sábado, 19 de março de 2011

Arruda Abre o Bico. Só Agora?

O ex-governador de Brasília, José Roberto Arruda em entrevista à VEJA disse coisas que às vésperas das eleições não disse, ou não foram publicadas. Na época a mesma revista tentou ligar o fato de Brasília ao governo Lula, lembram? Pois é.... E agora, como ficamos? Abaixo, detalhes da entrevista e um comentário de Eduardo Guimarães, em seu blog.

Brasília Confidencial No 428

Comandante da quadrilha de administradores públicos e políticos do Distrito Federal beneficiários do  mensalão do DEM, sustentado com dinheiro de propina arrecadada junto a empresários que seu governo  favorecia, o ex-governador José Roberto Arruda revelou ontem que distribuiu dinheiro a altos dirigentes  nacionais do DEM e do PSDB, a um senador do PDT e ao “PT de Goiás”.
 
Numa entrevista publicada em Veja online, Arruda cita entre aqueles que receberam dinheiro, para eles  mesmos ou para os partidos, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra; o vice presidente nacional do  PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, e vários expoentes do DEM: o senador Demóstenes Torres (GO), o  agora ex- senador Marco Maciel, o senador Agripino Maia (RN) – eleito anteontem presidente nacional do  partido -, mais os deputados Ronaldo Caiado (GO), ACM Neto (BA) e Rodrigo Maia (RJ), presidente  nacional do DEM até a última quarta-feira. Arruda diz também que ajudou o PT de Goiás e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
 
Eleito governador do Distrito Federal em 2006, José Roberto Arruda foi apontado pela Polícia Federal e o  Ministério Público Federal, em 2009, como chefe de um esquema de fraude, de corrupção e de outros  crimes, que sangrou os cofres públicos em dezenas de milhões de reais.
 
Filmado por seu auxiliar e delator do mensalão do DEM, Durval Barbosa, recebendo um maço de R$ 50 mil, foi expulso do partido, teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral e passou dois meses preso na sede da Polícia Federal.
 
Arruda alega, na entrevista a Veja, que jogou “o jogo da política brasileira” ou dançou “a música que tocava no baile”. E contra-ataca os companheiros de partido que o condenaram. “Assim que veio a público o meu  caso, as mesmas pessoas que me bajulavam e recebiam a minha ajuda foram à imprensa dar declarações me enxovalhando. Não quiseram nem me ouvir. Pessoas que se beneficiaram largamente do meu mandato. Grande parte dos que receberam ajuda minha comportaram-se como vestais paridas. Foram desleais  comigo”.
 
A revista pergunta a Arruda quais líderes do partido foram hipócritas. “A maioria. Os senadores  Demóstenes Torres e José Agripino Maia, por exemplo, não hesitaram em me esculhambar. Via aquilo na  TV e achava engraçado: até outro dia batiam à minha porta pedindo ajuda! (...) O senador  Demóstenes me  procurou certa vez, pedindo que eu contratasse no governo uma empresa de cobrança de contas atrasadas.  O deputado Ronaldo Caiado, outro que foi implacável comigo, levou-me um empresário do setor de  transportes, que queria conseguir linhas em Brasília”.
 
Ao afirmar que ajudou também outros políticos e partidos, Arruda destaca sua contribuição ao PSDB. “Ajudei o PSDB sempre que o senador Sérgio Guerra, presidente do partido, me pediu. E também por meio de Eduardo Jorge, com quem tenho boas relações”.
 
Eduardo Jorge Caldas Pereira, o vice-presidente nacional tucano, alegou que pediu ajuda de Arruda para saldar dívidas do partido. No DEM, o senador Agripino Maia e o deputado ACM Neto negaram que  tenham pedido ajuda de Arruda.

Entrevista de Arruda põe Veja sob suspeita




No começo da noite de quinta-feira, a versão digital da revista Veja publicou em seu site uma bombástica entrevista do governador cassado de Brasília, José Roberto Arruda, concedida enquanto ainda estava preso, em setembro do ano passado. O ex-governador acusa seus ex-aliados de estarem todos envolvidos no mesmo esquema criminoso que ele próprio.

Vários ex-aliados de Arruda citados – e acusados – por ele na entrevista que concedeu em pleno processo eleitoral, tais como José Agripino Maia (atual presidente do DEM) ou Rodrigo Maia (presidente do partido à época em que a entrevista foi concedida), entre outros demos e tucanos, reelegeram-se em 3 de outubro passado.

A pergunta mais imediata é sobre se teriam sido eleitos caso a Veja não tivesse escondido a entrevista do ex-governador de Brasília. E a suposição mais imediata é a de que a revista escondeu as acusações de Arruda para não atrapalhar a eleição de políticos que protege há muito. São conclusões inescapáveis.

Todavia, não se entende por que a Veja publicou a entrevista. Não teria sido mais fácil escondê-la? E como a revista pretende explicar por que ocultou acusações que poderiam ter impedido que vários  dos demos e tucanos citados na entrevista fossem reeleitos?

Mas não é só isso. A ocultação da entrevista de Arruda pode ter atrapalhado as investigações sobre o “mensalão” de Brasília. A menos que as denúncias de Arruda à Veja também tenham sido feitas à polícia, o que é bem provável que tenha ocorrido. Ainda assim, resta a questão eleitoral.

A sociedade e a Justiça têm que discutir se ficam passivas diante de um meio de comunicação que publicou reportagens no período eleitoral acusando todo o governo Lula com base em nada e que escondeu graves acusações de um escroque do calibre de Arruda que qualquer órgão de imprensa sério teria obrigação de divulgar.

Quem, que autoridade, que político terá coragem de cobrar a Veja publicamente? Aliás, não seria dever do Ministério Público (eleitoral?) fazer esse questionamento à revista? Afinal, se as acusações de Arruda se confirmarem, seus ex-companheiros corruptos terão sido eleitos graças à censura que a Veja impôs a matéria de interesse público.

Como a “grande imprensa” tratará o assunto? Sairá na primeira página de Globos, Folhas e Estadões? O Jornal Nacional vai noticiar? Os acusados por Arruda serão expostos, como aconteceria se fossem do PT? Ou a entrevista ficará restrita à Veja e sumirá nos dias posteriores? A forma como a mídia tratará o caso deve virar um escândalo à parte.


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