sábado, 8 de janeiro de 2011

Jobim e a Comissão da Verdade

Do Correio do Brasil

Ministro da Defesa, Nelson Jobim admitiu, nesta sexta-feira, que “setores minoritários” das Forças Armadas ainda resistem às iniciativas para esclarecer as mortes e os desaparecimentos políticos ocorridos durante o regime militar (1964-1985). Segundo Jobim, os militares que se opõem a projetos como a criação da Comissão da Verdade estão na reserva e integram o mesmo grupo que discorda das recentes mudanças no âmbito da Defesa, mas são em número menor do que aqueles favoráveis à apuração dos fatos.

– Não há nenhuma dificuldade em relação às Forças Armadas (quanto à apuração dos crimes contra os direitos humanos). Eventuais bolsões de resistência sobre a memória podem se encontrar em algum setores muito minoritários. Alguns militares mais tradicionalistas da reserva não veem com bons olhos as mudanças que fizemos no Ministério da Defesa, como a subordinação das Forças Armadas ao poder civil democrático – disse Jobim, em entrevista nesta manhã.

Jobim lembrou que a proposta de criação da comissão precisa ser aprovada no Congresso.

– Esse projeto teve o absoluto apoio do ministério e meu. Houve uma divergência inicial com o então secretário de Direitos Humanos [Paulo Vannuchi] sobre a natureza do projeto, que era unilateral, prevendo a análise da memória histórica somente por um lado enquanto nós queríamos que a análise fosse completa. Não há nenhuma divergência com a atual secretária Maria do Rosário – disse, durante a entrevista a emissoras de rádio.

Jobim voltou a afirmar que o país necessita conhecer a verdade histórica dos fatos, mas que isso não deve ter caráter punitivo.

– O conhecimento da verdade tem todo o apoio do ministro e de toda a estrutura do Ministério da Defesa, mas, considerando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à Lei da Anistia, o que não podemos ter é a pretensão da retaliação ao passado, ou seja, tentar instaurar processos criminais que possam atingir os eventuais envolvidos, quer os que estavam ao lado do Exército, quer os que estavam do lado dos grupos subversivos que se rebelavam contra a ditadura militar. O importante é que esse conhecimento sirva para construção do futuro e não meramente para retaliar o passado – reforçou.

Perguntado sobre as declarações do novo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general do Exército José Elito Siqueira, Jobim disse que o assunto está “absolutamente superado”. Elito foi chefe do Estado-Maior do Ministério da Defesa antes de assumir o GSI, na última segunda-feira. Na transmissão de cargo, ao falar sobre a possibilidade de se criar a Comissão da Verdade, ele afirmou que o Brasil não deve ficar olhando para trás nem se envergonhar ou se vangloriar pelos seus desaparecidos políticos.

Convite a Genoino

Durante a entrevista, Jobim confirmou ter convidado o ex-deputado federal petista José Genoino para o cargo de seu assessor.

– Eu havia conversado com o Genoino no ano passado. Ele me disse que iria examinar o assunto, mas ainda não me deu uma resposta. Entendo que ele pode trazer uma grande colaboração ao Ministério da Defesa e sua presença seria importante porque ele conhece o tema e seria de extraordinária importância para mim inclusive tendo em vista sua capacidade de circular e de dialogar – afirmou Jobim, acrescentando que desde a época da Assembleia Constituinte, em 1987, Genoino, já demonstrava o grande conhecimento sobre os temas da área de defesa nacional.

Genoino fez parte da resistência à ditadura militar, participando da luta armada durante a década de 1970, tendo sido preso e torturado. Chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Defesa assim que o PT chegou ao poder, em 2002. Durante sua atuação como parlamentar, ajudou o governo em assuntos relacionados à pasta, como a elaboração do projeto da Comissão da Verdade, que tem a finalidade de examinar e esclarecer violações de direitos humanos praticadas durante o regime militar, e o Plano Nacional de Defesa, que reforça o papel das Forças Armadas. O ex-militante já foi condecorado pela Marinha, Aeronáutica e Exército.

– Entendo a importância das Forças, não há nenhum rancor – diz ele.

Embora tenha preferido não comentar o convite do ministro, ele ressaltou seu bom relacionamento com Jobim.

– Tenho uma relação política muito forte com o Jobim. Sempre o ajudei na Defesa e defendo muito o trabalho que ele está fazendo. Sempre tive uma relação institucional, de muito diálogo com as Forças Armadas, mas só tomarei decisões a partir de fevereiro, até lá ainda sou deputado – disse aos jornalistas.

WikiLeaks

Jobin figurou no noticiário distribuído pelo site WikiLeaks, no final do ano passado. Documentos revelam que ele atacou o Itamaraty em contatos com representantes dos EUA e acusou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, crítico da ALCA,  secretário-geral do ministério das Relações Exteriores então,  de ter “ódio aos EUA”.

Telegramas de 2008 e 2009,  do embaixador Clifford Sobel, mostram que os norte-americanos viam em Jobim “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”; “um homem decidido a desafiar a supremacia histórica do Itamaraty em todas as áreas de política externa”.

DO BLOGUEIRO> O mais interessante na fala do "ministro" é querer igualar torturador e torturado na leitura do passado e isentar ambos (segundo ele) das punições. Isentar o torturado, claro! Mas o torturador tem que pagar pelo que fez!!!

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