domingo, 6 de junho de 2010

A Queda de Um Poeta...

FERREIRA GULLAR DEFENDE A GUERRA CONTRA O IRÃ

O poeta Ferreira Gullar publica hoje, no caderno de cultura da Folha, um artigo melancólico, desinformado, reacionário e pró-guerra. Considero-o mais uma daquelas vítimas da mídia. Na década de 60, tínhamos o poeta Augusto Frederico Smith, outrora um generoso e boêmio editor, que publicara obras do comunista Graciliano Ramos, participando ativamente do histérico macartismo patrocinado pelos meios de comunicação. Histérica e oportunista, porque sempre visando enfraquecer a esquerda democrática representada pelo PTB e pelo presidente João Goulart.

O texto é inteiramente equivocado, e precisarei apelar para aquela estratégia de fazer comentários intercalados.


Ferreira Gullar: Entre o diálogo e a bomba


Como pode Lula afirmar que está aberto ao diálogo um regime que não tolera divergência, como o do Irã?


O ATUAL REGIME do Irã é um atraso. Trata-se de uma ditadura teocrática intolerante e cruel que não permite aos cidadãos iranianos manifestar-se contra qualquer decisão do governo.

As últimas eleições, que mantiveram no poder Ahmadinejad, foram descaradamente fraudadas e todas as manifestações populares de protesto, brutalmente reprimidas por tropas militares, sendo seus líderes, presos e condenados à morte.

[Todo mundo agora fica chamando o Irã de "ditadura", o que é conceitualmente confuso, visto que o país elege seus governantes através do sufrágio universal. O resultado das eleições do Irã foi confirmado pelo sistema judiciário do país. É, no mínimo, temerário afirmar que houve fraude sem atentar para a campanha política patrocinada pelos EUA para desestabilizar o regime. Gullar apela para o exagero e a desinformação. Vários líderes foram presos, mas consta que somente alguns foram condenados à morte. Em função da notícia, publicada no New York Times, de que os EUA lançaram uma ofensiva clandestina contra o oriente médio, voltada principalmente para o Irã, cujo objetivo era fazer alianças com grupos de dissidentes (leia-se patrociná-los) políticos para que, numa futura guerra contra o país, tivessem auxílio interno, nada prova que os condenados pelo regime iraniano não fossem traidores a soldo dos serviços secretos americanos.]

Às vésperas da visita de Lula a Teerã, cinco deles haviam sido executados. O fanatismo religioso e o ódio aos discordantes é de tal ordem que os cega, a ponto de negarem, perante o mundo, fatos históricos incontestáveis como o massacre de judeus nos campos de concentração nazistas e a destruição das Torres Gêmeas.

[Há manipulação nas falas do presidente iraniano. Lula, que já conversou com ele sobre esse tema, explicou que ele não nega o Holocausto, mas lembra que na II Guerra morreram 60 milhões de pessoas, e 6 milhões de judeus. Não houve somente morte de judeus, portanto. Morreram 20 milhões de russos, por exemplo. Ninguém nega a destruição das Torres Gêmeas. Gullar não pode pegar a afirmação de algum fanático iraniano e fazer disso uma posição oficial do Estado. Os EUA tem fartura de fanáticos que também negam o 11 de setembro.]

Tamanha insensatez e intolerância, que beiram o ridículo, resultaram no isolamento do Irã, mesmo no Oriente Médio. Não obstante tudo isso, o presidente Lula tomou a iniciativa de romper esse isolamento e oferecer seu apoio fraternal ao governo de Ahmadinejad.

[Lula não ofereceu apoio fraternal. Ofereceu mediação. O isolamento do Irã ocorre por parte das potências atômicas ocidentais, e não da comunidade internacional. Tanto que a Rússia continua vendendo mísseis para o Irã e a China é a maior compradora de petróleo do país. Gullar tem uma visão colonizada e anacrônica de achar que o mundo é Europa e EUA. O mundo cresceu e a maior parte dele não isola o Irã.]

É impossível não perguntar: mas por quê? É, sem dúvida, uma atitude surpreendente, difícil de entender. Vejam bem: o Brasil não tem nem nunca teve vinculações estreitas, de qualquer tipo, com o Irã. Não há nenhum objetivo, seja político, seja comercial, que justifique arrostarmos com tamanho desgaste ao apadrinhar um regime repressor e movido pelo fanatismo.

[O Brasil ofereceu mediação porque é membro do Conselho de Segurança da ONU. Não-permanente, mas mesmo assim, membro. Esse cargo implica responsabilidades geopolíticas. O Brasil tem sim objetivos políticos e comerciais para se meter nesse imbróglio. O oriente médio se tornou um dos principais mercados brasileiros, com destaque para o Irã, que é o quinto ou sexto maior comprador da carne brasileira. Os objetivos políticos são ainda mais explícitos. O Brasil abriu espaço para o mundo emergente, deixando claro que as grandes decisões de guerra e paz agora devem ser tomadas pelo conjunto da comunidade internacional. ]

Pior ainda: o apadrinhamento de Lula a Ahmadinejad implica a tentativa de justificar o projeto iraniano de fabricar armas atômicas, contrariando assim o Tratado de Não Proliferação, de que, como o Brasil, é signatário.

