terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Sobre a História do México

Do Luis Nassif

DO BLOGUEIRO> Gostaria muito da opinião de minha querida nora, Cláudia. Que achas do texto?

Por MiriamL
Do UOL

Análise: esqueça o que dizem sobre o México
Carlos Fuentes*
The New York Times

Eventos recentes que têm ocorrido no México – a guerra contra as drogas, a violência de gangues e os assassinatos – colocam em destaque apenas o lado perverso, separando o meu país de um contexto mais amplo e de sua história. Para entender o México, precisamos conhecer o seu passado difícil. Compreender o país e o restante da região que compõe a América Latina é essencial, uma vez que ela começa a exercer um papel mais amplo no cenário mundial em 2011 e mais adiante.

A história do México é uma longa batalha para alcançar uma constituição confiável e um sistema legal. Atualmente, a infelicidade do país é ter conquistado a democracia, após tanta luta, e ela vir junto com o crime.

Quando a Espanha perdeu as suas colônias americanas em 1821, o México perdeu o telhado que o havia protegido por três longos séculos. As leis eram improvisadas; as instituições da França e dos Estados Unidos eram copiadas. Por fim, nada representava a nossa realidade pós-colonial.

A tirania e a anarquia preencheram esta lacuna. O general Antonio Lopez Santa Ana, um presidente de longa data, é o símbolo desta tragicomédia.

Este enredo tragicômico causou a perda de metade de nosso território para os Estados Unidos.

No desenrolar desta trama, foi ficando bem clara a falta de instituições nacionais no México. Em 1857, o Partido Liberal, liderado por Benito Juarez, nos deu uma constituição moderna e desmontou a intervenção francesa e o império de Maximiliano.

Mas, ao consagrar a propriedade privada e desmantelar fazendas comunais, abriu o caminho para a ditadura de Porfirio Diaz em 1877.

Diaz incentivou as grandes propriedades rurais privadas, como as "haciendas", fazendas que, não raro, eram tão grandes quanto a Bélgica.

Mas a população, os partidos políticos e a impressa eram repetidamente privados do processo democrático.

Finalmente, em 1910, irrompeu o descontentamento geral da nação. Liderados pelo "apóstolo da revolução", Francisco Madero, todos os descontentes e os que tiveram seus direitos caçados se uniram: os revolucionários agrários, liderados por Emiliano Zapata no sul; o exército cada vez mais forte de Pancho Villa, no norte, cujos membros cancelaram dívidas e liberaram terras; os revolucionários de classe média, liderados por Alvaro Obregon de Sonora; e os seguidores legalistas de Venustiano Carranza, cujas ideias originaram a constituição de 1917, mas não puderam evitar a rivalidade entre facções revolucionárias.

Nesta luta, estavam Obregon contra Villa, Carranza contra Zapata e Obregon contra Carranza.

Todos, no final, foram vítimas de assassinatos.

Com o intuito de passar uma imagem de ordem para a política, o partido revolucionário (hoje PRI, Partido Revolucionário Institucional) foi fundado em 1929. Ele impôs limites de duração à política, proibindo a reeleição de presidentes e as facções com direito de escolha de membros.

Em um período de 70 anos, o partido construiu o México, estabelecendo uma infraestrutura de comunicações e elétrica, assim como o sistema educativo e de saúde. A população do país saltou de aproximadamente 15 milhões em 1920, para mais de 100 milhões hoje.

Em 2000, nosso país tinha tudo, menos a democracia.

O PRI representava a legitimidade revolucionária. Contudo, se as origens históricas de um partido podem legitimar as revoluções, então, o desenvolvimento político também pode tirar essa legitimidade.

O governo do México perdeu suas credenciais revolucionárias em 1968, quando o presidente Gustavo Diaz Ordaz ordenou o massacre de estudantes pelo exército em Tlatelolco, na Cidade do México. Eles eram jovens de ambos os sexos que estavam pressionando o governo por democracia. Eleições livres, desenvolvimento social, igualdade econômica e imprensa livre, eram temas que eles estudavam na escola. A morte deles destruiu a credibilidade do governo.

