Governador do Estado de Goiás e convocado a depor na Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as ligações
criminosas da quadrilha do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, Marconi Perillo
(PSDB) precisará explicar uma transação financeira que realizou com
cheques recebidos pela venda de uma casa, no ano passado. O dinheiro
saiu de uma conta bancária abastecida com dinheiro da empreiteira Delta,
segundo peritos da Polícia Federal (PF). Pela venda do imóvel, Perillo
recebeu três cheques da Excitant Confecções, de uma conta na Caixa
Econômica Federal em Anápolis (GO), dois de R$ 500 mil e um de R$ 400
mil. Segundo a PF, a Delta depositou cerca de R$ 250 mil nessa conta por
meio de uma empresa fantasma chamada Alberto e Pantoja Construções,
criada pelo grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira apenas para receber dinheiro da empreiteira.
Para a assessoria de Perillo, em nota divulgada nesta sexta-feira,
“se houvesse má-fé ele não teria recebido em cheques nem depositado em
sua conta”. De acordo com o que disse um de seus assessores, “não cabia
ao vendedor do imóvel verificar a origem dos cheques nem dos recursos.
Quem deve explicações sobre os cheques é o emitente”. A história, porém,
não é tão simples. Até o principal líder tucano no momento, o
ex-governador e hoje senador Aécio Neves, acredita que Perillo precisará
“prestar os esclarecimentos devidos” em seu depoimento à CPMI do
Cachoeira, marcado para o próximo dia 12.
Aécio aproveitou a entrevista concedida, na noite passada, em Belém,
para criticar o que chamou de “viés de seletividade” da CPMI, na qual
alguns parlamentares buscaram, sem sucesso, evitar a convocação do
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que também é
suspeito de integrar o esquema de Cachoeira, o que Agnelo nega.
– Votamos unanimemente pela convocação de Perillo, diferentemente das
lideranças do PT, que preferiram preservar os seus e atacar os
adversários, independentemente do nível das acusações – disse o senador
sem explicar, no entanto, o apoio do partido dele na blindagem ao
governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral Filho, de quem é amigo
pessoal, e foi beneficiado com a recusa dos parlamentares para ouvir as
explicações dele acerca das ligações com o ex-presidente da Delta,
Fernando Cavendish.
Outra denúncia
Além da venda de uma casa por mais de R$ 1,4 milhão, Perillo também
se vê confrontado por um de seus assessores, o coordenador da propaganda
eleitoral no rádio, em 2010, jornalista Luiz Carlos Bordoni. Ele
afirmou a jornalistas, na véspera, que uma empresa do esquema do
contraventor Carlinhos Cachoeira foi usada para pagar os serviços de
publicidade que ele prestou para a campanha do governador goiano.
Segundo Bordoni, o pagamento, feito pela mesma Alberto e Pantoja, a
empresa fantasma que, segundo a PF, era controlada por Cachoeira, sob o
comando de Lúcio Fiúza Gouthier, assessor especial de Perillo.
O depósito de R$ 45 mil, referente à metade do total de R$ 90 mil que
o jornalista diz ter ficado pendente de pagamento após as eleições, foi
feito pela Alberto e Pantoja na conta da filha de Bordoni, Bruna
Bordoni, em 14 de abril de 2011, e consta dos autos da Operação Monte Carlo. Segundo o jornalista, o pagamento saiu depois de ele ter cobrado o staff de Perillo da dívida, que já perdurava seis meses. Quem cuidou da operação foi o assessor do governador.
“O sr. Lúcio Gouthier me ligou perguntando o número da minha conta
pra depositar esse dinheiro. Eu disse a ele que estava viajando, e que
minha filha, que paga minhas contas e administra as minhas coisas, iria
receber. Dei o número da conta dela para ele. De repente, essa conta foi
passada para a Pantoja”, sustentou Bordoni, em entrevista exclusiva ao
jornal conservador paulistano O Estado de S. Paulo.
– O dinheiro foi depositado pela Pantoja na conta da minha filha. Era
dívida de campanha do governador Marconi Perillo dos R$ 90 mil de saldo
do trabalho que prestei a ele no programa de rádio na campanha de 2010 –
afirmou ao diário.
R$ 1,4 milhão
Lúcio Gouthier é o assessor de Perillo que assinou documento
afirmando ter recebido R$ 1,4 milhão pela casa do governador, que
supostamente foi vendida para Carlinhos Cachoeira. Ele também é suspeito
de ter recebido R$ 500 mil, que teriam sido enviados pelo braço direito
do contraventor, Wladimir Garcêz, ao Palácio das Esmeraldas, sede do
governo goiano, em uma caixa de computador.
A assessoria de Perillo nega ter feito os pagamentos por meio da empresa.
– O Lúcio Gouthier é o homem que resolve todas as questões pendentes
das campanhas eleitorais. Ele se responsabilizou por isso, ele resolveu e
ele pagou. Pediu o número da conta pra depositar e depositou – afirma
Bordoni, que comandou todas as propagandas eleitorais de Perillo no
rádio desde 1998, e, em 2010, além de dirigir os programas, era também o
locutor.
Bordoni afirma que ele e Bruna só se deram conta da origem do
pagamento quando o nome da filha apareceu na quebra de sigilo da Alberto
e Pantoja. Bruna chegou a ser nomeada em 2005 como assessora do senador
Demóstenes Torres, mas não tomou posse porque foi diagnosticada com uma
doença no fígado e teve de fazer um transplante. Segundo Bordoni, a
nomeação era um gesto de gratidão porque ele havia feito a campanha de
Demóstenes ao Senado em 2002 sem cobrar.
O jornalista declarou conhecer Perillo desde que o governador
integrava o PMDB Jovem na década de 1980, e disse ter “relação de
amizade” com o tucano. Bordoni diz ter resolvido vir a público denunciar
o pagamento quando o nome de sua filha foi citado durante o depoimento
de Demóstenes ao Conselho de Ética, nesta quarta, e por ter tido sua
credibilidade sob suspeita.
– Prestei o serviço honestamente. Não vou deixar que ninguém venha avacalhar minha credibilidade por causa de Cachoeira – concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário