quarta-feira, 16 de março de 2011

Crise na Segurança de SP - Delegados Ameaçam Greve

Brasília Confidencial No 426

SORAYA AGGEGE

A Polícia Civil paulista prepara-se para entrar em greve geral no início de abril. Os delegados, que  encabeçam o movimento, afirmaram ontem que chegaram “ao limite”. Outras categorias pretendem aderir.  Além de reclamarem da defasagem salarial e de más condições de trabalho, os delegados estão revoltados com uma suposta generalização do governo sobre as investigações de corrupção na categoria. O  governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto,  acenaram nesta semana com a possibilidade de aumentar os salários a partir de junho, mas as entidades  representativas dos servidores querem propostas imediatas.
 
“Sem uma sinalização clara de aumento até o fim desta semana, a greve é certa”, afirmou Marilda Pinheiro,  presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil do Estado de São Paulo (Adpesp).
 
Os delegados alegam que, embora São Paulo seja o estado mais rico do país, paga o segundo menor piso salarial, de aproximadamente R$ 4 mil líquidos, à frente apenas do Pará. E além de ter baixos salários, segundo Marilda, os delegados não têm estrutura para investigações.
 
“Estamos prestando péssimos serviços à população. Não temos tecnologia, nem investigadores e escrivães;  respondemos por várias cidades, fazemos plantões de maneira acumulada e estamos em delegacias caindo  aos pedaços”.
 
A gota dágua para o movimento, de acordo com a presidente da Adpesp, é a sucessão de acusações  genéricas da corregedoria da Polícia Civil. “Estão jogando nossos nomes na lama”, protestou Marilda Pinheiro.
 
Do total de 3.200 delegados, cerca de 900 aparecem como investigados. “Só que, entre os 900  investigados, a maioria não é por corrupção. Há uma generalização. Não pactuamos com a corrupção e  queremos que os corruptos sejam presos. Queremos uma corregedoria forte e independente, mas sem caça às bruxas”.
 
A própria líder da categoria é investigada. Segundo afirmou, está entre os 900 porque impediu um advogado de participar de uma oitiva. “Acontece que o advogado era o próprio autor do crime e queria ser o  advogado da esposa numa oitiva. Eu não poderia deixar”, argumentou.
 
O governador Geraldo Alckmin condiciona a valorização salarial da Polícia Civil à arrecadação estadual. "Não dá para fazer cálculo com 60 dias de governo e nem tendo ainda, com mais clareza, como será a  arrecadação esse ano. Então, eu acredito que em mais alguns meses nós teremos mais segurança quanto à  arrecadação, à possibilidade de superávit orçamentário, que nos permita dar o reajuste".
 
VAGAS ABERTAS
 
Segundo a Associação dos Delegados da Polícia Civil, mais de 200 dos 645 municípios paulistas não têm  delegados titulares. Na capital, todas as 93 delegacias possuem delegados titulares, mas em 16 delas não há delegados assistentes. A consequência é que, em muitos municípios, parte dos delegados acumula a função  em duas ou mais cidades. A Secretaria da Segurança Pública admite o problema, mas diz que isso ocorre,  em geral, em cidades com baixos índices de criminalidade. Os últimos dados sobre a violência, no entanto,  informam que tem havido aumento da criminalidade no interior. Na capital, além da ausência de 16  delegados assistentes, há 25 delegacias que fecham as portas durante a noite e aos fins de semana.

Até o momento, há nove concursos em andamento para a contratação de 6.376 pessoas - 1.951 policiais  civis, 4.318 policiais militares e 107 policiais técnico-científicos. Não há vagas para delegados, embora  estejam ocupadas menos de 3.200 das 3.413 que formam o quadro.

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