedades anteriores a era cristã eram mais equilibradas do que a nossa... E sociedades são compostas por indivíduos. O desequilíbrio é nosso. É seu, é meu, é de todo mundo. Nos tornamos um arremedo da evolução, crescemos ao contrário. Tecnologia nunca foi e nunca será sinônimo de evolução. É apenas poder. Somos boçais.
Não há um único culpado por situações de atrocidades. Nada justifica o indizível. Hoje eu demonstro meu repudio ao indivíduo humano, à unidade transformadora que aperta o gatilho, que viola um outro ser, que se compraz na falta alheia, que se compraz com a dor alheia.
E a todos os organismos formados por essas unidades, aos meios de comunicação, aos governos e aos sistemas, às elites e massas dominantes, aos dominados e servis, aos bancos,aos mercados, aos carros, às sacolas plásticas, às igrejas, aos ignorantes, aos desumanizados, aos intelectuais, aos artistas, às artes, às necessidades, aos egoísmos, às instituições, a todos e todas: espero que daqui 500 anos quem olhe pra trás se arrepie com nossa brutalidade.
Eleonora Ducerisier
Olá, eu sou a tal Eleonora, muito obrigada pela atenção. Como eu já disse, gostaria que esse texto fosse ficcional... um grande abraço!
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