domingo, 12 de dezembro de 2010

A Folha Não Muda - Saudades da Ditadura

Do VioMundo

A Folha apresenta neste domingo uma reportagem sobre ex-vizinhos do Palácio do Planalto que melhoraram de vida desde que Lula assumiu, em 2002.

Sob o título “A classe C mora ao lado”, a reportagem é uma confissão envergonhada de que algo mudou no Brasil.

Mas para por aí.

Usando como “base estatística” quatro famílias, o jornal do Otavinho diz que três delas subiram na vida sem ajuda do governo.

Mas o mais impressionante é a “análise” de Gustavo Patu (reproduzida abaixo).

O analista da Folha diz que não existem estatísticas confiáveis que permitam uma avaliação de longo prazo sobre a ascensão social no Brasil e sobre as causas de tal ascensão.

E, na ausência de tais estatísticas, conclui que “recuar mais no tempo provocaria uma comparação incômoda com os resultados obtidos durante os anos 70, na ditadura militar”.

Ué, Patu, mas na ausência das estatísticas e estudos, como é que você sabe que a comparação seria “incômoda”?

É a lógica do jornal do Otavinho, em ação.

Fiquem com esta jóia:

Oportunismo contamina debate sobre a pobreza
GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA

“Nós tiramos” X milhões da pobreza (ou miséria) “e elevamos” Y milhões à classe média, repete, desde os tempos de candidata, a presidente eleita, Dilma Rousseff.

A ascensão social não é apresentada como mérito dos indivíduos, mas como feito dos governantes. X e Y variam conforme o estudo mais recente ou conveniente a ser citado. O debate sobre a pobreza permanece contaminado por escassez de diagnósticos e por sobra de oportunismo político.

A pobreza do debate começa pela inexistência de uma base estatística sólida sobre o tema -elaborada com metodologia transparente, atualizada com regularidade e capaz de abarcar uma série histórica longa.

Restam trabalhos isolados, ainda que meritórios, produzidos por meia dúzia de economistas especializados, com variadas definições do que seria um pobre, um miserável ou um cidadão de classe média.

Os governistas só exibem os dados contabilizados a partir de 2004 — o ano de 2003, de aumento da pobreza, é deixado de lado — ou, no máximo, depois do Plano Real. Recuar mais no tempo provocaria uma comparação incômoda com os resultados obtidos durante os anos 70, na ditadura militar.

É indiscutível que a pobreza teve forte queda nos últimos anos, com créditos para a administração petista já reconhecidos pelo eleitorado. Mais complexo é ponderar o peso de cada uma das causas do fenômeno.

Crescimento econômico, que não depende só das políticas domésticas, aparenta ser mais crucial que o salário mínimo ou o Bolsa Família.

A transformação demográfica hoje vivida pelo Brasil, com redução do número de filhos por família e maior proporção de adultos produtivos na população, já ajudou a enriquecer o mundo desenvolvido no passado.

Até o dólar barato, que ameaça a indústria e as exportações, contribuiu decisivamente para a sensação geral de bem-estar ao reduzir a inflação sem necessidade de juros ainda mais altos.

Leia aqui o contorcionismo de O Globo para “provar” que o governo Lula foi uma desgraça econômica, na análise do Miguel do Rosário.

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