Os governos do PRI que se seguiram, de 1970 a 2000, não conseguiram reestabelecê-la. O sistema educacional, uma força de trabalho organizada e instituições legais tinham criado uma sociedade bem-informada e que não estava a ponto de entregar a sua liberdade, conquistada com dificuldade, a tradições autoritárias. Porém, o sistema político permanecia dominado por um partido.

Em 1999, o presidente Ernesto Zedillo percebeu isso e se absteve de impor a vontade oficial de seu partido, o PRI. Em vez disso, ele permitiu que a ala direitista da oposição ganhasse a disputa pela presidência em eleições livres e justas.

E isso nos leva ao presente, ao momento em que a infelicidade do México é ter conquistado a democracia, após tanta luta, e ela vir junto com o crime.

No mesmo momento que o país conquistou liberdade política, os cartéis de drogas se mudaram da Colômbia para o México, próximos à porosa fronteira com os Estados Unidos. Ou seja, próximos do mercado consumidor de drogas e do país de onde vem a maioria das armas dos cartéis, os Estados Unidos.

Este é o enigma para o chefe de estado atual, Felipe Calderón, do PAN (Partido da Ação Nacional) da ala direitista. Disputando com o candidato da ala esquerdista, Lopez Obrador, nas eleições de 2006, Calderón ganhou por menos de 1% dos votos.

Em um país em que as vitórias do PRI eram repetidamente ganhas com 80% dos votos, Obrador alegou ter ganhado as eleições e ter sido privado de uma vitória legítima. Calderón agiu rápido, afirmando a sua vitória e exercendo o poder de maneira muito visível: declarou guerra aos cartéis de drogas.

No entanto, ele não estava preparado para travar uma batalha, sem a união de forças e os armamentos para vencê-la.

Portanto, os cartéis, por sua vez, declararam guerra a Calderón.

O governo simplesmente não tinha recursos para responder de maneira efetiva. Por exemplo, a força policial não era confiável. Ela está inundada de corrupção e, às vezes, de combinação com os barões da droga.

Calderón enviou o exército para combater os barões da droga, mas o exército estava tão despreparado quanto a polícia para este tipo de combate. Às vezes, ele era repelido pelas gangues de traficantes, outras vezes, derrotado.

Esta foi a situação em 2010 e não há sinais de mudança em 2011.

Quem ou o que pode mudar esta situação?

Eu poderia sugerir que olhássemos para o norte? Os barões da droga estão respondendo à demanda por drogas de usuários nos Estados Unidos e em outros países, porém, principalmente nos Estados Unidos.

Os membros do exército dos barões da droga compram suas armas de fontes americanas.

Suas drogas estão chegando aos consumidores americanos. Como?

Através de esquemas de lavagem de dinheiro e instituições financeiras complacentes; através de violência generalizada, extorsão e formas muito sutis de troca de informações. O que eu quero dizer é que, sem a cooperação séria dos Estados Unidos, o México não pode derrotar as gangues de traficantes.

Contudo, o governo do México pode afetar seriamente as gangues legalizando o consumo de drogas em sua fronteira.

Com isso, os traficantes ficariam desprovidos de seus mercados locais.

Ao mesmo tempo, mas com uma marca menos positiva, o México se tornaria um paraíso dos consumidores de drogas, semelhante à Holanda.

No longo prazo, somente um acordo internacional, estabelecendo parâmetros para o consumo legalizado de drogas, irá atenuar a situação.

Essas ações estão por vir? Possivelmente. Os ex-presidentes Zedilho, do México, Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, e Cesar Gaviria, da Colômbia, formaram um grupo que defendia, em vez de proibir, o uso legalizado de drogas. Eles apoiam a ideia de ajudar os usuários de drogas e punir os traficantes, privando os últimos do acesso ao consumo e aos benefícios financeiros.

Outro grande problema do México é a força de trabalho. Temos vivido bem, graças a essas três fontes de renda: turismo, petróleo e remessas de dinheiro de trabalhadores no exterior. Agora, todas elas estão em situação comprometedora.

A violência e as notícias ruins assustam os turistas. Os trabalhadores que, em outros tempos, se mudavam para os Estados Unidos em busca de emprego, agora ficam aqui, ou enviam menos dinheiro para casa devido à recessão americana.

