terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As Enchentes em São Paulo

Faço aqui um apanhado de artigos que procuram aprofundar as causas das inúmeras enchentes que ocorrem em nossa capital todos os anos nesta época. Já perdi o número de mortos na capital, mas parece que até ontem já havia chegado a 14 pessoas neste mês de janeiro. Começo com uma nota retirada do Nassif, onde o nosso atual governador e o prefeito da capital anunciam medidas para os próximos anos que já foram insistentemente apontadas por especialistas em épocas passadas, mas divulgadas somente na blogosfera. Vamos ao comentário do Nassif e à notícia de hoje:

Essas medidas foram expostas por especialistas, mas apenas através dos blogs, devido à barreira de silêncio da velha mídia. Sem pressão da opinião pública, o ex-governador José Serra pode manter a irresponsabilidade por todo 2010. O resultado é a enchente atual.

Aliás, louve-se a lealdade de Gilbero Kassab de, em todas essas tragédias, chamar a si a responsabilidade, quando sabia muito bem que a razão central foi a suspensão do dessassoreamento do Tietê na gestão Serra.


O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM), anunciaram nesta tarde um plano de R$ 800 milhões para combate às enchentes na cidade.

A iniciativa inclui a retirada de 4,18 milhões de metros cúbicos de resíduos da calha do Rio Tietê, ao longo deste ano; a abertura de licitação para a compra de três turbinas para aumentar em 60% a capacidade de bombeamento do Rio Pinheiros para a Represa Billings; a canalização de córregos; a construção de dois piscinões, sendo um deles na divisa entre São Paulo e São Caetano; a construção de um sistema de canais entre São Paulo e Guarulhos para desassoreamento do Rio Tietê; e a criação do Parque da Várzea do Tietê, com a remoção de 5 mil famílias que vivem às margens do Rio.

De acordo com o governador, o parque deve ficar pronto em quatro anos e as turbinas estarão em funcionamento em três anos. “O desassoreamento é eterno. Se passar um verão sem desassorear, há 500 mil metros cúbicos de areia, sofá, geladeira, papel e sujeira dentro do rio. Todo o verão tem de tirar 500 mil metros cúbicos de areia”, disse o governador. “Mas o mais importante são as obras estruturais.”

Além das obras, Alckmin ofereceu à Prefeitura de São Paulo 50 caminhões para ajudar na limpeza dos bueiros da cidade e 10 caminhões-pipa para a lavagem de ruas. Segundo o governador, o período de chuva dificulta o trabalho de dragagem na calha do Rio Tietê.

Até março, segundo ele, está prevista a retirada de aproximadamente 150 mil metros cúbicos de resíduos, uma vez que no período de chuvas o trabalho fica comprometido. “Se nós conseguirmos manter a batimetria (medição da profundidade dos rios), o sistema de bombeamento e a recuperação das várzeas irão minimizar os problemas”, disse Alckmin. O governador lembrou ainda que, só no ano passado, foi retirado 1 milhão de metros cúbicos de resíduos da calha do Rio Tiete.

Questionado sobre quando o paulistano se veria livre das enchentes, o prefeito Gilberto Kassab afirmou que não é possível dar nenhuma garantia à população. “Qualquer obra tem a sua capacidade. É impossível prometer que qualquer intervenção vai liberar a região de alagamentos, porém as obras (feitas até agora) têm correspondido”, disse.

Daiene Cardoso, da Agência Estado

no blog do Azenha a recuperação de um artigo da Raquel Rolnik publicado ano passado quando da ampliação das pistas da marginal do Tietê diante da tentativa da promotoria de justiça em paralisar as obras (o que, sabemos, não foi conseguido). O que dizia Raquel naquela oportunidade:

Ampliar a marginal repete erro histórico do urbanismo paulista. Mais enchentes e colapsos do sistema viário

Publicado em 10/09/2009

por Raquel Roknik, no seu blog

Um estudo publicado na quarta-feira, 9, no jornal “O Estado de S. Paulo”, mostrou que a construção de novas pistas na marginal do Tietê terá como conseqüência a redução da área permeável da cidade. É verdade que haverá uma compensação ambiental, mas nem todas as árvores serão plantadas exatamente na marginal.

No mesmo dia o governador José Serra negou que as obras tenham contribuído para o transbordamento do rio, o que não ocorria há dois anos. Segundo ele, a ampliação das pistas não vai tirar um metro quadrado de permeabilidade do solo por causa da compensação ambiental. E o Ministério Público quer paralisar as obras da marginal, que mal começaram.

