Do Correio do Brasil
A Polícia Federal, que já investigava uma série de denúncias contra o
presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), encontrou no
livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr. A Privataria Tucana mais
munição para seguir adiante com a tarefa de levantar o sumiço e
posterior regresso de bilhões de reais desviados durante o processo de
privatização das maiores companhias estatais do país, entre elas a Vale
do Rio Doce, a Companhia Siderúrgica Nacional e a Telebras. Em seu
livro, Amaury Jr. revela que parte dos recursos pagos em propinas e
depositados em paraísos fiscais serviram para comprar fazendas e
empresas no Brasil.
O repórter e dois outros jornalistas, Luiz Carloso Azenha e Tony
Chastinet, obtiveram documentos inéditos na Junta Comercial e em
cartórios do Rio de Janeiro e na Suíça, os quais comprovariam a
veracidade das denúncias de corrupção e evasão de divisas que pesam
sobre o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Entre estes
documentos, encontrava-se uma listagem com as datas dos pagamentos da
propina, “que revelaram as coincidências já esperadas”, diz Amaury Jr.,
no início do livro. O dinheiro sujo seguiu direto para o principado de
Liechtenstein, na Europa, para uma conta da empresa offshore Sanud Etablissement, “no total de US$ 9,5 milhões”, revela A Privataria Tucana.
“A relação demonstra que o primeiro meio milhão de dólares foi pago à Sanud em agosto de 2002, um mês antes de a offshore tornar-se sócia da RJL [empresa ligada a Ricardo Teixeira
e ao ex-presidente da Federação Internacional de Futebol Associado
(Fifa)]. Imediatamente, a Sanud injeta R$ 2,8 milhões na empresa de
Teixeira. O dinheiro, justificado como aumento de capital integralizado
pela Sanud, é investido numa fazenda do presidente da CBF em Piraí,
interior do Rio. Um ano depois, a RJL coloca mais R$ 1 milhão em uma
transportadora dos irmãos Ricardo e Guilherme Teixeira, no mesmo
município” relata Amaury Jr.
Teixeira também tem sido alvo de frequentes ataques do ex-craque de
futebol e hoje deputado federal Romário (PSB-RJ), que o acusa de receber
propinas de empresários ligados ao esporte. Romário chegou a sugerir a
renúncia de Teixeira dos cargos de presidente da CBF e do Comitê
Organizador Local (COL) da Copa de 2014, caso o nome dele apareça no
dossiê que será divulgado, ainda este mês, com os nomes dos envolvidos
no suposto caso de recebimento de propina envolvendo a empresa de
marketing ISL, citada na Privataria Tucana como fonte de recursos ilícitos para Teixeira.
– O senhor depôs na Polícia Federal sobre as denúncias do jornalista Andrew Jennings (da agência britânica de notícias BBC),
de que o senhor teria recebido propina. Fala-se em um acordo para
manter nomes em sigilo. O senhor recebeu propina? Se seu nome aparecer, o
senhor renunciará à presidência da CBF e do COL? – indagou Romário, em
recente depoimento tomado na Câmara dos Deputados.
Teixeira limitou-se a dizer que as perguntas de Romário estavam “fora
de contexto” e que iria processar Jennings. Indignado com o episódio,
Romário disparou:
– Minhas perguntas não foram respondidas. O brasileiro tem direito de
saber com quem está lidando. Isso é, sim, importante para a Copa do
Mundo. Me desculpa, mas isso aqui está parecendo um circo.
Empréstimo sem cobrança
Em seu livro, Amaury Jr. também relata como a empresa de Teixeira
nunca precisou pagar por um empréstimo de R$ 1,8 milhões, tomado no
exterior.
“Em 1994, quando a Sanud continuava recebendo dinheiro em
Liechtenstein, sua sócia no Brasil continuava apostando nos negócios de
Teixeira. Documentação registrada em cartório atesta que, nesse período,
a RJL colocou mais de R$ 1,8 milhão no restaurante El Turf,
aberto por Teixeira no bairro carioca do Jardim Botânico. Outros papéis,
levantados pela CPI da Nike, da Câmara Federal, que investigou em 2001
os negócios suspeitos da CBF e de Ricardo Teixeira, provaram que a
integralização de capital da Sanud na RJL de fato nunca existiu. No
balanço contábil, a RJL justifica R$ 1,8 milhão como empréstimo
concedido pela Sanud. O problema é que o empréstimo nunca foi pago e
tampouco cobrado”, informa.
“Por mais bizarro que possa parecer, até pouco tempo transações desse
tipo, maquinadas de famosos escritórios de advocacia tributária,
movimentaram grande parte da lavanderia montada para clarear e trazer ao
país o dinheiro sujo escondido no exterior. Viraram-se uma febre porque
emprestavam uma faceta legal serem registradas no Banco Central. Quando
se associavam às empresas brasileiras, as offshores, além de
receber um CPF, tornavam-se aptas a trazer dinheiro do estrangeiro por
meio de operações cambiais. E, nesse caso, o controle sobre tais
operações e feito apenas por meio de amostragem…”, acrescentou.
“As transações eram justificadas como investimentos em empresas
brasileiras. Em outras palavras, uma fatia graúda dos recursos
introduzidos no Brasil como sendo investimentos estrangeiros – em
operações com essas ou transações casadas na Bolsa de Valores – não eram
nada disso. Era tão somente o retorno, devidamente lavado, do dinheiro
sujo da corrupção e do crime organizado, antes hospedado nos paraísos
fiscais”, conclui Amaury Jr. em A Privataria Tucana.
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