O preço do petróleo está instável e nossas reservas não têm sido totalmente exploradas devido ao desserviço político. O Brasil mantém seu petróleo sob domínio público enquanto permite que empresas privadas trabalhem no setor petrolífero: processando, distribuindo e vendendo os produtos. No México, a nacionalização absoluta é algo sagrado: é a Pemex, não importa se ineficiente ou obsoleta. Eu acredito com veemência que não precisamos "desnacionalizar" a Pemex e entregar o petróleo às empresas privadas. Devemos manter o domínio público, mas permitir que empresas privadas operem no setor, porém mantendo a indústria petrolífera no geral como propriedade do estado.

Conforme olhamos para 2011 e mais à frente, sugiro que olhemos para uma página do livro da era de Depressão do Presidente Franklin Delano Roosevelt e comecemos a pensar na criação de trabalho por aqui. É hora de um "New Deal" mexicano, do reestabelecimento econômico financiado com o dinheiro do petróleo, que agora financia boa parte do orçamento federal, através da cooperação bilateral e internacional e do sucesso da própria agenda.

Nós precisamos de uma infraestrutura renovada, mais hospitais e escolas. Além disso, é preciso que melhoremos nossas práticas agrícolas e modernizemos nossas indústrias.

Todo este trabalho não tem sido feito porque nossos trabalhadores enviam dinheiro do exterior, além disso, temos o petróleo e os turistas. Grande coisa!

A solução verdadeira e de longo prazo para os problemas do México esta na sua força de trabalho, na sua gente.

Algumas estimativas situam cerca da metade da população do México como tendo 30 anos ou menos. Se esses jovens não encontrarem um trabalho digno, que seja seguro e bem pago, eles irão ouvir a sirene do crime. Ela está drogada e armada até os dentes.

Sim, nós precisamos olhar para nós mesmo, para o povo do México, para melhorar a nossa situação atual. É verdade que Calderón vem pressionando por reformas trabalhista, da segurança pública e setor energético, que agora aguardam a decisão do congresso. Contudo, eu estou absolutamente convencido de que a solução não está apenas na nação e nem em uma relação bilateral, mas nas relações internacionais: ela é global.

O México faz parte da América Latina e a ela está mudando. O Brasil se tornou uma importante potência mundial, aspirando a uma cadeira no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O Chile fez grandes progressos sob os governos social-democratas de Ricardo Lagos e Michelle Bachelet. A Colômbia mudou sob o governo do presidente Juan Manuel Santos, consolidando um regime de leis e liberdades à medida que lutava contra os guerrilheiros do narcotráfico. A Venezuela está tendo dificuldades sob o governo do orgulhoso e tirânico presidente Hugo Chavez, enquanto a Bolívia e o Equador estão reconsiderando as suas opções. O Uruguai consolidou sua democracia. O Peru teve um fortalecimento econômico, enquanto a Argentina, mais uma vez, não está usando o seu tremendo potencial de maneira hábil e está enfrentando de novo uma crise política, após a morte do seu "presidente entre as sombras", Nestor Kirchner.

E Cuba? A ilha, na era pós Castro, não irá abrir mão do que considera ter conquistado: educação e saúde. Mas o governo precisa pensar no que a população precisa agora e no futuro: empregos úteis, menos burocracia, um setor agrícola próspero e a reconciliação difícil e profunda entre as duas Cubas. O governo americano tem a grande tarefa e desafio de trazer seriedade para a relação de trabalho com Cuba. Se Washington pode trabalhar com Pequim, por que não com Havana?

A lição mexicana mostra que os Estados Unidos podem cooperar com um regime não democrático. Talvez através de uma relação melhor com os Estados Unidos, Cuba se torne menos autoritária, e, quem sabe, democrática. Os ataques e contra-ataques dos últimos cinquenta anos, a desconfiança e a ambiguidade não têm beneficiado ninguém. Cuba continua sendo a grande divergente da América Latina democrática.

Nós, cidadãos da América Latina, precisaremos garantir que nosso sistema de governo democrático esteja de acordo com nosso desenvolvimento social e econômico. A continuidade de nossa cultura deve estar em harmonia com a continuidade econômica e política, junto com um maior envolvimento internacional. A cooperação e o entendimento da Europa, América do Norte e outras nações mais desenvolvidas é essencial para que alcancemos isso.

