sexta-feira, 25 de março de 2011

Greve ou Lockout?

Brasília Confidencial No 434

SORAYA AGGEGE

O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou ontem que o governo está  “extremamente preocupado” com os tumultos nos canteiros de obras do Programa de Aceleração do  Crescimento (PAC) e já considera a hipótese de eventual atraso nas obras preparatórias para a Copa do Mundo. Ele disse que o governo pretende garantir na próxima terça feira o que chamou de pacto da construção civil, envolvendo as empreiteiras e as centrais sindicais junto com o Ministério Público do  Trabalho. O modelo será o mesmo do “pacto da cana”, firmado entre trabalhadores rurais e usineiros  durante o Governo Lula. O ministro evitou reconhecer como locaute o comportamento de algumas  empreiteiras, que suspenderam as obras, mas reclamou que elas mantêm procedimentos equivocados nas  relações de trabalho. Para Gilberto Carvalho, também uma divisão entre as centrais sindicais está  “fermentando” a crise nos canteiros de obras.
 
“Estamos extremamente preocupados com esses tumultos. Não acreditamos que haja locaute, mas uma  situação explosiva que se dá com a aglomeração de operários, barrageiros. Há um procedimento  equivocado das empresas nas relações de trabalho. Há problemas de alojamento e alimentação. Queremos que as empresas façam um pacto com os sindicatos e o governo e que deem um tratamento adequado aos  trabalhadores”.
 
O ministro criticou as disputas regionais travadas entre a CUT e Força Sindical, que influenciaram o  ambiente nas usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, em Rondônia.
 
“Queremos que as centrais se comprometam a estabelecer uma relação única em cada local. As disputas locais estão ajudando a fermentar esse processo. Há uma crise de representação em Suape, Jirau, Pecém e  Santo Antonio”.

Para Gilberto Carvalho, o pacto evitaria riscos às obras preparatórias da Copa. “Por isso a ideia do pacto.  Para que não haja nas obras da Copa eventuais atrasos como estão ocorrendo agora”, disse o ministro, em  São Paulo, onde participou da solenidade comemorativa ao aniversário da Força Sindical.
 
Vice-presidente da Força Sindical e presidente do Sindicato de Trabalhadores da Construção Civil, Antonio de Souza Ramalho, contestou a avaliação do ministro. “Não há briga de centrais. O que há é que temos  pouca estrutura sindical nas regiões das obras”.
 
Ramalho disse que a culpa da crise é do próprio governo. “O governo contrata e não fiscaliza. O governo  tinha que ter colocado regras de trabalho nos contratos de licitação. Estamos vindo de um apagão na  mão-de-obra do setor e as obras são em regiões muito remotas. As empreiteiras teriam que ter construído  estruturas para os trabalhadores nessas regiões das hidroelétricas”, protestou Ramalho.

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Um julgamento no Tribunal Regional do Trabalho e uma assembleia de operários devem determinar hoje os rumos da greve iniciada há mais de 15 dias por 34 mil trabalhadores no complexo portuário de Suape, em  Pernambuco. A paralisação atinge a refinaria Abreu e Lima e também a petroquímica que o consórcio formado pelas empreiteiras Odebrecht e OAS constroem para a Petrobras. As duas obras estão incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cuja execução foi marcada nas últimas semanas por  greves, incidentes e também locautes em que estavam envolvidos, quarta-feira, aproximadamente 80 mil  trabalhadores e quatro consórcios de empresas.
 
Além dos contratados da Odebrecht e da OAS em Suape, estão parados 5 mil trabalhadores na construção da Usina Termelétrica da MPX, em São Gonçalo do Amarante (CE). Em Rondônia, 16 mil operários que constroem a hidrelétrica de Santo Antonio foram liberados há uma semana, voltaram ao trabalho na manhã de ontem, mas foram novamente liberados porque, segundo o Consórcio Construtor comandado pela  empreiteira Odebrecht, um grupo de menos de 100 pessoas iniciou uma manifestação verbal dentro do  canteiro.
 
"Embora não tenha havido nenhum prejuízo material ou físico, para assegurar a ordem e a segurança dos que exerciam normalmente suas atividades, todos foram imediatamente liberados do trabalho e retornaram para suas residências", comunicou o consórcio. Em Jirau, 18 mil operários contratados pela Camargo Corrêa continuavam parados nesta quinta-feira. As atividades foram suspensas pela empreiteira, também há uma semana, após três dias de revolta em que trabalhadores incendiaram e depredaram parte do canteiro de  obras.
 
A CUT e a Força Sindical consideram indispensável fixar um mínimo de regras nas relações trabalhistas. “Não dá para colocar 20 mil homens trabalhando sem um mínimo de organização", sustenta o presidente da  CUT, Artur Henrique.
 
"Se não resolvermos agora, tudo ficará mais complicado mais tarde", acredita o presidente da Força  Sindical, Paulo Pereira da Silva, observando que, quando estiverem em execução as obras preparatórias para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, cerca de 1 milhão de pessoas estarão  trabalhando nos canteiros de obras do PAC em vários pontos do país.

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