domingo, 27 de junho de 2010

Artigo

O QUE SOBROU

Robson Barenho - Brasilia Confidencial No 271

Desprezado pelo PSDB do Paraná, que o descartou como candidato a governador, o senador Álvaro Dias foi consolado pelo comando nacional tucano, que o tornou líder da bancada. Agora, os próprios líderes nacionais do PSDB decidiram submeter Dias a algo equivalente, nesta altura, a uma punição: é ele o escolhido pelo partido para companheiro de chapa do candidato à Presidência, José Serra.

O que assemelha essa escolha a um castigo é o fato de que a eleição presidencial já está perdida pelas oposições ao Governo Lula. Está perdida porque mais de 70% do eleitorado aprova o governo, porque mais de 80% dos eleitores aprovam o desempenho de Lula, porque essa maioria deseja a continuidade do governo e porque a candidata que representa essa continuidade desejada é Dilma Rousseff. Outros argumentos, por mais respeitados que sejam ou possam ser seus autores, formam um trololó.

É verdade que a campanha e o candidato das oposições, dissimuladas ou declaradas, têm favorecido a candidatura governista. Mas, em essência, seria surpreendente que as oposições fizessem uma campanha certa ao fim de oito anos de múltiplos equívocos de avaliação e de comportamento sobre os interesses da maioria da população e do eleitorado. Seria surpreendente que as oposições conseguissem construir com a maioria dos eleitores, numa campanha, a sintonia que não souberam ou não quiseram perseguir ao longo de quase uma
década. De oposições desatentas aos interesses da maioria seria exigir demais uma campanha atenta a esses interesses.

Daí, o quadro formado agora já não parece mais desafiar o PSDB e seus aliados a vencer a eleição, mas a evitar que a sucessão presidencial seja decidida já no primeiro turno. Não é incomum que políticos carismáticos sejam avaliados positivamente por muito mais gente do que os governos que comandam. Mas não é isso o que as pesquisas de todos os institutos estão apontando no Brasil. O que a maioria dos eleitores está dizendo nas pesquisas não é que o presidente é bom, mas o governo é ruim. O que a maioria do eleitorado está dizendo é que o problema eleitoral das oposições não é só Lula, mas também o Governo Lula.

Lula assumiu o governo com o compromisso e o objetivo estratégico prioritário de favorecer o crescimento econômico e a distribuição de renda. Sua administração acumulou acertos e erros em diversos momentos e áreas, mas nem o candidato oposicionista se anima a desqualificá-la, senão pontualmente. Por isso a proposta dele, sincera ou não, é fazer mais. Como essa é a mesma proposta da candidatura governista, a escolha do eleitor fica facilitada.

Esse é o cenário em que o PSDB escolheu o senador paranaense Álvaro Dias como candidato a vice-presidente. Dispensando o DEM, parceiro de todas as horas, o partido de Serra formou a “chapa pura” que antes cogitou formar com o ex-governador mineiro Aécio Neves, com o senador cearense Tasso Jereissati e com o senador pernambucano Sérgio Guerra. Como todos recusaram a vaga, sobrou para Álvaro Dias, representante de um dos três estados da única região – Sul - em que as pesquisas ainda atribuem a Serra alguma vantagem sobre Dilma.

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