Do Correio do Brasil
Ao reunir apoio mais do que suficiente para ingressar, ainda nesta quarta-feira, com o requerimento para abertura da CPI da Privataria
na Câmara, o deputado e delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiróz
(PCdoB-SP) não descarta a convocação do candidato tucano derrotado à
Presidência da República no ano passado, José Serra, e o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso (FHC) para depor perante os deputados. Ambos
são citados como cúmplices em uma série de possíveis crimes contra o
Erário, durante o processo de privatização, segundo denúncia contida no
livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr.
– A Câmara não precisa de autorização do STF nem de ninguém para
convocar o ex-presidente FHC a depor. Depende apenas da CPI, que já
conta com mais de 250 assinatura, das 171 necessárias regimentalmente –
esclarece o parlamentar, em entrevista exclusiva para o Correio do Brasil, na manhã desta segunda-feira.
Protógenes indica, ainda, que a CPI da Privataria, uma vez
instalada, passará imediatamente à fase de apuração da veracidade de
todos os documentos contidos no livro-reportagem do jornalista Amaury
Jr, A Privataria Tucana. O autor revela, entre outras
denúncias, que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio
participou, ativamente, no envio de mais de R$ 60 bilhões ao exterior,
entre os anos de 1998 e 2002. Entre os documentos anexados está um laudo
da própria Polícia Federal, com a assinatura dos peritos criminais
Renato Barbosa e Eurico Montenegro. Ricardo Sérgio aparece,
posteriormente, como principal arrecadador de recursos para as campanhas
eleitorais de Serra, tanto ao governo do Estado de São Paulo quanto à
Presidência da República, em 2010.
– Iremos, inicialmente, levantar a veracidade de um por um dos
documentos citados no livro. O primeiro passo da CPI será a formação de
um grupo de trabalho com esta finalidade. Os fatos revelados no livro,
para nós, já são suficientes para a abertura de um procedimento dessa
natureza e, uma vez confirmados tanto a origem quanto a autenticidade
documental, estes fatos serão fortalecidos. Aferidas as provas
apresentadas, o passo seguinte será a convocação de todas as pessoas
envolvidas, entre elas o ex-presidente FHC e o ex-governador José Serra –
afirmou.
“Antes de assumir como o homem do dinheiro de Serra e FHC, Mr Big
(como é conhecido Ricardo Sérgio) trabalhou durante 30 anos na área
privada. Serviu ao banco Crefisul e ao Citibank e, mais tarde,
estabelecendo-se por conta própria, abriu duas empresas. Sempre teve um
confortável padrão de vida, mas tornou-se milionário mesmo depois de
três anos no timão da área internacional do Banco do Brasil. Foi o único
diretor do BB não indicado pelo presidente do banco, Paulo César
Ximenes, e também o único com acesso a FHC”, acrescenta o jornalista
Amaury Jr., em seu livro. Para o delegado Protógenes, se ele ainda
estivesse na ativa “já teria aberto um inquérito”.
– Mas, como estou na Câmara, a medida adequada é a abertura desta
CPI. O requerimento será entregue nesta quarta-feira porque muitos
deputados, que querem assinar o documento para a abertura das
investigações, não o puderam fazer na sexta-feira. Muitos ainda estão me
ligando aqui para também assinar o requerimento – disse o parlamentar.
Delegado federal
Licenciado da Polícia Federal e deputado federal pelo PCdoB de São Paulo, Protógenes Queiroz foi o delegado no comando da Operação Satiagraha
que desvendou um dos maiores esquemas de desvio de recursos públicos,
evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha do país.
Ela resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, citado no livro A Pirataria Tucana
como um dos colaboradores do esquema mafioso. Também participou da
prisão do especulador Naji Nahas, do contrabandista Law Kin Chong, do
ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (1997-2000) e de outros 14 acusados
de corrupção. Protógenes coordenou, em parceria com a Promotoria de São
Paulo, as investigações do caso Corinthians/MSI , por evasão de divisas
e lavagem de dinheiro.
Os envolvidos nas fraudes da arbitragem do futebol Brasileiro, em
2005, também foram investigados por ele e pelos promotores Roberto Porto
e José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Gaeco. O delegado presidiu o
inquérito sobre remessas ilegais de dinheiro para paraísos fiscais que
descobriu movimentações de quase cinco milhões de dólares das quais o
ex-prefeito Celso Pitta seria o principal beneficiário. O ex-prefeito
Paulo Maluf foi investigado no mesmo inquérito. Foi de Protógenes o
relatório final do inquérito sobre desvios de dinheiro na Prefeitura de
São Paulo durante os governos de Maluf (1993-1996) e Pitta (1997-2000).
Na Câmara, o parlamentar é suplente nas comissões de Reforma
Política, Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, Turismo e
Desporto, Reforma Política, Políticas Públicas de Combate às Drogas e na
Subcomissão Permanente para tratar do sistema de segurança pública,
seus órgãos institucionais, carreiras e programas de valorização dos
policiais.
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