segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Primeiro, Desmoralizar; Depois, Desqualificar

Abaixo dois artigos que resumem um pouco o comportamento da imprensa brasileira em relação ao nosso ex presidente LULA e nossa atual presidenta DILMA. Primeiro eles tentaram desqualificar DILMA, dizendo que ela seria uma cópia do LULA. Agora, que percebem ser ela muito competente e preparada para o cargo, tentam desqualificar o ex presidente LULA, tentando jogar um contra o outro. É triste de ver....

O que falar de Dilma?

Pelo que parece, a “grande imprensa” vai passar quatro anos a se remoer. Achava que a presidenta seria cópia piorada de Lula. Dá-se o caso que, neste início de governo, ela surpreendeu a mídia. Exatamente no que menos se esperava: está fazendo, desde o primeiro momento, o governo dela

É engraçado ler nossa “grande imprensa” nos dias que passam. Seus colunistas e comentaristas vivem momentos difíceis, dos quais tentam escapar com saídas cômicas.

A raiz de seus problemas é que não sabem como lidar com Dilma Rousseff. Talvez achassem que seu governo seria óbvio. Que ela seria uma personagem que conseguiriam explicar com meia dúzia de ideias prontas.

Imaginavam, talvez, que o compromisso que ela assumiu com a continuidade do trabalho de Lula faria com que ficasse de mãos atadas. E, quando ela confirmou vários ministros e auxiliares do ex-presidente na sua equipe, devem ter tido certeza de que suas expectativas se confirmariam.

Achavam que Dilma seria uma cópia carbono de Lula. Piorada, naturalmente, pois sem sua facilidade de comunicação e carisma. Estava pronta a interpretação do novo governo: na melhor das hipóteses, uma repetição sem brilho das coisas que conhecíamos. Para quem, como nossos bravos homens e mulheres da “grande imprensa”, achou que o governo Lula havia sido uma tragédia, o de Dilma seria uma farsa. Como dizia o velho Karl Marx, quando a história se repete, é isso que acontece.

Dá-se o caso que, neste início de governo, Dilma os surpreendeu. Exatamente naquilo que menos esperavam: está fazendo, desde o primeiro momento, o governo dela.

Não há sinal mais evidente que a mudança que experimentou a parcela do ministério que manteve. Ficaram parecidos com os novos. São ministros dela e não ex-ministros de Lula.

Na verdade, esse é apenas um sintoma de que, em pouco mais de um mês, o governo Lula virou passado. Algo que era difícil antever aí está. Em grande parte, porque Dilma ocupou seu lugar, deixando claro que não é igual ao antecessor.
 
A “grande imprensa” brasileira estava preparada para essa hipótese, mesmo que a achasse improvável. Era o cenário da crise entre criador e criatura, tão frequente na política, que vem na hora em que o “poste” se rebela contra quem lhe deu vida. Não era pequena a torcida em favor desse desfecho: Dilma desentendendo-se com Lula, este aborrecido, ela enciumada, ele se sentindo traído, ela sozinha no Planalto.

Não é isso o que está ocorrendo. Lula não parece achar errado que Dilma tenha se sentado na cadeira que ele ocupou por oito anos e começado a governar desde o primeiro dia.

A frustração de perceber que quase nada do que imaginava está se verificando tem levado a “grande imprensa” a atitudes patéticas. Não há maior que a recusa em aceitar a decisão de Dilma de ser tratada como presidenta.

A insistência dos “grandes veículos” em só designá-la como presidente é pueril. Na língua portuguesa, as duas palavras existem, o que faz com que qualquer uma possa ser empregada. Se Dilma escolheu uma, que argumento justificaria negar-lhe o direito de usá-la?

É provável que os historiadores do futuro achem graça da implicância de nossos “grandes jornais”. Seu consolo acabou sendo pequeno: o que lhes resta é pirraçar, bater pé e chamá-la “presidente”.  Um dia, quem sabe, farão como os jornalões argentinos, que acabaram respeitando a mesma opção de Cristina Kirchner (os jornais chilenos, mais educados, nunca recusaram a prerrogativa a Michelle Bachelet).

