O que impediu Salto de se desenvolver num ritmo mais acelerado não
foi a falta de território e sim de planejamento do uso racional da área
existente
Há dois paradigmas colocados pela imprensa saltense quanto o
desenvolvimento econômico de Salto que precisam ser superados: primeiro
que o limite de território é um obstáculo ao desenvolvimento e segundo
que o desenvolvimento de Salto é menor que dos municípios vizinhos
porque o salário é muito baixo.
O território de 134,26 km² do município foi ocupado de uma forma não
planejada no passado, que resultou em vazios urbanos, que acabaram por
consumir recursos desnecessários para valorizar áreas de interesse à
especulação imobiliária. Ao longo do tempo, as grandes extensões de
terra ficaram concentradas sob a posse de poucos grupos. O Poder
Executivo não se preocupou em nenhum momento em fazer reservas de áreas
para que se preparasse a implantação de novos distritos industriais ou
centros comerciais.
A lógica da exploração imobiliária impôs uma supervalorização do metro
quadrado, fazendo com que os empreendimentos residenciais populares além
de criar uma desarmonia urbanística também evidenciassem essa
supervalorização da terra como uma desvantagem competitiva do município
ante seus vizinhos.
Para termos uma ideia dessa supervalorização, imagine uma área de terra
bruta qualquer, na borda do município entre Salto e Elias Fausto.
Inicialmente ela teria um valor aproximado de R$ 10,00/m², com a
instalação de um loteamento residencial no local, as área adjacentes
passam a se supervalorizar ao valor de R$ 150,00/m². Essa situação exige
que a administração municipal tenha um plano de uso do solo muito bem
organizado, para que o uso racional do território possa vir a ser um
fator catalisador do desenvolvimento. Sendo assim, não é o pequeno
território que nos impede de se desenvolver e, sim a falta de
planejamento de como aproveitar melhor o espaço que o município dispõe.
Quando falamos em desenvolvimento econômico falamos de diversos
componentes entre os mais importantes estão a capacidade de gerar
riqueza e a capacidade para o consumo. Quando falamos na capacidade de
gerar riqueza estamos falando do Produto Interno Bruto - PIB e quando
falamos em capacidade de consumo falamos em renda média do trabalhador.
O PIB saltense cresceu 176,22% em uma década (1999-2009) e o PIB per
capita 132,23%. O período citado nos mostra que a capacidade de gerar
riqueza (PIB) cresce a razão de 19,58% ao ano. Se Salto fosse um estado
independente, o PIB per capita de US$ 10.363,57 seria classificado no
46° lugar do ranking publicado pelo Banco Mundial com 170 países, em
15/09/2009; isso nos colocaria a frente de países como o México, Chile,
Argentina, o próprio Brasil, China e outros vários países da América
Latina.
O rendimento médio do trabalhador saltense com emprego formal (contratos
por tempo indeterminado CLT, contratos temporários CLT e regime
estatutário) em 2010 foi de R$ 1.558,38; cresceu 96,26% em 10 anos e
está 6,72% acima da média do rendimento da Região Administrativa de
Sorocaba. O rendimento médio é um indicador importante no sentido de
apontar a capacidade de consumo do trabalhador; seu crescimento nos leva
a pensar numa melhor qualidade de vida com o acesso a bens e serviços
que antes ficavam de fora do orçamento familiar, tendo um papel
essencial na manutenção da economia local. Embora ele tenha um papel
importante na economia, não é o principal componente para apontar o
desenvolvimento econômico.
Em resumo, precisamos compreender que a política de doação de terra como
meio de atração de novos investimentos não é mais uma questão
essencial. O Poder Executivo precisa elaborar uma política de
desenvolvimento que contemple a reserva de terras para a indução do
desenvolvimento, a partir da instalação de empresas que tenham grande
potencial de geração de tributos (ISS, ICMS e IPI), em áreas devidamente
dotadas de infraestrutura necessária, ao valor justo de mercado e, não
mais sair correndo atrás de qualquer empresa simplesmente para fazer
capas de jornais. Acredito que as áreas cobertas pela cana deveriam ser
exploradas de outra forma, inclusive sendo potenciais áreas para receber
novas empresas, uma vez que uma boa parte dessas áreas estão ao longo
da Rodovia do Açúcar (SP-308) e a legislação vigente (lei n.º 3.073/11)
já define que 200 m das margens de rodovias sejam destinadas
preferencialmente ao uso industrial. A elevação da escolaridade do
trabalhador com a qualificação técnica e especialização no ensino
superior é o meio mais eficaz para a elevação do rendimento médio. O
município talvez não disponha de mais 10 anos para instituir uma
política de desenvolvimento aliada a ocupação racional do solo antes que
as áreas disponíveis, sobretudo no eixo Salto-Elias Fausto, venham a
ser exploradas pelo interesse comercial privado (condomínios e
loteamentos populares) sem levar em conta as necessidades à instalação
de empresas.
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