quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Desistências do Ensino Superior em SP

Do Luis Nassif

Primeiro a notícia:

Por MiriamL
Da Folha
Em dez anos, desistência em universidades de SP dispara

Abandono em instituições paulistas passou de 18% em 2000 para 27% em 2009
Especialistas dizem que evasão está ligada à expansão de vagas no ensino superior para alunos das classes C e D

FÁBIO TAKAHASHI
PATRÍCIA GOMES
DE SÃO PAULO

A proporção de alunos que abandonam o ensino superior em São Paulo subiu, em dez anos, de 18% para 27%, o maior patamar do período.

A constatação está presente em levantamento feito pelo pesquisador Oscar Hipólito (ex-diretor da USP-São Carlos e membro do Instituto Lobo), com base no censo do Ministério da Educação.

Em 2009, último dado divulgado, 315 mil estudantes de São Paulo abandonaram o curso. O Estado tem hoje 1,4 milhão de estudantes.

O volume de abandono cresceu na rede pública e na privada, mas nesta última a proporção foi maior.

Analistas e representantes de universidades privadas afirmam que o aumento da evasão está ligado à expansão de vagas, preenchidas por alunos carentes -faixa pouco atendida até o início dos anos 2000.

"A maior oferta de vagas fez cair as mensalidades e, com isso, as classes C e D entraram mais. Mas, além da mensalidade, há valores adicionais [transporte, material, alimentação] que acabam tornando o custo proibitivo", disse o consultor de universidades Carlos Monteiro.

O diretor-executivo do Semesp (sindicato das universidades privadas de São Paulo), Rodrigo Capelato, reconhece que as instituições particulares, num primeiro momento, tiveram dificuldades para atender esse novo público.

"São alunos que chegam com deficiência acadêmica, com dificuldade para acompanhar as aulas", diz.
Para atenuar o problema, afirma, as instituições passaram a oferecer reforço do conteúdo do ensino médio.

E para diminuir as perdas financeiras acarretadas pela evasão, as instituições passaram a matricular mais alunos nos primeiros anos, contando que a desistência será grande. O início do curso é o que tem mais evasão.

Para os próximos anos, a rede projeta que o abandono diminua, pois o atendimento aos alunos mais pobres está melhorando, com aulas de reforço e programas próprios de crédito.

TENDÊNCIA NACIONAL

Na média nacional, a evasão ficou quase estável entre 2000 e 2009. Para os analistas, os indicadores de São Paulo apontam que a evasão no Brasil também vai crescer.

Historicamente, dizem, os dados paulistas antecipam o que ocorrerá no restante do país. "Aqui houve primeiro a expansão de vagas e, agora, os efeitos desse movimento", afirmou Capelato. 


Agora, uma das muitas opiniões:


MARIA DO CARMO ZANINI


Eu ia começar com "enquanto isso, na Universidade de São Paulo...", mas me lembrei de que o fato já é passado há uns dez anos, pelo menos.

Eu lembro muito bem do baque que foi meu primeiro ano de faculdade na USP. Meu desempenho escolar despencou. Mudança de paradigma: eu saíra de um sistema de ensino em que o professor levava o aluno pela mão e as apostilas mastigavam os conteúdos para facilitar nossa digestão; na faculdade, o conteúdo estava em algum livro (com pouquíssimos exemplares) numa estante obscura da biblioteca e os professores não ganhavam seus salários para nos paparicar, nem para nos entreter.

Mas isso foi há mais de vinte anos.

Dez anos atrás, eu fui fazer outra faculdade, também na USP. Um curso que admitia 800 e tra-la-lá alunos no vestibular, daí, depois de um ano de ciclo básico, promovia uma espécie de "vestibular" interno, o ranqueamento, para dividir a turma entre várias habilitações específicas. De acordo com alguns professores, esse ranqueamento diminuía sensivelmente a taxa de evasão.

Bom, na habilitação que escolhi, as turmas começavam com umas 40 vagas, mais ou menos. E aí a evasão, que já existia no ciclo básico, começava para valer. No final do meu segundo ano, a turma estava reduzida quase pela metade. Lembro que alguns de nós começaram a ficar incomodados com essa coisa de perder colegas, pessoas que chegavam a chorar (de frustração ou humilhação) por não conseguir acompanhar as aulas. E alguns de nós procuraram os professores, questionando justamente se a universidade não poderia fazer alguma coisa para ajudar os alunos a superar essas dificuldades e continuar no curso.

Um professor por quem eu tinha grande admiração (e ainda tenho) recontou uma analogia que ele mesmo ouvira ao entrar na USP: a universidade é a parte funda da piscina, quem cai ali tem que aprender a nadar rapidinho para não morrer afogado. Também ouvimos de outros professores que a universidade tinha seu modelo de excelência e qualidade de ensino e não podia abrir mão disso (leia-se: não podia "se rebaixar ao nível dos alunos") para atender às deficiências geradas pelo ensino médio e fundamental.

Entendi o argumento, mas nunca consegui concordar muito com isso. Parecia a perpetuação da universidade da elite para a elite, embora sustentada pelos impostos que todos nós (paulistas, no caso) pagamos. E, dado que, apesar dos dois "vestibulares", algumas habilitações continuavam ameaçadas de extinção por causa da evasão, também me pareceu grande indício, se não prova, de que a Fuvest não funcionava nem mesmo como a USP queria.

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