Do Observatório da Imprensa
Por Luciano Martins Costa em 14/12/2011 na edição 672
O espetacular lançamento do livro A privataria tucana, do
jornalista Amaury Ribeiro Jr., certamente um dos mais velozes fenômenos
de venda da indústria brasileira de livros, produz outras circunstâncias
estranhas, além do escancarado constrangimento da chamada grande
imprensa: o autor e a editora foram vítimas de uma pirataria militante,
com a distribuição ilegal de cópias digitais da obra.
Nas primeiras horas da manhã de terça-feira (13/12), cópias digitais em
formato PDFjá estavam à venda ou eram distribuídas gratuitamente em
vários sites. No blog livrosdehumanas.org, podia-se baixar uma cópia gratuita ou com desconto de 30% sobre o preço oficial de R$ 34,90.
O publisher e sócio da Geração Editorial, Luiz Fernando
Emediato, foi informado pelas redes sociais da derrama de exemplares
pirateados quando o sistema paralelo de distribuição e venda já se
configurava como uma ação viral – quando determinado tema entra
simultaneamente entre os tópicos mais vistos da internet, através de
sites, blogs, redes de relacionamento e sistemas de mensagens curtas,
tornando-se quase impossível contê-lo.
Ao longo da terça-feira, o esforço da Geração Editorial ainda não havia
conseguido bloquear o sistema paralelo de vendas, o que teoricamente
deveria aumentar o interesse jornalístico por esse fenômeno do mercado
editorial.
Não aconteceu
O sucesso estrondoso do livro criou uma situação inusitada: ele se instalou rapidamente no topo do ranking de vendas da Livraria da Folha na semana, enquando a Folha de S.Paulo seguia ignorando sua existência.
O leitor há de ficar atento à listagem dos livros mais vendidos na revista Veja, para verificar se o mistério se repete: um livro campeão de vendas que a imprensa considera inexistente.
Em entrevista à Agência Carta Maior, Luiz Fernando Emediato disse
acreditar que a grande imprensa vai entrar em breve no debate que se
seguiu à publicação, por causa do grande interesse demonstrado pelo
público através das redes sociais e da mídia online.
Mas a chamada grande imprensa seguiu desprezando o acontecimento
jornalístico mais interessante da temporada, assim como se calaram os
principais personagens da história. Para os jornais, A privataria tucana é um livro invisível. É como se os editores acreditassem que aquilo que não sai na imprensa tradicional nunca aconteceu.
Apostando no silêncio
Emediato dizia esperar que o ex-governador José Serra viesse a público a
qualquer momento para se justificar, uma vez que não é acusado
diretamente dos crimes citados na reportagem. “Mas falar que não sabia
das movimentações milionárias da filha, é algo difícil de acreditar”,
afirmou.
Saboreando o sucesso comercial de seu empreendimento, o editor
participou ativamente dos debates nas redes sociais desde o sábado, ao
mesmo tempo em que administrava uma estratégia cautelosa em relação ao
PSDB.
Pelo menos dois colunistas da Folha de S.Paulo e uma colunista do Estadão estavam digerindo o livro na terça-feira.
O ex-governador José Serra, principal personagem da reportagem, resolveu sair do mutismo e declarou ao site do Estadão,
no fim da tarde de terça-feira (13), que não se manifestaria sobre o
assunto. “Vou comentar o que sobre lixo? Lixo é lixo”, teria dito Serra,
segundo a site do jornal paulista.
Presente ao mesmo evento, a inauguração da sala da liderança do PSDB na
Câmara dos Deputados, batizada com o nome do falecido ex-deputado e
jornalista Artur da Távola, o senador Aécio Neves, apontado como mentor
da investigação que colocou Ribeiro Jr. na pista de José Serra, também
evitou comentários, chamando a obra de “literatura menor”.
Todo o teor da reportagem trata de desqualificar o autor do livro (ver aqui). O mesmo viés aparece na repercussão imediata de outros sites da grande imprensa, na madrugada de quarta-feira (14).
A primeira manifestação de Serra depois da publicação do livro foi
seguida de uma postagem no Twitter, na noite de terça-feira. “Não se faz
política para ser-se digno. Faz-se política por ser digno”, escreveu,
citando Artur da Távola. No mesmo horário a frase foi postada em sua
página no Facebook (/timeserra45). No seu site (www.joseserra.com.br), atualizado pela última vez na véspera do lançamento do livro, seu artigo publicado originalmente no Estado de S.Paulo
sob o título “O mal essencial” trata de corrupção. Nenhuma referência
às acusações contidas no livro. Serra parece confiante de que, se a
grande imprensa não noticiar, a onda vai passar.
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