Nesta semana, nossos vibrantes “grandes jornais” passaram a achar ruim que Dilma houvesse feito uma foto colorida para acrescentar à galeria dos presidentes da República. Queriam que fosse em branco e preto, talvez por picuinha. Sugeriram que ela quer “aparecer demais”.

E assim vamos. Pelo que parece, a “grande imprensa” vai passar quatro anos se remoendo.

Da Carta Capital

Um império contra um operário


A mídia, Globo na frente, não dá trégua ao ex-presidente

Nunca foram boas as relações entre a mídia brasileira e o torneiro mecânico Lula, desde que, nos anos 1970, ele emergiu no comando das jornadas sindicais no ABC paulista, onde estão algumas das empresas do moderno, mas ainda incipiente capitalismo brasileiro. Em consequência, quase natural, o operário não foi recebido com entusiasmo quando, após três fracassos, venceu a disputa para a Presidência da República, em 2002.
 
Os desentendimentos se sucederam entre o novo governo e o chamado “quarto poder” e culminaram com a crise de 2005 quando televisões, jornais, rádios e revistas viraram porta-vozes da oposição que se esforçava para apear Lula do poder. Inicialmente, com a tentativa de impeachment. Posteriormente, após esse processo que não chegou a se consumar, armou-se um “golpe branco” em forma de pressão para o presidente desistir da reeleição, em 2006.

Lula ganhou e, em 2010, fez o sucessor. No caso, sucessora. Dilma Rousseff sofreu quase todos os tipos de constrangimentos políticos. Ela tomou posse e, no dia seguinte, foi saudada por deselegante manchete do jornal O Globo, do Rio de Janeiro: “Lula elege Dilma e aliados preparam sua volta em 2014”.

A reportagem era um blefe político. Uma “cascata” no jargão jornalístico. O jornal O Globo, núcleo do império da família Marinho, tornou-se a ponta de lança da reação conservadora da mídia e adotou, desde a posse de Lula, um jornalismo de combate onde a maior vítima, como sempre ocorre nesses casos, é o fato. Sem o fato abre-se uma avenida para suspeitas versões.
 
O comportamento inicial da presidenta, mar­ca­do por discrição e austeridade, foi uma surpresa para todos. O Globo inclusive. Não há sinais de que seja uma capitulação ao poder dos donos da mídia com os quais Dilma tem travado discretos diálogos. Armou-se circunstancialmente um clima de armistício. Na prática, significou um fogo mais brando, a provocar um visível recuo de comentaristas que eram mais agressivos com Lula. Soltam, porém, elogios hesitantes por não saberem até onde poderão seguir.

Esse armistício se sustenta numa visão de que as situações não são iguais. Dilma não é Lula. É claro que há diferenças entre o governo de ontem e o de hoje. No entanto, o carimbo pessoal da presidenta na administração do País faz a imprensa engolir a propaganda de que ela era um “poste”. Essa contradição se aguça na sequência dessa história. Dilma passou a ser elogiada e Lula criticado.

Alguns casos, colhidos da primeira página de O Globo ao longo de uma semana, expressam o que ocorre, em geral, em toda a mídia:
 
Atos de Dilma afastam governo do estilo Lula (6/2) – críticas ao ex no elogio ao governo Dilma.
Por qué no te callas? (8/2) – crítica atribuída a um sindicalista, mantido no anonimato, sobre apoio de Lula ao salário mínimo proposto por Dilma.

A fatura da gastança eleitoral (10/2) – a respeito de despesas do governo Lula com suposta intenção eleitoral.
 
Dilma aposenta slogan de Lula (11/2) – sobre a frase “Brasil, um país de todos”.

Herança fiscal de Lula limita o começo do governo Dilma – (13/2) – crítica a Lula ao corte no Orçamento proposto por Dilma.

Ela recebe afagos e ele, pedradas. Procura-se, sem muito disfarce, cavar um fosso entre o ex e a presidenta. Situação que levou Lula, na festa de aniversário do PT, a reagir: “Minha relação com Dilma é indissociável”.

 

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