quinta-feira, 31 de março de 2011

A Morte do Guerreiro

Brasília Confidencial No 438

Vítima de falência múltipla de órgãos provocada por um câncer no abdômen, que combateu durante cinco anos, morreu terça-feira, aos 79 anos, o ex-vice presidente da República José Alencar. Ele estava internado desde o início da tarde de segunda-feira no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e passou as últimas horas sedado na UTI. A presidente da República, Dilma Rousseff, decretou luto oficial por sete dias. Ela e o ex-presidente Lula, que estavam em Portugal, anteciparam o retorno ao Brasil para comparecer ao velório.

Ele estava com o intestino obstruído e com uma peritonite - inflamação da membrana que reveste o abdômen – causada por perfuração no intestino. Eram problemas agudos decorrentes do câncer no abdômen diagnosticado em 2006 - o último de uma série de mais de 20 tumores que surgiram na próstata, no rim e no estômago a partir de 1997 e foram combatidos com 17 cirurgias e longos tratamentos.

Nas últimas horas, a preocupação dos médicos era evitar que José Alencar sofresse mais. “Não tem mais condições de tratamento cirúrgico. Nós estamos dando a ele todas as medidas de suporte para ele não sofrer. Conforme vocês viram no boletim, o presidente está em uma fase... Se preparando para descansar”, disse o médico Raul Cutait.

José Alencar morreu às 14h41.

Nascera em Muriaé, na Zona da Mata de Minas Gerais. Aos 14 anos deixou a casa dos pais e quatro anos depois iniciou a carreira empresarial em Caratinga, com uma loja chamada A Queimadeira. Em 1967, fundou a Coteminas, que transformou numa das maiores industriais nacionais do setor têxtil. Eleito presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, tomou gosto pela atividade política e, em 1994, concorreu a governador.

Perdeu, mas, em 1998, três milhões de eleitores mineiros lhe garantiram uma cadeira no Senado. Assediado por vários partidos para concorrer a vice presidente na eleição de 2002, o empresário José Alencar escolheu ser companheiro de chapa do ex-operário e petista Luiz Inácio Lula da Silva. Venceram duas eleições e governaram o país durante os últimos oito anos.

No fim de janeiro, bem disposto, José Alencar deixou o hospital para receber da presidente Dilma Rousseff uma homenagem da Prefeitura de São Paulo por relevantes serviços prestados à sociedade. No discurso de agradecimento, falou sobre a morte. “Todo mundo rezando por mim, todo mundo torcendo a meu favor. Então, se eu morrer agora, está bom demais. Eu não posso me queixar se morrer. Mas eu tenho que fazer a minha parte, então, estou lutando para não morrer e estamos vencendo”.

Foram o último discurso e o último compromisso público de José Alencar.
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula estavam reunidos na cidade portuguesa de Coimbra quando o médico de José Alencar, por telefone, comunicou a morte dele. Dilma anunciou luto oficial de sete dias no Brasil.

“Foi uma grande honra ter convivido com ele. É daquela pessoa que vai deixar, indelével, uma marca em cada um de nós. E, além disso, foi presidente da República junto com o presidente Lula por mais de oito meses. Por isso, nós oferecemos à família o Palácio do Planalto pra ele ser velado na condição de chefe de Estado que ele também foi. De presidente inesquecível do nosso país”.

Lula se emocionou e chorou.

"Eu, aos 65 anos de idade, conheço poucos homens que tenham a alma de José Alencar, a bondade de José Alencar, a lealdade de José Alencar”.

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