domingo, 23 de janeiro de 2011

Nassif Otimista?

Hoje o Nassif publicou um artigo falando sobre os avanços na política brasileira com um tom bastante otimista em relação às mudanças que assistimos no país. Publico abaixo seu artigo e um contraponto de um de seus leitores no mesmo endereço eletrônico. Vale a pena acompanhar:

Do Luis Nassif


A política brasileira entra definitivamente na era da modernidade, da civilização.

Da redemocratização para cá, foi uma sucessão infindável de crises e uma oposição batalhando permanentemente para desestabilizar o governo eleito. Foi assim com Fernando Collor, com a oposição petista a Fernando Henrique Cardoso e, depois, com a oposição tucana-midiática a Lula.

Para muitos cientistas políticos, o Brasil balançava entre dois modelos políticos: o alemão, estável, com dois partidos disputando as eleições mas sem fugir muito do centro; ou o italiano, com caos político atrapalhando o desenvolvimento econômico e social.
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As eleições de 2006 foram realizadas nesse clima de guerra, insuflado pelo episódio do "mensalão" e, especialmente, pela liderança de FHC, estimulando a guerra em todos os níveis.

Eleitos os novos governadores, havia o prenúncio de um período de amadurecimento político. Em alguns estados-chave foram eleitos e reeleitos governadores capazes de definir uma oposição articulada, não deletéria. Esperava-se o nascimento de novos estadistas se contrapondo ao poder beligerante de senadores e deputados.

Esse movimento acabou abortado pela ascensão de José Serra, como candidato a candidato favorito pelo PSDB, para as eleições presidenciais seguintes e pela incrível mudança no seu perfil político.

Serra passou a comandar uma oposição deletéria, denuncista, culminando com a campanha de Internet, na qual sua adversária Dilma Rousseff era acusada de ter assassinado pessoas, matado criancinhas, ser contra a religião etc.

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Agora, tem-se o seguinte quadro. No período Lula houve uma inflexão radical no conceito de políticas públicas.

Periodicamente, a opinião pública tende a enfatizar determinados temas em detrimento de outros. Nos anos 90 até alguns anos atrás, os únicos valores percebidos eram os privatização, abertura econômica e responsabilidade fiscal – relevantes, mas insuficientes para compor uma política pública. Era uma reação ao período anterior, de desequilíbrios fiscais e economia fechada.
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Essa fase acabou com a crise de 2008, deixando consolidados alguns desses valores, mas introduzindo novos valores no jogo

Agora há novos valores em jogo, praticados não apenas em nível federal mas nos novos governadores que assumem o comando da oposição.

Em São Paulo, Geraldo Alckmin anuncia conjunto de metas sociais – o Prouni estadual, nova concepção para habitação popular, mudança no sistema educacional -, uma pacificação nas relações com sindicatos e movimentos sociais, na ênfase à parceria com o governo federal.

Em Minas ocorre o mesmo com Antonio Anastasia. Esta semana foi celebrado um acordo pelo qual o governo federal vai montar um escritório de representação no Estado, a fim de estreitas as relações entre os dois governos.
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Gradativamente vai sendo extirpado do mapa político as cenas dantescas da última campanha eleitoral, na qual o ódio e o preconceito foram elementos-chave. Passada a catarse, o país demonstra ter avançado muito mais do que a cabeça de algumas velhas lideranças.


E o contraponto:


FÁBIO LÚCIO


Nassif, o que acontece com o ódio? Esse que você cita como elementos-chave da campanha passada. Sua visão otimista do contexto considera a questão de para onde ele vai? Podemos experimentar um tipo de antropologia desse ódio. Primeiro, convém dizer que ele foi um ódio não-dito. Revestido de defesa dos bons valores, como geralmente são os ódios manipulados por esferas institucionais de poder. Porém este foi, eu arriscaria dizer, particularmente eficaz, inserindo no contexto da militância política um cidadão que não militava. Indignado, porque se informou em fontes de informação seletivamente empenhadas em demolir a candidatura de situação. Esse neo-militante está aí, Nassif. Não aplacou sua indignação com os números bons da economia e da realidade social do país. Nem mesmo faz a ligação entre esses números e "essa raça" que dirige o país há oito anos.

Será que a mera saída de Lula, iletrado, barbudo e sem um dedo na mão, e a entrada de Dilma, estudada, discreta e com mais cara de chá das cinco, resolve a questão? Não creio. Cabe perguntar por que o ódio foi tão eficaz? Porque foi bem engendrado, bem articulado em seu jogo e na triangulação com a mídia. Programar uma carreata cruzando a carreata dos adversários, esperando que eles se mostrem violentos para as câmeras, ou transformar, após um telefonema do publicitário, uma bolinha de papel num rolo de cinco quilos, mostra uma cumplicidade com o cinismo que envolveu de modo inédito políticos e mídia. É bem verdade que Carlos Lacerda, Antonio Carlos Magalhães e outros também contaram com essa cumplicidade, e se vê o que aconteceu depois disso (no caso de Lacerda, formou-se uma massa acrítica importante para a ligitimação do golpe, pois não?). ACM virou quase um santo em vida na Bahia. Nos EUA, vimos ele se transformar em atentados terroristas muito semelhantes aos que acontecem com os homens-bomba.

O que quero dizer é que talvez a disseminação do ódio cúmplice não se esvai. É uma irresponsabilidade temerária alimentá-lo.


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