Lágrimas a Serem Respeitadas

Hoje em minha sala uma das diretoras de escola chorou. Um choro doído frente a um problema que também revolta: tinha em sua escola uma pequena menina de dez anos que sofre abusos sexuais de seu padrasto. A partir da descoberta, todos os caminhos necessários para o fim dessa barbárie foram tomados. E o que esperamos agora é a justa punição desse cidadão.

Entretanto, o motivo desta postagem é continuar talvez as reflexões da anterior e registrar minha admiração por aquelas lágrimas. Dói para quem trabalha com esses pequenos saber o que muitos deles passam nas mãos de pessoas que jamais poderiam ousar ter aos seus cuidados essas preciosidades. Quem trabalha com eles e vive diariamente descobrindo suas riquezas não suporta uma agressão dessas. Não suporta saber que aquele pequeno ser, que poderia brilhar na vida e fazer a vida brilhar ao seu redor, é diariamente apagado em seus sonhos, em suas vontades, para ter medo. Medo dos adultos. Medo do que eles representam, do que eles são capazes de fazer. E a diretora chorou. Chorou porque todo o seu esforço de ajudar esse brilho potencial é destruído por um adulto. E certamente o sentimento de impotência a estava dominando naquela hora.

Impossível não ligar esse acontecimento com a postagem anterior. Impossível não perceber ai mais uma causa do que cada dia mais é comodo para nós adultos: a transferência de responsabilidades. Quando um pequeno ser como esta menina passa por esse tipo de tratamento (e ela certamente não é a única) fica evidente que está na hora de pararmos tudo e confrontarmos o que criamos para buscar saídas.

Não é uma crise de estado que vivemos. Não são problemas de segurança que sofremos. Definitivamente o que passa pela nossa sociedade nestes tempos é uma total falta de valores e objetivos. E enquanto isso não for encarado, corremos o risco de criar paliativos perigosos como o tal "Toque de Recolher" e jamais entender as lágrimas que hoje vi e respeitei profundamente.