Por veras
do iG
Fraude é confirmada na melhor escola estadual de São Paulo
Denúncia do iG que mostrava interferência nas provas de escola com a maior pontuação do Estado foi comprovada por comissão
iG São Paulo
Fachada da escola Reverendo Augusto da Silva Dourado que é acusada de fraude no Saresp Foto: Marina Morena Costa |
O Secretário Estadual de Educação de São Paulo Herman Voorwald
assinou a abertura de processo disciplinar contra funcionários da escola
Reverendo Augusto da Silva Dourado, que obteve a maior nota do Estado
no Saresp do ano passado. Após denúncia do iG de que os estudantes foram ajudados por professores que
chegaram até mesmo a fazer as provas, uma comissão foi ao local e
apurou que há indícios de autoria e materialidade para comprovar a
fraude.
A documentação agora será enviada à Coordenadoria de Procedimentos Disciplinares da Procuradoria Geral do Estado (PGE). Em nota, a Secretaria diz que a revisão das notas e do bônus dos funcionários da escola só ocorrerá após a conclusão do processo. “Os indiciados poderão exercer o direito constitucional à ampla defesa e ao contraditório”, informa.
No Saresp de 2011, todos os 27 alunos da escola tiraram 10 em matemática – fato raro e único na rede – e
a média da turma em português foi 9,1. O desempenho garantiu à escola
nota 9,3, a maior entre todas as unidades da rede estadual de São Paulo.
A média do Estado de São Paulo para a série foi 4,24 e das escolas de
Sorocaba, 4,61. O resultado também significou bônus de 2,9 salários aos
profissionais da escola – o máximo possível.
Apesar dos dados fora do padrão, o caso não chamou atenção da
Secretaria Estadual de Educação até que a reportagem fosse ao local. No
dia 30 de março uma listagem com as notas do Saresp foi divulgada sem
ressalvas.
Em 2 de abril, o iG visitou a instituição e pais e
alunos relataram que uma professora ajudou os estudantes que não sabiam
responder algumas perguntas. Ainda assim, na primeira nota oficial sobre
o caso, a Secretaria de Educação, informou que a denúncia não procedia,
pois de acordo com seus registros, professores de outras escolas
aplicaram o Saresp na Reverendo Augusto da Silva Dourado.
Após a publicação da matéria, a comissão foi instaurada no dia 4. Nova reportagem do iG em
11 de abril mostrou que professores que receberam os alunos em 2012
avaliaram seus desempenhos como incompatíveis com a nota obtida.
Enquanto isso, pais comentaram que havia a ameaça de fechamento da
escola se os boatos fossem confirmados. A Secretaria de Educação enviou
texto em que chamou de "má fé" o veiculação destes fatos.
Na nota desta quarta-feira, a secretaria diz que “O Saresp é uma
avaliação externa em larga escala da Educação Básica, aplicada
anualmente desde 1996 pela Secretaria da Educação. Sua finalidade é
produzir diagnósticos frequentes e comparáveis da situação da
escolaridade básica na rede pública de ensino paulista, visando a
orientar os gestores do ensino no monitoramento das políticas voltadas
para a melhoria da qualidade educacional”. A pontuação obtida pelos
alunos, no entanto, passou a ser utilizada como critério para o
pagamento de bônus aos funcionários da escola – que pode variar de zero a
2,9 salários em função da nota obtida em composição com índices de
repetência e evasão.
A secretaria defende ainda a segurança da prova: “Todo o processo da
avaliação — coleta, sistematização de dados e produção de informações — é
executado a partir de procedimentos metodológicos formais e científicos
internacionalmente reconhecidos. Para garantir a idoneidade do Saresp,
as provas do 5º ano são aplicadas por professores de outras turmas ou
escolas. O sistema é composto por 26 modelos de provas diferentes em
cada disciplina. Na fiscalização, participam não somente funcionários,
mas também pais voluntários, que circulam pela unidade de ensino”, diz a
nota.
A fiscal da Vunesp (empresa responsável pela elaboração e aplicação do exame) contratada para esta escola, no entanto, disse ao iG que não ficou na sala durante a aplicação do teste.
Segundo ela, o treinamento dos fiscais determina que eles não devem
permanecer em sala de aula, e devem fazer apenas duas visitas durante a
prova.
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