sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Preconceito Exacerbado

Depois de alguns dias não descansando, pelo contrário, com muitas atividades, volto aos meus posts com um assunto que é resultado ainda das eleições presidenciais. Um movimento originado no sul e sudeste de claro preconceito contra nossos irmãos nordestinos. Veja uma das notícias a respeito do blog da ÉPOCA:

A eleição para Presidente da república gerou um movimento regionalista preconceituoso no Twitter. Perfis de pessoas que supostamente moram nas regiões sul e sudeste “acusavam” o povo nordestino de ter sido responsável pela escolha de Dilma para a presidência – fato que provavelmente não agradou. A resposta veio em tom parecido por parte de alguns nordestinos, que responderam na mesma “categoria”.
São diversos exemplos de frases e hashtags preconceituosas. O perfil @vovo_panico (que é um fake da humorista do programa Pânico na TV), por exemplo, twittou a seguinte frase: “Gente, o que nois do Sul/Sudeste estamos fazendo no twitter ? vamos trabalhar pra sustentar mais 4 anos de Bolsa Familia do Norte/Nordeste”. Um outro perfil (que não me parece fake e por isso não vou identificá-lo) mandou esta: “Chega de carregar nas costas um bando de ignorantes e parasitas q sempre viveram as custas do estado. DIVISÃO JÁ #nordestisto).”

É bom que se esclareça: aqui no Bombou, não costumamos falar de ações isoladas que envolvam racismo, homofobia, regionalismos etc. Não é legal dar espaço para este tipo de gente e o Ministério Público tem cuidado disso muito bem. Mas quando isso se torna um movimento, capaz de levar uma hashtag preconceitusa para os Trending topics, é dever informar.

Criaram um tumblr que para reunir todas as manifestações preconceituosas (de pessoas do sul e sudeste com pessoas do norte e nordeste). É o http://xenofobianao.tumblr.com/. Mas é bom esclarecer que o termo Xenofobia se refere apenas ao preconceito com estrangeiros. No caso do embate envolvendo Sudeste e Nordeste, o termo mais correto seria Regionalismo, ou com o perdão da expressão, Imbecilidade.

Abaixo, uma das reações vindas da OAB/PE:


No domingo, usuários do microblog começaram a postar mensagens ofensivas ao Nordeste contra a vitória de Dilma
Recife. A seção Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE) entra hoje, na Justiça de São Paulo, com representação criminal contra a onda de ataques aos nordestinos divulgada pelo Twitter após o resultado da eleição.




No domingo à noite, usuários da rede de microblogs começaram a postar mensagens ofensivas ao Nordeste contra a vitória de Dilma Rousseff, relacionando o resultado à boa votação de Dilma na região. A representação da OAB-PE é contra a estudante de Direito Mayara Petruso, de São Paulo, uma das que teriam iniciado os ataques. Segundo o presidente da OAB-PE, Henrique Mariano, Mayara deve responder por crime de racismo (pena de dois a cinco anos de prisão, mais multa) e incitação pública de prática de crime (cuja pena é detenção de três a seis meses, ou multa), no caso, homicídio. Entre as mensagens postadas pela universitária, há frases como: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”.

“São mensagens absolutamente preconceituosas. Além disso, é inadmissível que uma estudante de Direito tenha atitudes contrárias à função social da sua profissão. Como alguém com esse comportamento vai se tornar um profissional que precisa defender a Justiça e os direitos humanos?”, diz Mariano.

Em julho deste ano, a seção pernambucana da Ordem já havia prestado queixa à Polícia Federal contra pelo menos dez usuários do Twitter, por mensagens ofensivas aos nordestinos após as enchentes na região.

“Essas redes sociais são meios de comunicação de alcance nacional, e crimes que ocorram nelas são de ordem federal. São ofensas que atingem todos os nordestinos, existe um direito difuso aí sendo desrespeitado”, completa Mariano.

