sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ensino Médio Integrado e a Formação Profissional no Brasil

Abaixo, nota sobre a posição do MEC sobre o Ensino Médio Integrado à Formação Profissional - modelo de ensino médio que foi eliminado pelo governo de FHC e retomado pelo governo LULA. Agora o MEC tenta ampliar sua aplicação....


Proposta do ministério prevê modelo com aulas em turnos diferentes, para reverter as altas taxas de abandono. Em 2009, 11,5% dos 7,9 milhões de estudantes do médio abandonaram os estudos. No ensino fundamental, os índices de abandono foram de 2,3%, dos 17,2 milhões de alunos dos anos iniciais (1º ao 5º ano) e 5,3%, dos 14,4 milhões de estudantes dos finais (6º ao 9º ano). A proposta do MEC ainda é vaga e não deixa claro se o modelo seria obrigatório para todas as escolas (NOTA DO BLOGUEIRO: em nenhum momento foi falado de obrigatoriedade, pelo menos até agora). Isto gerou incerteza entre especialistas do setor, devido à complexidade da aplicação. A ideia de o aluno cursar o médio em um turno e fazer o técnico em outro requer formação de professores, parcerias com governos e prefeituras e altos investimentos em infraestrutura nas escolas.

Presidente Dilma já deu sinal verde - Apesar disso, Haddad já apresentou o projeto à presidente Dilma Rousseff, que deu sinal verde para encaminhar a proposta à equipe econômica. Na avaliação do ministro, mesmo com a ampliação do número de escolas técnicas federais no governo Lula, o avanço é pequeno na integração do ensino médio com o técnico. – O ensino médio precisa de uma injeção de ânimo muito forte – afirma o ministro da Educação. Ainda não há estimativa de custo nem forma definida de aplicação da medida. Haddad disse que, além das 354 escolas técnicas federais, poderiam participar do projeto mais 500 escolas do Sistema S (Senac, Senai, Sesc, Sesi, etc) e mais 500 do programa Brasil Profissionalizado (200 a serem criadas). A carga horária complementar seria composta por disciplinas relacionadas ao curso escolhido, mais atividades complementares de esporte e cultura.

O ensino técnico é restrito no país, porque faltam vagas para todos os estudantes interessados. Enquanto 8,3 milhões cursam o ensino médio, 861 mil fazem o profissionalizante, o equivalente a 10,3%. Dos que estão no nível técnico, 60% começaram depois de terminar o médio. Para alterar o quadro, o governo terá um desafio pela frente. Em média, cada escola federal oferece 1,2 mil vagas, número insuficiente para atender a demanda. Em algumas unidades, a concorrência é tão acirrada para alguns cursos quanto para vestibulares federais. No Estado, são 1,6 mil estudantes matriculados no ensino médio integrado do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC), que oferece 422 vagas nesse modelo. No último processo seletivo, O curso mais concorrido foi o de Edificações – 15,53 candidatos para cada uma das 32 vagas oferecidas.

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Fonte: Diário Catarinense - JÚLIA ANTUNES LORENÇO
 
Ai, no mesmo jornal, aparece um economista que diz ser especialista em educação e tenta desconstruir a iniciativa. Vejamos:
 

O economista e especialista em educação Cláudio de Moura Castro avalia como equivocada a proposta do Ministério da Educação (MEC). Para ele – um dos maiores estudiosos sobre educação no Brasil e autor de vários livros e artigos sobre o assunto – o projeto ignora décadas de história e pesquisas na área. Integrar não seria a solução dos problemas do ensino médio, que, na opinião dele, está encolhendo por ser "chato e sobrecarregado de matérias”. – Aprendem-se coisas cujo uso, se é que existe, nem os professores sabem. Isso tudo em uma idade de transição, de grandes terremotos interiores e pouco interesse por assuntos teóricos e abstratos.

O especialista defende que a reforma do médio requer outros caminhos, que não passam pela integração com o técnico. – Ela exige reduzir o número de matérias e, mais ainda, os conteúdos dentro de cada uma. Requer mais aplicação. Ser mais prático não significa ser voltado para um emprego ou ocupação. Significa que a teoria deve ser exercitada em aplicações no mundo real – afirma Castro. Ele acredita que o ensino técnico precisa estar voltado para o mercado de trabalho e para uma demanda existente. Para o economista, como as profissões ensinadas têm valores, ética e princípios próprios, esse modelo não funciona bem quando instalado em uma escola acadêmica, com alunos de perfis variados.

Além disso, ele argumenta que o ensino técnico tem um custo elevado. – São escolas muito caras, têm quase custo de universidade federal, que, por sua vez, custam o mesmo que a média da Europa. Não há recursos para a expansão que seria desejável no setor público. Especialista em educação, a professora Helena Sporleder Côrtes, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), acredita na ideia, mas antevê dificuldades de implantação do modelo no Brasil. – Melhorar a formação do quadro técnico e ampliar o conhecimento humanístico é uma ideia positiva, mas é preciso um estudo de viabilidade. Definir algo por meio de legislação é fácil, mas quem seriam os professores para atender esses alunos, quais as escolas que o ofereceriam e onde?

