Por Fernando Grassi
OSCAR WILDE E A IMPRENSA
Trecho do livro A Alma do Homem Sob o Socialismo, de OSCAR WILDE
(...) Foi um dia fatal aquele em que o público descobriu que a
pena é mais poderosa que as pedras da rua, e que seu uso pode tornar-se
tão agressivo quanto o apadrejamento. Procurou imediatamente pelo
jornalista, o encontrou e aperfeiçoou, e fez dele seu servo diligente e
bem pago. É de lamentar por ambos. Atrás das barricadas, muito pode
haver de nobre e heróico. Mas o que há por trás de um artigo de fundo
senão preconceito, estupidez, hipocrisia e disparates? E esses quatro
elementos, quando reunidos, adquirem uma força assustadora e constituem a
nova autoridade.
Antigamente, os homens tinham a roda de torturas.
Hoje tem a imprensa. Isso certamente é um progresso. Mas ainda é má,
injusta e desmoralizante. Alguém - teria sido Burke? - chamou o
Jornalismo de o quarto poder. Isso na época sem dúvida era verdade. Mas
hoje ele é realmente o único poder. Devorou os outros três. Os Lordes
temporais nada dizem, os Lordes espirituais nada tem a dizer, e a Câmara
dos Comuns nada tem a dizer e o diz. Estamos dominados pelo Jornalismo.
Nos Estados Unidos o Presidente reina por quatro anos e o Jornalismo
governa para todo o sempre. Felizmente, nesse país, o Jornalismo levou
sua autoridade ao extremo mais flagrante e brutal e, como decorrência
lógica, começou a gerar um espírito de revolta: ou diverte ou aborrece
as pessoas, conforme seu temperamento. Mas deixou de ser a força real
que era. Não é levado a sério. Na Inglaterra, o Jornalismo, com exceção
de alguns poucos exemplos bem conhecidos, não tendo atingido estes
excessos de brutalidade, permanece ainda um fator de grande significado,
um poder realmente notável. Parece-me descomunal a tirania que ele se
propõe exercer sobre nossas vidas privadas. O fato é que o público tem
uma curiosidade insaciável de conhecer tudo, exceto o que é digno de se
conhecer. O Jornalismo, ciente disso, e com vezos de comerciante,
satisfaz suas exigências. Em séculos passados, o público expunha as
orelhas dos jornalistas no pelourinho. O que era horrível. Neste século,
os jornalistas ficam de orelha em pé atrás das portas. O que é ainda
pior. O mal é que os jornalistas mais culpados não estão entre aqueles
que escrevem para o que se chama de coluna social. O dano é causado
pelos jornalista sisudos, graves e circunspectos que trarão,
solenemente, como hoje trazem, para diante dos olhos do público, algum
incidente na vida privada de um grande estadista, de um homem que é
assim um lider do pensamento político como criador de força política.
Convidarão o público a discutir o incidente, a exercer autoridade no
assunto, a externar seus pontos de vista, e não somente a externá-los,
mas a colocá-los em ação, a impô-los àquele homem sobre todos os outros
argumentos, a impor ao partido e à nação dele; convidarão, enfim, o
público a se tornar ridículo, agressivo e perigoso. A vida particular
dos homens ou das mulheres não deveria ser revelada ao público. Este não
tem nada absolutamente nada a ver com ela.
....
Na França há um controle maior nesses assuntos. Lá
não se permite que pormenores dos julgamentos que se realizam nos
tribunais de divórcio sejam divulgados para entreterimento ou crítica do
público. Tudo que se lhe permite saber é que houve o divórcio e que foi
concedido a pedido de uma ou outra parte envolvida, ou de ambas. Na
França, com efeito, limitam o jornalista, e concedem ao artista quase
que completa liberdade. Aqui, concedemos liberdade absoluta ao
jornalista e limitamos inteiramente o artista. A opinião pública
inglesa, por assim dizer, procura tolher, cercear e submeter o homem que
cria o Belo efetivamente, e compele o jornalista a recontar o
factualmente feio, desagradável ou repulsivo; de modo que temos os mais
sisudos jornalistas do mundo e os jornais mais indecentes. Não há
exagero em se falar em compulsão. Há positivamente jornalistas que têm
verdadeiro prazer em publicar coisas horríveis, ou que, por serem
pobres, vêem nos escândalos uma fonte permanente de renda. Mas não tenho
dúvidas de que há outros jornalistas, homens de boa formação e cultura,
a quem realmente desagrada publicar esse tipo de assunto, homens que
sabem ser errado agir assim e, se assim agem, é apenas porque as
condições doentias em que exercem sua profissão os obriga a atender o
público no que o público quer, e a concorrer com outros jornalistas para
que esse atendimento satisfaça o mais plenamente possível o grosseiro
apetite popular. É uma posição muito degradante para ser ocupada por
qualquer desses homens, e não há dúvida de que a maioria deles percebe
isso sensivelmente.” (OSCAR WILDE, A Alma do Homem Sob o Socialismo, págs. 57/59, LP&M, 2003).
Comentário que vale a pena replicar:
Que texto!!! É interessante como existem reclamações com relação
a imprensa. Recentemente eu li um livro de memórias do Herman Hesse em
que ele reclama da perseguição da imprensa alemã porque ele defendia o
pacifismo e se manifestou contra a participação da Alemanha na Primeira
Guerra Mundial. Estou lendo atualmente O Contato do Carl Sagan e a
protagonista reclama da atuação nociva e desvirtuada da imprensa.
Assisti por esses dias o documentário A Todo Volume onde o Roger Waters
fala das criticas que o disco do The Dark Side of the Moon recebeu (ai,
ai,ai que as criticas diziam que o Pink Floyd não sabia nada de rock and
roll) e que o fez nunca mais ler uma crítica da imprensa. Também os
caras do Iron Maiden dizem que sempre fizeram sucesso a margem porque
nunca foram aceitos pela imprensa.
Junte-se a isso tudo as previsões da nossa imprensa, que consegue errar em todas as críticas sobre as ações administrativas dos governos Lula-Dilma e acho que esta na hora desta insituição fazer uma auto-critica. É muito erro.
Junte-se a isso tudo as previsões da nossa imprensa, que consegue errar em todas as críticas sobre as ações administrativas dos governos Lula-Dilma e acho que esta na hora desta insituição fazer uma auto-critica. É muito erro.
—
Vera Lucia Venturini
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