sábado, 8 de maio de 2010

Justiça Produzindo Marginais

Jovem que pegou bebê vai para antiga Febem

Adolescente foi recolhida ontem; ela tentou convencer família de que recém-nascido que levou de maternidade era seu

Para promotor, atos da menina que tomou a filha de outra mulher foram “gravíssimos”; pai diz que sua filha não é delinquente

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi recolhida ontem à tarde à Fundação Casa, a antiga Febem, a menina J., de 15 anos, que entrou em uma maternidade na zona leste da cidade, escolheu uma criança recém-nascida e fugiu, levando o bebê.

A criança, Isadora Fernanda Pereira Ferri, foi devolvida pelos familiares da jovem à verdadeira mãe, a ajudante de costureira Luana Aparecida Pereira, 26. Estava limpa, de roupinha trocada e alimentada.

A internação de J. foi pedida pelo promotor Oswaldo Monteiro da Silva Neto, da Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude, que considerou os atos de J. “gravíssimos”, e decretada pelo juiz Caio Ferraz de Camargo Lopasso, da 4ª Vara Especial da Infância e da Juventude de São Paulo.

Por intermédio da assessoria de imprensa do tribunal, o juiz recusou-se a explicar os motivos por que julgou que a internação seria a melhor medida. Alegou “segredo de justiça”. Policiais que atenderam o caso, do 81º DP, no bairro do Belém, zona leste da cidade, descreveram J. como uma menina atormentada e doente.

Aborto

Durante os últimos quatro meses, a adolescente sustentava que estava grávida e vestia-se com batas e roupas largas. Na semana passada, promoveu um chá de bebê.

Só que J., que mantinha um relacionamento estável com Rafael de Andrade da Silva, um pouco mais velho do que ela, sofreu um aborto há quatro meses. Contava, então, cinco meses de gestação.

Na última terça-feira, completados os supostos nove meses de gravidez, a menina saiu da casa dos sogros e foi direto para o Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros.

Vestida com um jaleco branco, fingiu ser estagiária de enfermagem. Passou cinco horas na maternidade, conversando com pacientes, vendo os bebês.

Às 18h05, saiu, levando a pequena Isadora, apenas um dia de vida, escondida em uma bolsa grande. Queria convencer a família de que era o filho que esperava. Não conseguiu.
Enfermeiras do hospital lembram-se de que a “estagiária” andava de um jeito esquisito.

Com as pernas fechadas. Que foi várias vezes ao banheiro.

Que trocou de absorvente higiênico cinco ou seis vezes.

A policial que conversou com a garota, depois da devolução do bebê, percebeu: ela tinha febre alta, infecção e hemorragia uterina, resultados do aborto sem tratamento.
A decisão do juiz pela internação de J. surpreendeu o pai da adolescente, o aposentado Carlos Alberto Marques Monteiro, 57. “Minha filha não é delinquente. É uma criança. Não pesou em nada ter devolvido a menina. O juiz nem me ouviu.

Disse que era um sequestro e levou minha filha”, afirmou o pai, chorando.

Essa situação pode se prolongar por até 45 dias, até que o juiz julgue o processo em definitivo. Segundo a Promotoria, se condenada, J. pode sofrer internação de um a três anos, tratamento em regime de liberdade assistida ou apenas prestação de serviços à comunidade.

Colaborou MATEUS PARREIRAS , do “Agora”

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