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Fonte: Diário Catarinense


Nesta semana, questionado por um jornalista local, tive a oportunidade de falar um pouco a respeito, apesar de que o foco do jornalista era a pouca participação (na opinião dele) das pessoas que necessitam de emprego, nos cursos gratuitos. Se ajudar, leiam:
 
As vagas na EJA da rede municipal há tempo que são sub utilizadas. Nosso potencial de atendimento é seguramente três vezes maior do que atendemos nos últimos anos. Desde que entrei na secretaria em 2005 essa é uma realidade bastante sentida. Além disso a desistência no correr do curso também é alta. Os motivos são vários.
 
No ano passado, diante dessa realidade, implantamos um modelo calcado em módulos e temas geradores, o que diminuiu um pouco a desistência (mas não dá para dizer que foi baixa). Nos módulos acrescentamos um ingrediente novo: a iniciação profissional. Iniciação, pois estamos falando de ensino fundamental, que em essência não dá as condições para cursos técnicos. A ideia é iniciar no educando um caminho formativo profissional ou fazê-lo despertar para algumas atividades que ele venha a se aprofundar a partir do ensino médio.
 
No primeiro ano tivemos relativo sucesso. Para 2011 manteremos o modelo. Todavia, até o dia de hoje, as matrículas para a EJA estão abaixo dos números do ano passado. Aguardaremos o final do mês para divulgar esse número, já que historicamente muitos deixam para o último dia a matrícula.
 
O curso de contabilidade teve uma queda na procura, mas ainda mantêm seis salas em seu início, chegando a algo em torno de 200 alunos. Mas também a desistência é muito grande. Ano passado o número de formandos foi menos da metade dos iniciantes.
 
Sobre a contabilidade, creio que o curso está respondendo a uma parcela da juventude que tem facilidade em conseguir outras alternativas de cursos rápidos. O curso em si é muito específico e forma técnicos, não graduados.
 
Sobre a questão da não procura das pessoas aos cursos profissionalizantes existentes, desde antes de entrar na prefeitura, quando ainda sindicalista e dirigente nacional da CNM, o que observava era uma dificuldade muito grande de os cursos gratuítos acompanharem as necessidades das empresas e as empresas por sua vez delegando à sociedade como um todo a formação de pessoas nas especificidades delas. E, convenhamos, essa é uma equação que nunca fechará. A diversidade de funções e a rapidez com que as novas tecnologias criam funções que não existiam ontem, impedem uma resposta imediata daqueles que se colocam para executar formação profissional. Acredito que falta um "casamento" entre os espaços de trabalho e aqueles que executam formação profissional. E arrisco a dizer que quanto mais estes últimos tentarem responder as especificidades do mercado, menos conseguirão. O que acredito é na formação pública que dê elementos para que o formando busque suas alternativas de emprego e no emprego faça suas especializações. Mas parece que cada vez mais o mercado quer as pessoas "prontas".
 
Na década de 90 isso era encarado como uma forma de seleção dos trabalhadores. Hoje não, pois a falta de mão de obra especializada é bastante evidente. Todavia poucas são as empresas que se colocam a disposição para também capacitarem seus trabalhadores a partir da contratação. Então, os cursos profissionalizantes, nessa lógica e na minha opinião, estarão sempre defazados. Defazados, não são procurados maciçamente.
 
Na minha visão é necessário uma mudança radical na lógica da formação profissional. O poder público precisa elaborar cursos estruturantes nas diversas áreas. As especificidades precisam ser trabalhadas por quem precisa delas.
 
O IFSP/Salto na sua formatura no final do ano passado disse que todos os seus formandos já estavam encaminhados profissionalmente. Isso é um ganho sem precedentes em nossa história. Agora, as perguntas que ficam é: quantos jovens conseguram isso? em quais áreas? qual o custo de um aluno do IFSP/Salto para o poder público? temos recursos públicos suficientes para IFs em todas as áreas e que atenda todos os jovens?
 
Outro movimento que se espera é em relação aos programas federais de complementação de renda. O objetivo expresso na campanha de nossa atual presidenta é de que os usuários destes programas necessariamente passem por qualificações profissionais que os capacite para sairem dos referidos programas e mantenham sua renda. A pergunta que fica é: quais serão estes cursos? Na minha opinião não podemos ficar somente com os cursos que estão na base da pirâmide das profissões. Talvez estes como um "trampolim" imediato para uma auto sustentação. Mas a ideia de cursos estruturantes nas diversas áreas precisa também ser trabalhada nesse contexto, sob pena de formarmos um número bastante grande de profissionais pouco qualificados.
 
Desculpe se divaguei para um caminho que você não esperava, mas é um pouco isso que penso.
 
Espero estar errado em alguns aspectos, se estiver, remodelar o pensamento é positivo sempre. 
 
O debate é amplo e está aberto...

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