terça-feira, 25 de maio de 2010

Crescimento e Inflação

Algumas notícias interessantes nos falam do crescimento de nosso país e da desaceleração da inflação (um mal que geralmente acompanha fortes crescimentos).

No primeiro trimestre a economia brasileira cresceu 9,3%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Se formos anualizar o número ele irá para 11,7%. Veja aqui os detalhes.

Na outra ponta, o rítmo inflacionário diminuiu bastante na última semana de maio, o que indica um controle positivo apesar de todo o crescimento. Confira.

E o jornal frances LE MONDE publicou hoje um artigo bastante propício para os números que vimos acima. Acompanhe:

O Brasil tenta controlar o aumento do seu crescimento econômico

Allegro ma non troppo: é esse o ritmo que o governo brasileiro quer imprimir ao crescimento da economia nacional. Nos últimos meses, esta vem progredindo rápido demais, e corre o risco de sofrer um superaquecimento como o da economia chinesa.

Atingido tardiamente pela crise mundial, o Brasil foi um dos primeiros países a se livrarem dela. E como! Depois de ter sofrido uma ligeira retração do produto interno bruto (PIB) de 0,2% em 2009, sua economia volta a crescer, e mais rapidamente do que antes da crise.

Segundo uma projeção do Banco Central, o crescimento deu um salto de 9,84% no decorrer do primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2009, e de 2,38% em relação ao período outubro-dezembro de 2009. A economia poderá crescer de 6% a 7,5% em 2010, um recorde nos 25 últimos anos.

Os sinais de superaquecimento são visíveis. Principal motor do crescimento, o consumo interno está a todo vapor. Ele é mantido pela febre consumidora dos cerca de 25 milhões de brasileiros que, em dez anos, passaram a fazer parte da classe média e descobriram os charmes do crédito. No primeiro trimestre, o comércio cresceu 13%.

Em três meses, o Brasil criou quase um milhão de empregos. E deverá criar 2,5 milhões deles em 2010, em um mercado que permanece tenso devido à escassez de mão de obra qualificada em certos setores em plena expansão, como a indústria petroleira. De janeiro a março, mais de 11 mil vistos de trabalho foram concedidos a estrangeiros, um aumento de 16%.

As importações destinadas a satisfazer a demanda interna em bens de produção e em produtos industriais deverão, pela primeira vez desde 2000, ultrapassar as exportações, constituídas em sua maioria por matéria-prima agrícola e minerária, destinada especialmente à China, principal cliente do Brasil.

Para evitar o agravamento do déficit da balança de pagamentos, o governo acaba de adotar uma série de medidas de ajuda aos exportadores, ainda mais castigados pela valorização excessiva do real, a moeda nacional.

Mas o que mais preocupa os dirigentes é o despertar da inflação, esse flagelo que tanto devastou a economia do Brasil no passado. A alta dos preços atingiu 5,3% em um ano, e deverá ser de 5,5% em 2010, ou seja, um ponto acima da meta oficial (4,5%). Para o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, é absolutamente necessário do ponto de vista político conter a inflação, a pior inimiga dos pobres.

E isso causou a decisão tomada pelo Banco Central, no fim de abril, de aumentar em 0,75 ponto os juros básicos, para 9,5%. Foi a primeira vez em quase dois anos, e deverá haver outros aumentos futuramente, de forma suave para não “resfriar” demais a economia.

Essa medida ocasionalmente indispensável não compromete, a longo prazo, a queda progressiva dos juros que, em termos reais, passaram de 20% em 2003 para 5% hoje. Esses juros continuam sendo muito atraentes para os especuladores estrangeiros, seduzidos pelo Brasil desde que as agências de classificação de risco o consideraram um “país seguro” em 2008.

Em 2010, os investimentos diretos estrangeiros deverão atingir a cifra recorde de US$ 45 bilhões. Na Bolsa de São Paulo, eles são maiores que os investimentos das instituições e pessoas físicas.

Entretanto, se o Brasil se aproxima do superaquecimento, é porque ele não investe o suficiente em seus meios de produção. Ele também poupa muito pouco: 19% de seu PIB (contra 40% na China). Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), calcula em 25% as taxas de investimento e de poupança desejáveis para que o Brasil possa enfrentar um crescimento anual de 10%.

Esse dinheiro deverá financiar o desenvolvimento da infraestrutura, especialmente no setor rodoviário e portuário, que está saturado, e a melhora do ensino público e profissionalizante, cuja deficiência limita os ganhos de produtividade. Sem isso o país corre o risco de ter uma falta ainda maior de máquinas, de espaço e de mão de obra qualificada.

Enquanto isso não acontece, o governo, para frear a demanda, aboliu os incentivos fiscais instaurados durante a recessão para estimular o consumo. Ele anunciou cortes de US$ 17 bilhões (R$ 31 bilhões) nos gastos públicos. Mas, nesse campo da austeridade, sua margem de manobra orçamentária é reduzida, neste ano de eleição presidencial.

Há alguns dias, em Madri, o presidente Lula comemorava “o momento mágico” vivido pela economia brasileira. Para que essa magia dure, não é nem desejável nem razoável que esta cresça além de 6% este ano.

“Não queremos voar além daquilo que planejamos”, resume o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, brinca: “Mas controlar o aquecimento é uma tarefa boa”. Uma tarefa pela qual é invejado por muitos de seus colegas em todo o mundo.

Petrobras, principal empresa da América Latina

A companhia petrolífera brasileira Petrobras é a empresa que teve, em 2009, o maior lucro da América Latina (R$ 31 bilhões), segundo a agência especializada Economática. Outro grupo brasileiro, a mineradora Vale (R$ 11 bilhões), está em terceiro lugar. Criada em 1953, a Petrobras também é a maior firma do Brasil, e a terceira de todo o continente americano por sua capitalização de mercado. Presente em 28 países, ela se desenvolveu sobretudo na exploração de petróleo em águas muito profundas (mais de 7 mil metros). No fim de 2007, a Petrobras descobriu, na costa sudeste do Brasil, jazidas gigantescas que podem conter cerca de 50 bilhões de barris de óleo bruto.

Tradução: Lana Lim

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