quarta-feira, 16 de março de 2011

Segurança Pública de SP em Crise

Além da realidade pouco promissora, agora a crise da segurança pública paulista atinge seu comando maior.

Do Luis Nassif.

Por Fernando Augusto Botelho - RJ

Espionagem de secretário derruba diretor da polícia
Um dos mais importantes delegados da cúpula da Segurança de SP, Desgualdo pediu imagens de encontro ao Shopping Higienópolis

Marcelo Godoy

O escândalo de espionagem contra o secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, derrubou ontem um dos mais importantes delegados da cúpula da Polícia Civil: Marco Antônio Desgualdo. Ex-delegado-geral, ele dirigia desde 2009 o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. E foi flagrado entre os homens que foram ao Shopping Pátio Higienópolis obter, por meio de suposta fraude, a fita de um encontro que Ferreira Pinto teve com um jornalista.

O Estado procurou Desgualdo, mas não conseguiu localizá-lo. Foi o centro de compras que revelou a existência do esquema de espionagem contra o secretário. Depois que o vídeo foi divulgado na internet, o shopping informou que havia entregue as imagens a policiais civis que diziam estar investigando “uma ocorrência de outra natureza”. Não havia nada, entretanto, a ser investigado, a não ser o próprio chefe da Segurança do Estado.

Em um desses sites, ligado a um delegado de polícia,  o ex-delegado Paulo Sérgio Oppido Fleury- demitido por Ferreira Pinto em 2010 sob a acusação de desviar mercadorias – ameaçava divulgar o vídeoantes de ele se tornar público. O objetivo da espionagem era jogar o governador Geraldo Alckmin (PSDB) contra o secretário, acusando Ferreira Pinto de ser o responsável pela divulgação de informações contra o sociólogo Túlio Kahn, ex-coordenador de estatísticas da Secretaria da Segurança. Sites ligados a policiais civisafirmavam que Ferreira queria atingir seu colega de secretariado Saulo de Castro Abreu Filho, titular de Logística e Transportes, a quem Kahn seria ligado.

Responsável por afastar 200 policiais do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e pela investigação sobre fraudes no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) que envolveram 162 delegados, Ferreira Pinto não nega que tenha se encontrado no shopping com o jornalista da Folha de S. Paulo. Mas disse ao Estado que o objeto da conversa foi o caso de uma escrivã despida em uma revista por corregedores – o abuso provocou a queda da cúpula da Corregedoria da Polícia Civil.

Além de Desgualdo, outros dois delegados de classe especial são suspeitos no episódio do shopping: o ex-diretor do Detran Ivaney Cayres de Souza e o ex-diretor do Denarc Everardo Tanganelli. Fleury e um investigador conhecido como Cardenutto também são investigados. Outros dois diretores da Polícia Civil ainda podem cair.

QUEM É QUEM NA CRISE?

Antônio Ferreira Pinto
Assumiu a Secretaria da Segurança Pública em 2009, depois de passar pela Administração Penitenciária – para onde foi em 2006, pouco depois das rebeliões nos presídios. Uns o consideram próximo demais da PM. Outros dizem que ele não gosta da Polícia Civil.

Saulo de Castro Abreu Filho
Atual secretário de Logística e de Transportes, foi titular da Segurança entre 2002 e 2006. Em sua gestão, três dos suspeitos de envolvimento na espionagem faziam parte da cúpula da Polícia Civil. Seria desafeto de Ferreira Pinto.

Os suspeitos de “vigiar” o secretário

Marco Antônio Desgualdo
O diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa é próximo ao ex-secretário Saulo. Conhecido por investigar homicídios misteriosos, foi delegado-geral por oito anos.

Everardo Tanganelli
É investigado sob suspeita de fraude na reforma do prédio do Denarc, setor que dirigiu até 2009. Na gestão, policiais foram acusados de achacar traficantes colombianos.

Ivaney Cayres de Souza
Ex-diretor do Detran e do Denarc. É investigado por suspeita de participar de fraude de R$ 40 milhões no sistema de emplacamentos do Detran e por lavagem de dinheiro.


Paulo Sérgio Oppido Fleury
Ex-delegado, foi demitido sob a suspeita de desvio de mercadorias. É filho do delegado Sérgio Paranhos Fleury, símbolo da repressão na ditadura.

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