No domingo, usuários do Twitter insatisfeitos com a vitória de Dilma postaram frases como “Tinham que separar o Nordeste e os bolsas vadio do Brasil” e “Construindo câmara de gás no Nordeste matando geral”. Como reação, outros usuários passaram a gerar mensagens com “#orgulhodesernordestino”, hashtag que ficou entre os primeiros lugares no ranking mundial no Twitter.

E agora um artigo de Osvaldo Castro sobre o orgulho de ser nordestino:

“… é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos”. Ariano Suassuna 
Expressão “orgulho de ser nordestino” surgiu como reação a mensagens discriminatórias e xenófobas postadas na internet por ensejo da eleição de Dilma, para presidente do Brasil. Antes de analisar a questão em si, faz-se necessário, desde logo, destacar que, mesmo sem os eleitores do Norte e do Nordeste, Dilma venceria Serra http://is.gd/gAyRp.

Alguns insistem que, ao se defender o “orgulho de ser nordestino”, cai-se na bobagem sectarista ou fomenta-se o discurso segregante. Afinal, “somos todos brasileiros”. Desse modo, melhor seria deixar essa segregação para lá e se fixar apenas no “orgulho de ser brasileiro”.

Orgulho de ser brasileiro não afasta o orgulho de ser nordestino. Reforçar o orgulho de ser nordestino impõe-se como analética da alteridade. Analética é a junção do grego aná, quer dizer, mais além, mais alto e logos, palavra. Portanto, analética significa a palavra que vem do outro, além do fundamento e daquele que não consegue ser cidadão em sua polis de existência. Dessa forma, a analética da alteridade “indica a razão que vem do outro negado, desconsiderado pelo processo de exclusão social e econômico, cuja tese fundamental alicerça a violência injusta destruidora da condição cidadã; a ordem dos deveres que o sistema impõe sem possibilidade de exercício dos direitos em contrapartida” (Dallabrida, 2003).

Frisar o orgulho de ser nordestino é reagir ao argumento que não aceita a exterioridade (negador do outro). Trata-se, desse modo, da tentativa de engendrar discurso a partir da libertação do outro, da afirmação da alteridade negada na totalidade.

Há na perspectiva discriminatória nítida tentativa de apresentar o outro como alteridade, destacando-o como estranho, diferente, distinto. O nordestino não pode aceitar calado ou se esconder atrás do discurso cordial, quando se apresenta em curso processo marginalizador a situá-lo fora da nacionalidade.

Os ofendidos precisam reagir. A partir da reação dos ofendidos torna-se possível inverter certa “lógica” discursiva de caráter hegemônico e exclusivista. A resistência do alijado não pode ser considerada mero discurso contrário ou birra de bobinhos que se sentem vitimizados, mas testemunho desopressor.

Sinto enorme orgulho de ser nordestino. Esse orgulho de ser nordestino não pode ser entendido como contrariedade ao orgulho de ser brasileiro, vez que sinto imenso orgulho de ser brasileiro. Pelo contrário, ele se afigura como afirmação da brasilidade nordestina que o discriminador pretende rejeitar.

O discurso segregante quer negar a brasilidade ao nordestino e o nordestino jamais sentirá orgulho de ser brasileiro, caso não sinta orgulho de ser nordestino (que é, nada mais nada menos, do que a asserção de que o brasileiro só o é enquanto o é nordestino também). O orgulho de ser brasileiro, pressupõe o orgulho de ser nordestino.

O orgulho de ser nordestino não tem o propósito de nos incluir na brasilidade, mas de revigorar nossa inclusão na brasilidade que os segregadores almejam nos negar. O discurso discriminatório quer que sintamos vergonha de nos afirmamos nordestinos, quer nos impor a ideia de que os nordestinos são diferentes dos brasileiros, numa ilação destituída de qualquer razoabilidade, salvo da razão hegemônica que se arroga, antes de tudo, o poder da distinção.

Impressionante como algumas baixarias humanas não tem limite....

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