Não somos mais o quintal dos Estados Unidos. Nosso presente e futuro, do México e da América Latina, reservam mais do que as histórias sombrias que dominaram as manchetes ao redor do mundo em 2010. Estamos olhando mais à frente na esperança de uma parceria mundial.

* Carlos Fuentes é um dos mais conhecidos autores vivos do mundo falante do espanhol.

Um comentário:

  1. Olà, ola!
    Me costò un poco organizar mi comentario, hay tantos aspectos que es dificil describir rapidamente. Trataré de ser breve por aqui..rsrsrs

    Mas allá de las respetables capacidades que como critico y escritor Carlos Fuentes posee, en este texto percibo, de manera global, una “critica” neutra y vendible sobre la crisis social que México está viviendo. Una explicación con verdad absoluta creo que no existe, al menos ninguna que sea publicada en el NY Times.

    México se ha convertido en un terreno de batalla por el poder, donde la población inofensiva y de trabajo justo paga los platos rotos. México es un claro ejemplo de error tras error de la parte de gobiernos tal vez inexpertos, pero sobre todo ambiciosos y opresores.
    Efectivamente, gran parte de la historia de nuestro país ha sido marcada por batallas buscando la “libertad”. Aun y obteniendo la ansiada libertad, nuestro país terminó por otorgar el “control” del pueblo a otras manos “nacionales” no mejores…es un ciclo vicioso..

    Personalmente creo que después de 10 años de “democracia” el poder en México, ha sido confirmado como sinónimo de dar siempre y cuando se pueda abusar. Siento que desgraciadamente esto se ha vuelto una enseñanza de vida también para el pueblo entero. El que tiene el poder (dinero, violencia o poder político) hace lo que quiera en México.
    La crisis social que México afronta actualmente, es en su fondo más resultado de este conflicto de valores y hambre de poder, que realmente el tráfico de “drogas”. Tráfico de niños, trafico de blancas, de indocumentados, de órganos, secuestros, extorsión…desgraciadamente la lista es larga de todo lo que se trafica en nuestro país..
    De manera concreta, el tráfico de drogas en México siempre ha existido y existirá mientras no sea legalizado. Estados Unidos siendo el más grande consumidor es el principal opositor y fomenta dicha “lucha” que mata tantos inocentes.
    Es lamentable oír a mis amigos y familiares decir “basta”, pero como decirlo contra las armas, la violencia, las amenazas? Gobierno y traficantes se encuentran al mismo nivel de abuso contra la sociedad en esta "lucha"...
    México se caracteriza por su gente, por su trabajo, por su naturaleza, pero esto se ve cada vez mas nublado si el hambre de poder sobre el otro sigue creciendo. Nunca se logrará llegar a una industrialización, a una política internacional de nivel, ni mejoras en la educación, si la cabeza del poder público esta tan pervertida, si la sociedad ella misma no se respeta. De nada sirve continuar a “nacionalizar” la industria petrolera, si justamente es una mina que alimenta a tantos parásitos. Tantas empresas internacionales que han tenido que dejar el país por causa de las opresiones sindicalistas y gubernamentales.

    En fin, hemos ganado “democracia”, verdad!, Pero se sigue eligiendo a un dirigente buscando el “menos peor”..pasando el poder de un partido a otro, el pueblo se ha dado cuenta que eso no cambia el rumbo del país. Cualquiera que esté al poder es la misma o peor historia! La sociedad, ella misma está en crisis!!

    Para el 2011 veo una gran incertidumbre, la situación esta en un punto que no veo solución posible en un solo año. México posee tantos avances en infraestructura, en organización política y social, de más alto nivel que cualquier otro país de América Latina, que es una lástima verlo así. Afortunadamente, esta situación de violencia no ha tocado todos los rincones de nuestro país, pero no existe “magia” para resolver esta crisis. Esto llevará años de transición que podrán ser positivos o aun más negativos. No estoy segura que una mejor relación con EUA o con cualquier otro país mejorara la situación interna del país..
    Definitivamente este 2011 no será fácil, sobretodo esperando las elecciones del 2012.

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