A ação movida pelo PSDB contra a publicidade destinada a blogues e sites
críticos ao candidato tucano em São Paulo, José Serra, trouxe à tona
a discussão sobre a política de comunicação do governo federal nas
gestões Lula e Dilma. Os tucanos acusam o governo federal de utilizar
dinheiro público para alimentar um aparato de oposição.
Para Francisco Fonseca, professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas e autor do livro Consenso Forjado,
a estratégia de pulverizar o montante destinado à publicidade de
departamentos públicos é “importante”. Em 2003, 499 veículos em 182
municípios recebiam verba para publicidade diretamente do governo
federal. Em 2010 eram 8.094 veículos em 2.733 municípios.
“Historicamente, o critério usado é o de audiência. O problema é que
esse não é o único critério que precisa ser adotado. Porque a própria
publicidade oficial pode estimular a maior solvência de mídias
alternativas, dando novas alternativas de informação aos cidadãos”,
argumenta.
Para o PSDB, é preciso apurar “a utilização de organizações, blogs e
sites financiados com dinheiro público, oriundo de órgãos da
administração direta e de estatais, como verdadeiras centrais de coação e
difamação de instituições democráticas”.
Fonseca discorda desta visão: “No Brasil, 11 famílias dominam os
meios de comunicação. Não há espaço para vozes alternativas. O Brasil
real não está na televisão. Eu diria que estamos profundamente atrasados
quando o assunto é democratização dos meios de comunicação”, analisa.
“Causa certo espanto um partido como o PSDB, ainda mais um candidato que
foi apoiado pela grande mídia colocar-se na posição de atacado. Nós
poderíamos citar o jornal O Estado de S. Paulo, a Rede Globo e a revista Veja, falando dos principais, que tiveram posição muito clara em relação à candidatura Serra em 2010”, diz.
Blogueiros
Para os jornalistas enquadrados por Serra como “blogueiros sujos” por
apresentarem posicionamento crítico em relação ao seu partido e a sua
campanha na disputa presidencial de 2010, não há pretensão de travar uma
discussão séria sobre a distribuição de verbas públicas em publicidade
ou de democratização da comunicação.
- É uma decisão política tocada durante uma campanha eleitoral. Não
seria tomada em outro momento – diz o jornalista Luiz Carlos Azenha, do
blogue VioMundo, que atribui a decisão à alta taxa de rejeição
do tucano, atualmente em 37%, frente a uma intenção de voto sempre
abaixo disso. “Talvez alguém tenha dito que a alta rejeição seja
consequência das mídias sociais. Mas acho que ele comete um erro, tem
uma visão antiquada. Os blogueiros não são capazes de mudar a opinião de
uma pessoa”, acredita.
Ele avalia que o papel crescente da internet tem relação com a busca
dos leitores de encontrar opiniões convergentes. “Os leitores é que
procuram os blogues porque estão insatisfeitos. Se vamos tratar de
patrocínio, temos de ver no geral. Quanto é gasto com a Veja, a Globo, o Estadão e quanto gasta com os blogueiros?”
- Acho triste que o PSDB jogue a história no lixo desse jeito. Em
2010, tucanos usaram religião de uma forma abjeta. Agora, partem para
intimidação judicial. Não vai dar certo, e o Serra pode ficar com a
pecha de censor – acredita o repórter Rodrigo Vianna, que mantém O Escrevinhador. Ele acredita que a medida do PSDB quer criar constrangimento às estatais que anunciam em blogues.
Luiz Nassif, que teve seu blogue citado na petição do PSDB, ao lado
de Paulo Henrique Amorim, acredita que a decisão de Serra reflete a
“truculência” do ex-governador. “Hoje a maior ameaça ao PSBD é o próprio
Serra. Todos do partido conhecem os métodos dele e muitos já se
afastaram, inclusive o próprio FHC”, afirma. “Eu lamento que o partido
continue entrando na onda dele”.
Para Renato Rovai, editor da revista Fórum e do Blog do Rovai,
o pedido de explicações tem relação com a declaração do próprio Serra,
tachada por ele como desastrada, em que afirma que o PT mantem uma
“tropa nazista” na internet.
- Eu estou estudando a possibilidade de processá-lo e talvez outros
blogueiros façam isso. Se tem nazis ele tem obrigação de dizer os nomes.
Isso é uma acusação muito grave – afirma.
- Tem de discutir os recursos públicos destinados a publicidade. Eu
sou a favor que isso seja discutido de forma transparente. Mas acho que
averiguar só a situação de três blogs é perseguição. Tem de discutir de
todos, de todos os governos e a forma como isso é feito no Brasil e como
tem sido usado para beneficiar conglomerados de comunicação. É um
absurdo a compra de assinatura na gestão Serra, no governo do estado, de
produtos da Editora Abril sem licitação – menciona.
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