sábado, 12 de março de 2011

Ética e Profissionalismo

Afastado por alguns dias do meu blog, fiquei a observar determinadas atitudes e posicionamentos de pessoas em relação a fatos ocorridos recentemente e que atingiram o meu mundo familiar.

Uma sequência de posições lamentáveis que vem como frutos de posturas equivocadas, autoritárias e por consequência repressoras. Queria me ater a uma delas que certamente resume muito dos fatos. A questão do “profissionalismo” e a questão da ética profissional.

Muitos são aqueles que se escondem no termo “profissionalismo” para acobertar equívocos que violam o mais elementar dos direitos humanos: o de ser respeitado. Diante de atitudes autoritárias, para “defender seu espaço” invocam o “profissionalismo” enquanto elemento fundamental para a “continuidade”. E a partir dessa postura “profissional” os posicionamentos e as citações saem da realidade para ocupar espaço na ficção. Isso tudo com um só objetivo: criar a confusão para administrá-la em seguida, com muito “profissionalismo”.

A maior das vítimas deixa de ser aquele que já foi “riscado” do espaço em questão para serem aqueles profissionais outros que precisam continuar a fim de que os objetivos da “autoridade” não sejam desviados. Como nesse campo a consciência profissional e de relações ainda é tênue, é possível, infelizmente, que o “profissional” consiga seus intentos mais imediatos.

O mais interessante de se observar nestes acontecimentos é a postura do “profissional” intermediário. Aquele que está entre a “autoridade” e a massa de profissionais. Por ser intermediário ele tem a sua disposição somente duas saídas: ou não aceita a repressão e também é riscado, ou aceita e faz o papel do pelego: aquele que ameniza os impactos para a “autoridade”.  Ao aceitar a segunda saída, por mais que insista em estar sendo profissional na verdade o que ele passa a fazer é uma sequência brutal de quebra dos mais elementares princípios éticos para garantir a “autoridade” e “seu” próprio espaço.

E ai caímos na necessária discussão do que vem a ser um profissional ético.

A ética não se adquire do dia para a noite. Ela é componente intrínseco da história das pessoas. Tem como princípio básico o respeito à condição humana, seja individual, grupal, profissional. Não um respeito silencioso, mas construtivo, questionador e que remete ao aprofundamento sempre.

Um profissional ético jamais irá se utilizar de expedientes agressivos, persuasivos ou invasivos. Um profissional ético não justifica os meios pelos fins a serem alcançados. Meios e fins fazem parte da mesma construção e do mesmo processo. E uma construção profissional supõe conhecimento e troca. Conhecimento do que se faz e do que se tem a sua volta e troca das experiências de todos com todos os envolvidos.

A autoridade é fundamental em qualquer processo da vida, também o profissional. Chamar para si decisões importantes é papel da autoridade. Mas a verdadeira autoridade assume a responsabilidade do que isso representa e não se aproveita dela para impor suas vontades. Assumir a responsabilidade demanda da autoridade conhecer os objetivos do trabalho, como esses objetivos foram construídos, com quem foram construídos e principalmente respeitar essa construção. Chamar para si a responsabilidade das decisões implica em conhecer cada movimento, cada procedimento, cada realização. E para isso a autoridade precisa ter uma característica que não é comum aos autoritários: saber ouvir. Ouvir os que o cercam, não só como “pessoas boas e amigas”, mas principalmente pessoas que sabem o que fazem e lutam para que os objetivos traçados sejam alcançados coletivamente.

Autoridade que não sabe trabalhar com o coletivo e não o respeita, está longe de tomar decisões coerentes e produtivas.

Infelizmente nessa minha vida poucos exemplos de ética profissional consigo enumerar. Sejam das autoridades, sejam dos intermediários. Infelizmente também muitos são os exemplos que poderia citar do que descrevi acima: a construção de pelegos funcionais, a destruição de bons profissionais para o bem estar da “autoridade” e a garantia dos espaços dos intermediários.

Quando sindicalista essa era uma constante. Aliás, uma das grandes lutas do movimento sindical sério é a construção da ética no mundo do trabalho – uma tarefa árdua e inglória.

No ambiente público as possibilidades dessa construção são muito mais perceptíveis. Poderia aqui citar o modo de governar da administração atual de nossa cidade como um modelo que busca essa ética. Infelizmente, nem todos pensam assim.

Mas a melhor das conclusões que tiro desse tempo todo de vida é: o intermediário pelego jamais será respeitado. Em qualquer dos espaços, quem muda de opinião para “agradar” a “autoridade” sempre tem o pior dos fins, seja na profissão, seja consigo próprio. Já o que conduz sua vida pela ética pode até não ter sucesso profissional nesse mundo onde a disputa fratricida impera. Entretanto jamais terá problemas consigo próprio. 


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