quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ouvidoria Contra a Evasão Escolar

Campos & Bravo

Um assunto que já é velho conhecido dos educadores, a evasão escolar, foi resolvido de maneira simples e eficaz na pequena Cajuru, cidade de 24 mil habitantes e predominantemente rural, no interior de São Paulo. A Secretaria Municipal de Educação criou a ouvidoria volante, que nada mais é do que uma educadora responsável por receber das escolas informações sobre os alunos que estão faltando muito e sugerir soluções para o problema, qualquer que seja o motivo.

Essa iniciativa foi apontada pelos gestores municipais como uma das medidas responsáveis por a rede ter aparecido com cinco de suas escolas entre as dez primeiras colocadas, segundo os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgados em 2010. "Só aprende a criança que está na escola e com a ouvidoria conseguimos acabar com a evasão", afirma Isabel Ruggieri, secretária de Educação do município. Dados de 2006 mostravam que havia 64 alunos evadidos na rede (do total de 2,7 mil matriculados). Em 2009 - ano em que se iniciou a ouvidoria -, foram três.

A ideia surgiu depois que a pedagoga Lúcia Maria Biaggi dos Santos, que já havia sido conselheira tutelar, desenvolveu um estudo para a Secretaria de Educação para apontar os principais motivos para as faltas dos alunos. Ela descobriu que o baixo rendimento escolar e aspectos externos, como violência doméstica e distância entre a casa e a escola, eram os fatores que afastavam as crianças da sala de aula. Na época, ela apenas visitava a família e informava os gestores sobre o resultado da conversa. Alguns iam atrás para resgatar o aluno quando isso era possível, outros não. Surgiu então a ideia de ter uma pessoa responsável por não só fazer o diagnóstico mas também resolver o problema. Lúcia foi indicada para o cargo. Atualmente, ela fica lotada na Secretaria de Educação, porém quase nunca está lá. A agenda depende da demanda.

A ouvidoria funciona da seguinte maneira: quando um professor detecta a ausência de um aluno por mais de duas vezes em uma semana, comunica à coordenação pedagógica ou à direção da escola. Os gestores acionam Lúcia para que faça uma visita à família do faltante e cheque o que aconteceu. "Ela está sempre a postos para nos atender", diz Rita de Cássia da Fonseca Salvador Souza, diretora da EM Professora Aparecida Elias Draibe.

Depois de visitar a família, Lúcia reúne-se com a equipe gestora para estudar as possíveis soluções. O encaminhamento depende do problema encontrado. O mais comum é o aluno mudar de residência e deixar de frequentar a escola por questões de distância e transporte. E, como não faz a matrícula em outra unidade, é dado como evadido. "Tínhamos um aluno que ficou semanas sem aparecer e a família não tinha telefone. Demorou para descobrirmos que os pais tinham ido trabalhar em uma região rural distante da escola. Lúcia conseguiu o endereço, foi à casa dele e fez a matrícula em outra unidade. Soubemos que não faltou mais", conta Maria Gilda de Almeida Santos, diretora da EM Zezito Palma. A escola, que tem cerca de 800 alunos - praticamente um terço de todos os matriculados na rede municipal -, é uma das que mais solicitam a ajuda da ouvidora. "Como a maioria dos estudantes mora longe, a intervenção de Lúcia é imprescindível", explica a gestora.

Quando há outros problemas envolvidos - como abandono de um dos pais ou casos de agressão -, Lúcia entra em contato com o Conselho Tutelar, órgão municipal composto por cinco membros eleitos pela comunidade que tem como finalidade zelar pela proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes.

Há também casos em que o aluno precisa de acompanhamento de especialistas. A prefeitura de Cajuru conta com o Centro de Atendimento Educacional (CAE), órgão da Secretaria Municipal de Educação, que tem psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogo se trabalha em parceria com as escolas. Se acontece de os pais não poderem acompanhar os filhos até o local, é ela mesma quem os leva.

Muitas vezes é possível solucionar a questão das faltas dentro da própria escola, quando o problema é adaptação ou até relacionamento com os colegas. Nessas situações, Lúcia orienta os gestores em relação a possíveis projetos institucionais (para melhorar a convivência) ou de formação de professores (para apoiá-los nas dificuldades de aprendizagem).

Atividade de informação e convencimento
Nem sempre o trabalho de Lúcia é aceito imediatamente. Muitos pais não entendem o propósito da ouvidora e interpretam a visita dela como uma interferência no dia a dia do lar. "Certa vez, uma mãe me disse que o filho dela não era problema meu e que eu não me metesse nos assuntos da família", lembra Lúcia. A ouvidora achou que não teria mais diálogo, mas descobriu que a falta da criança estava relacionada a problemas de adaptação à escola. Lúcia insistiu e voltou já com uma solução: a matrícula em outra unidade e a promessa de um acompanhamento próximo até ter certeza de que o garoto estava enturmado e socializado.

CONTATO
Ouvidoria da Secretaria Municipal de Educação de Cajuru, tel. (16) 3667-9948
http://revistaescola.abril.com.br

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