terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Temos uma Nova Classe Social?

Embalados por um livro de Jessé Souza, cujo título é OS BATALHADORES BRASILEIROS, uma grande discussão tomou conta do Portal do Luis Nassif, sobre as conclusões do autor de que temos uma nova classe social no país, que ele chama de A CLASSE DOS BATALHADORES. 

Evidente que posições acirradas, tanto favoráveis como contrárias, surgiram. Li todos os argumentos e confesso não ter uma posição. Achei muito interessante a leitura de todos os argumentos, pois nos coloca a pensar sobre uma série de coisas e posicionamentos às vezes incompletos ou ainda demasiadamente estanques. Abaixo publico um resumo do próprio Nassif a respeito do debate, onde ele indica os links para seu aprofundamento. Eu gostei do debate, apesar de não ter ainda firmado uma posição. Boa leitura. 

Do Luis Nassif

Belíssima discussão no post “A classe social dos batalhadores”  - comentando a entrevista do sociólogo Jessé Souza à Folha de São Paulo.

Aqui os três posts onde se deu a discussão:

A nova classe social dos batalhadores
A nova classe social dos batalhadores - 2
A nova classe social dos batalhadores - 3

Há dois níveis de discussão em jogo.

O primeiro – que interessa aos acadêmicos – a questão conceitual sobre classes sociais e estamento: se os “batalhadores” são classe social ou não. Há uma subdiscussão pequena, sobre o uso político de uma conceituação ou outra. Mas aconselho passar ao largo.

O segundo nível – que interessa a todos – é sobre as características desse grupo dos “batalhadores. Comportamento, valores, atitudes, até que ponto são comuns a um número expressivo de emergentes ou fruto de conquistas individuais. Interessa para a análise política, nas definições mercadológicas, na audiência de emissoras.

O comentarista Carlos Eduardo de Freitas sintetizou muito bem essa preocupação..

O tipo de personagem descrito pelo Carlos Eduardo é recorrente não apenas no cotidiano de quase todo mundo, como no próprio cinema e na literatura. Há um filme gozadíssimo de Mazaroppi, tornando-se milionário e seus problemas para se adaptar às normas e padrões da classe alta carioca.

Os personagens na vida real

Esse tipo de personagem me intriga desde os 17 anos, quando fui estudar em São João da Boa Vista.

Cidade curiosa que, embora não sendo industrial, tinha militância operária desde o início do século 20.

Havia uma classe decadente de fazendeiros e outra de pequenos comerciantes que enriquecera, tornando-se seus credores – emprestavam a juros. Mesmo assim, havia uma barreira social expressa na questão cultural e em um falso moralismo terrível. Na classe dos filhos de fazendeiros, uma liberalidade sexual à altura das grandes metrópoles. E um moralismo pesadíssimo contra os da classe média tradicional (professores, funcionários públicos, bancários) e contra a nova classe média sanjoanense (os “batalhadores” de então).

Na própria Poços de Caldas, tive colegas filhos de charreteiro, todos irmãos se formando com brilho na Universidade. Mas nunca chegaram a pertencer à chamada elite local (em cidade do interior, a elite é parte da classe média), embora tivessem destaque na profissão.

Tempos atrás publiquei um comentário de um empresário de sucesso em Poços, que era mero menino de rua. Um dia passou na frente da farmácia do meu pai, todo sujo, chamando a atenção do velho. Meu pai o convidou para trabalhar lavando vidros. Vendo que o menino não almoçava, indagou a razão: não tinha dinheiro para a comida. Desde então, meu pai passou a levá-lo para casa, para almoçar com ele. No depoimento, ele me dizia que o fato de poder almoçar junto com o patrão foi suficiente para abrir-lhe os olhos de que era possível ultrapassar o limite da pobreza.

A grande questão suscitada pelo trabalho de Jessé é até que ponto esses personagens se constituem em uma estamento ou classe social, ou são apenas campeões individuais?

A insuficiência de classificação econômica

O que não resta dúvidas é sobre a insuficiência da divisão econômica de classes sociais.

E aí me remete para uma experiência próxima frustrante, um sociólogo cabeça-de-planilha que o Jorginho Cunha Lima teve a infeliz ideia de chamar para assessorar na programação da TV Cultura.

O gênio fez pesquisas e constatou que a maioria dos telespectadores da Cultura era de classe B- e C – uma obviedade em se tratando de qualquer canal aberto. Com base nessa conclusão, sugeriu que a programação da Cultura se popularizasse. De nada adiantou argumentar com Jorginho que o fato de ser de Classe C não tornava o sujeito menos interessado em temas culturais. Se já assistia a Cultura, era evidente tratar-se de um telespectador diferenciado, que não poderia ser enquadrado nas categorias econômicas tradicionais.

Começou ali o desmonte do jornalismo e da linha de shows da TV Cultura. Até então, o Jornal da Cultura tinha uma audiência que ia de Delfim Netto aos motoristas de táxi. Com a reforma, foi sumindo lentamente, ganhando alguma sobrevida apenas em função da inércia.

A palestra de Mangabeira

Quanto à palestra de Roberto Mangabeira Unger no Seminário do BNDES, não vi nenhum sentido anti-social. Em suma, ele divide os atendidos pela Bolsa Família em dois grupos: aqueles já aptos a se integrarem à economia e o segundo grupo (a "ralé"), sem condições de se inserir na economia. Ao primeiro grupo, ele sugere um programa de capacitação; ao segundo, trabalho de acompanhamento, preparando-o para futuramente poder ser capacitado para entrar no mercado.

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