segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Economês - Riscos do Câmbio Fortalecido

Do Luis Nassif

Coluna Econômica

Em muitas áreas do país, ainda há pouca sensibilidade sobre os terríveis efeitos do câmbio na competitividade dos produtos brasileiros.

Em condições normais de voo, se investe pesadamente em gestão, tecnologia, pesquisas, empresas conseguem agregar valor – isto é, aumentar o valor de seus produtos – em algo como 10 a 20%. Ou então, em reduzir os custos em, digamos 10%. 15%.

Quando um país tem sua moeda muito apreciada, significa que seus produtos ficarão muito mais caros no mercado internacional, tirando totalmente sua competitividade. Em geral, os movimentos do câmbio brasileiro tem matado qualquer ganho de produtividade obtido da porteira para dentro da empresa.

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Vamos a um exemplo bem didático desse processo.

Momento 1 – Suponhamos que o real e o yuan (chinês) valem um dólar; um par de sapatos de exportação custa 90 reais (ou 90 yuans) e é vendido por 100 dólares (ou 100 reais e 100 yuans). A empresa tem um lucro líquido de 10 reais (ou yuans). Ou seja, tem-se uma situação equilibrada.

Momento 2 – suponha que haja uma inflação interna de 20% no Brasil – e que o custo do calçado acompanhe esse aumento. O novo custo do calçado será de R$ 108,00 (90 + 20%). Se o calçado continuar sendo vendido a US$ 100,00 e o câmbio continuar em 1 x 1, o exportador receberá R$ 100,00 pelo par de calçados, e terá um prejuízo de R$ 8,00 por par.

Para manter a margem anterior, haveria dois caminhos. O primeiro, do exportador aumentar o preço do par para US$ 120,00 – nesse caso, perderia a clientela para o sapato chinês, que não aumentou de preço. Outra alternativa seria o real ser corrigido em 20% - cada dólar passar a valer R$ 1,20. Nesse caso, o exportador receberia R$ 120,00 por cada US$ 100,00 vendidos. Ou seja, a mera inflação interna, sem a correspondente desvalorização do real, bastaria para tirar o exportador do jogo.

Momento 3 – mas continuemos as contas. Como se sabe o yuan é uma moeda muito desvalorizada – justamente para poder baratear os produtos chineses no comércio mundial. Suponhamos que cada dólar passe a valer 1,50 yuans. Apenas por conta dessa desvalorização cambial, o exportador chinês teria um lucro de 60 yuans para cada par de sapatos vendidos – contra 10 yuans, antes da desvalorização.

Momento 4 – mais ainda. Com essa margem de lucro, suponhamos que o fabricante chinês resolva dar um desconto de 30% para o importador americano. Venderá o par por US$ 70,00. Com o dólar a 1,50 yuan, receberá 105 yuans. Como o custo do sapato é de 90 yuans, seu lucro será de 15 yuans – 50% a mais do que os 10 yuans de antes da desvalorização.

Momento 5 – vamos avançar um pouco mais na história. Suponha que (no nosso exemplo) haja uma valorização de 10% no real. Somando a inflação acumulada, se mantivesse o mesmo preço de venda dos calçados (US$ 100,00), nosso exportador amargaria um prejuízo de R$ 18,00 por par. É evidente que, à essa altura, já terá deixado de exportar.

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