[Não há nenhuma prova de que o Irã pretenda construir bombas atômicas. Os EUA justificaram seu ataque ao Iraque com dossiês secretos que provavam a existência de armas de destruição em massa. Era mentira. Por que razão o mundo deve, mais uma vez, se curvar submissamente às tendenciosas acusações americanas?]

Lula faz que não vê, mas não pode ignorar as artimanhas do regime iraniano para escapar à fiscalização da Comissão de Energia Atômica, fingindo disposição de dialogar quando, de fato, tudo o que pretende é ganhar tempo e dar prosseguimento a seu projeto nuclear militar.
Assim foi que, diante de uma nação brasileira perplexa, Lula promoveu um encontro em Teerã com o presidente iraniano e o premiê da Turquia para produzir um suposto acordo que mostrasse a boa vontade do Irã em resolver o impasse.

[O Irã tem aberto suas instalações à Agência Internacional de Energia Atômica e acaba de assinar um acordo duríssimo exigido pela mesma entidade. Não fingiu disposição para o diálogo. Efetivamente dialogou. Gullar faz acusações sem provas ao Irã. Isso se chama irresponsabilidade. Não vimos nenhuma "nação brasileira perplexa", e sim orgulhosa. Gullar confunde seus amiguinhos do Leblon com a "nação brasileira". ]

Mal o assinaram (nele, o Irã prometia entregar 1.200 kg de urânio para serem enriquecidos na Turquia), um porta-voz iraniano declarava que o país continuaria a enriquecer urânio em suas centrífugas. Que sentido tinha então aquele acordo, se o objetivo era o Irã desistir de enriquecer urânio e assim inviabilizar a construção da bomba?

[Gullar está extremamente desinformado. O acordo nunca teve o objetivo de fazer o Irã desistir de enriquecer o urânio, porque as regras internacionais permitem que qualquer país use energia atômica para fins pacíficos. Para fazê-lo, é preciso, naturalmente, desenvolver tecnologia de enriquecimento de urânio. O acordo previa a transferência de 1.200 quilos para outro país, de forma a eliminar as desconfianças das potências nucleares, mas permitia que o Irã prosseguisse enriquecendo parte de seu urânio.]

Sabe-se que o próprio Lula se surpreendeu com essa declaração do governo iraniano, mas, de novo, fechou os olhos e insistiu em avalizar as boas intenções do Irã, enquanto criticava os membros do Conselho de Segurança da ONU, que se dispunham a impor-lhe sanções.

[A surpresa de Lula não foi com a declaração do Irã de que continuaria a enriquecer urânio, e sim o timing da declaração, que foi feita para satisfazer setores linha-dura do regime iraniano.]

Mas isso é coisa sabida e debatida. Difícil é entender por que Lula tomou essa posição, arvorando-se em defensor de um regime antidemocrático e ideologicamente primário, comprometendo desse modo o prestígio de nossa diplomacia, por todos respeitada, graças ao equilíbrio e isenção com que sempre atuou.

[Lula não defendeu o regime iraniano. Defendeu o diálogo e o respeito. O mundo respeita ditaduras muito mais fechadas e autoritárias que o Irã, como a Arábia Saudita e a China. Não vejo motivo para não respeitar o Irã, sendo que ele, repito, tem características bem mais democráticas que outros países.]

Como pode Lula afirmar que está aberto ao diálogo um regime fundamentalista que não tolera divergências? Todas as tentativas de entendimento com o Irã, promovidas pela ONU, fracassaram. Mas, Lula, sempre tão esperto, quando se trata de Ahmadinejad, faz-se de tolo, confia em tudo o que ele diz. Custa crer.

[Tentativas anteriores fracassaram não apenas por culpa do Irã, mas pela arrogância das potências. Lula não "confia" em Ahmadinejad, e sim no Estado iraniano e na capacidade da Agência Internacional de Energia Atômica de fiscalizar o programa nuclear do país.]

Chego a pensar que a explicação esteja em certas declarações suas, como aquela em que negou aos Estados Unidos e à Rússia autoridade para impedir que o Irã fabrique armas atômicas, uma vez que ambos possuem arsenais nucleares.

Com isso, desautorizou o Tratado de Não Proliferação e admitiu implicitamente que qualquer país -inclusive o Brasil- tem o direito de fazer a bomba. Seria essa sua verdadeira intenção, embora nossa Constituição o proíba? Talvez não.

[Irresponsável leviandade. Ridículo. Ainda termina com esse "talvez não" fariseu. Fulano é estuprador, assassino e pedófilo? Talvez não. Fala sério.]

Mas, no Fórum Mundial de Aliança das Civilizações, ao afirmar que o Brasil deseja um mundo sem armas nucleares, voltou a defender a tese, como se não fazer a bomba fosse uma concessão do Irã. E insistiu na necessidade de se preservar a paz no Oriente Médio. Mas não é o Irã que promete pôr fim ao Estado de Israel? Pretende fazê-lo pelo diálogo?

[O Irã tem feito declarações agressivas a Israel, mas as traduções são sempre exageradas e manipuladoras. De qualquer forma, nunca passam de ataques verbais. Enquanto isso, Israel comete crimes hediondos concretos contra as leis internacionais. Claro que é pelo diálogo! Gullar prefere o quê? A guerra? Sanções na adiantam nada. O último país do oriente médio a sofrer sanções foi o Iraque, o que apenas serviu para radicalizar o país e fortalecer setores políticos internos ligados ao militarismo.]

Escrito por Miguel do Rosário no ÓLEO DO DIABO

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