A guinada do governo Dilma Rousseff para baixar os juros do País teve
novo capítulo nesta quinta-feira 3. O ministro Guido Mantega anunciou
novos critérios para a valorização da poupança, grande beneficiária da
queda dos juros neste momento.
Esta é a regra: quando a taxa Selic estiver igual ou menor que 8,5%, o
rendimento para os depósitos feitos passarão a ter remuneração de 70%
da Selic, mais a taxa referencial (TR) variável. Quando a mesma taxa
estiver acima deste valor (hoje está em 9%), o critério para depósito
permanece o mesmo: rendimento de 0.5% ao mês, mais a TR.
A mudança só valerá para os depósitos feitos a partir desta
sexta-feira 4 – ou seja, os 150 milhões de depósitos deste rendimento
feitos até esta quinta permanecerão com as mesmas regras. A poupança
também seguirá isenta do imposto de renda.
A medida faz parte do pacote de mudanças que o Ministério da Fazenda
patrocina para baixar a taxa Selic, atualmente em 9% ao ano. Com os
juros baixando, a poupança passou a ser mais atrativa que a renda fixa.
Com os novos critérios, o governo assim evita uma fuga em massa para
este investimento e a consequente dificuldade para a “rolagem” da dívida
pública.
“Essa foi a única regra que mudou. A poupança vai continuar sendo a
melhor opção para a maioria dos brasileiros.”, disse o ministro Guido
Mantega, ao anunciar a mudança na noite desta quinta.
A presidenta Dilma Rousseff fará a mudança através de medida
provisória que, no entanto, deve ser aprovada pelo Congresso Nacional.
Ela passou a tarde reunida com líderes dos partidos para que a votação
seja feita sem maiores traumas.
Equilíbrio econômico
Segundo o economista da FEA-USP de Ribeirão Preto (SP) Alexandre
Matias, a estratégia mostra uma tendência do governo em tentar
equilibrar a dinâmica econômica do País. “É necessário garantir o
rendimento dos investidores tradicionais, sobretudo os de menor renda. A
poupança é voltada para estes aplicadores e, nesse novo formato, isso
será mantido”, afirma. “Esse modelo precisa ser implementado porque
quando o governo está com juro baixo, a poupança concorrer com os
títulos públicos. Aí as carteiras de poupança ficarão insustentáveis,
criando um grande problema no crédito imobiliário.”
A estratégia do governo federal foi fazer com que bancos públicos,
Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, baixem os juros nas últimas
semanas. A presidenta Dilma, em pronunciamento na tevê no 1º de maio, cobrou que os bancos privados façam o mesmo.
Nesta quinta, durante seu pronunciamento na posse do novo ministro do
Trabalho, Bizola Neto, a presidenta declarou que seguirá com ações para
ter juros mais baixos. “Quero um país com taxas de juros compatíveis com
aquelas que existem no mercado internacional.”
“Com os juros caindo, as instituições financeiras perdem na
tesouraria. Vão ter que correr para baixar os juros também, ou acabam
perdendo mercado para os bancos públicos”, diz Matias.
Dilma também sinalizou que passará a atacar os impostos. Queremos que
o País tenha impostos mais baixos, para segurar a produtividade”,
declarou a presidenta na solenidade. Matias endossa que a discussão
econômica nacional deva começar a migrar para este assunto. “O problema
maior para mexer nos impostos era a questão da Selic e o governo agiu
nesta direção. Estamos falando em um governo que gasta 200 bilhões de
juros. Com a diminuição, o Brasil tende a reduzir os impostos”.
Para Alexandre Matias, as instituições financeiras perdem na
tesouraria, então se não correrem, acabam perdendo mercado pros bancos
públicos.
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