Em primeiro lugar, não é verdade que a construção de novas pistas na marginal não diminuirá a permeabilidade do solo. A cidade vai sim perder permeabilidade. Com essa obra serão perdidos 19 hectares – como se fossem 19 quadras da cidade de área permeável virando asfalto. A compensação ambiental, por meio do plantio de árvores, não irá compensar isso, pois as árvores serão plantadas em áreas verdes, que já são permeáveis hoje.

Mas é importante explicar que não é só porque perderemos esses 19 hectares que as enchentes aumentarão. No temporal de terça-feira houve sim um volume de água excepcional. Mas volumes de água excepcionais irão acontecer muitas vezes daqui para frente. A principal questão é que quando você coloca todo o sistema viário principal da cidade amarrado em cima dos rios, sempre que há um alagamento ele fica totalmente paralisado.

Por essa razão, o alargamento da marginal do Tietê é um erro urbanístico. É repetir o erro que já foi feito na história da cidade, fazer com que ele seja reiterado. E a prova disso foi a enchente que acabou de acontecer.

Mas não é só isso. Um problema é a área impermeável lá embaixo, ao lado do rio. Outro, mais importante, é a quantidade de área sendo impermeabilizada mais para cima, de onde vem a água que enche o rio. O Tietê tem pelo menos 16 afluentes, e esse volume todo desce das áreas altas, com terra e lixo. Essa mistura vai assoreando os rios e córregos e a própria calha do Tietê e do Pinheiros – e, com cada vez menos chuva, ocorrem mais alagamentos.

Podemos resolver esse problema do assoreamento de duas formas. A primeira é que está na cara que nossa cidade limpa está cidade imunda. A quantidade de lixo aumentou e esse lixo se acumula nos rios. Se o lixo se acumula porque o povo é mal educado, então temos que investir em campanhas, como fizemos com o fumo e com a lei seca, para que as pessoas não joguem mais lixo na rua. Mas é fato que o serviço de varrição foi reduzido, tanto que há um monte de gari desempregado agora.

E não basta apenas manter as galerias limpa, temos que coletar todo o lixo. Não pode haver nenhum pedacinho de papel no chão em lugar nenhum da cidade, incluindo nos assentamentos informais de baixa renda, que também precisam de coleta de lixo.

Outra questão é que existe algo chamado planejamento do uso e da ocupação do solo. Se você ampliar a cidade para qualquer lado, indiscriminadamente, impermeabilizando cada vez mais, teremos cada vez mais problemas de drenagem. É preciso planejar a expansão urbana. E isso é uma coisa que até hoje, na metrópole de São Paulo, simplesmente não existe.

Não há planejamento metropolitano. Cada município faz o que bem entende, não há dialogo entre eles. E os rios, infelizmente, não obedecem a limites municipais. Uma decisão tomada em Cotia ou em Barueri vai interferir naquilo que acontecerá na capital, pois o sistema hídrico é interligado.

O que o caos de terça-feira demonstrou foi que o modelo que vigorou até agora, que é pegar os rios, tamponar, canalizar e colocar todo o sistema viário em cima deles, é um modelo falido. Um modelo que não pode subsistir. Nesse sentido, entendo perfeitamente a posição da Promotoria, que questionou as obra da marginal.

As obras começaram com um licenciamento ambiental feito a toque de caixa, sem um debate adequado, e repetem um erro histórico do urbanismo paulista e paulistano. Isso depois de 450 arquitetos e urbanistas assinarem um manifesto dizendo “não repita, está errado, isso não pode ser feito”, o que foi absolutamente ignorado.

Acho que agora o governador Serra deveria parar um pouquinho para refletir. Em vez de dizer “Vocês querem que a cidade ande de burrico?”, deveria responder à população da cidade de São Paulo com uma alternativa consistente. Porque essa, mais do mesmo, a gente já viu que não vai dar certo.

Raquel é urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada.

Aqui, direto do blog do Nassif, você pode também conferir duas notícias - uma atual e outra de 2006 - quando o prefeito Kassab fala as mesmas coisas sobre o "eterno" problema de nossa capital. 

E para encerrar os comentários dessas tragédias nada melhor que o blog do QUANTO TEMPO DURA?, que ironiza as notícias da folhona. Vejamos:

TODO ANO A MESMA PIADA! – De quem é a culpa pelas enchentes, segundo a Folha de São Paulo

Por quantotempodura

Quer apostar quanto que no verão 2012 dá pra fazer a mesma piada?

Pobres paulistanos!!!


 

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