Da Carta Capital
Cúpula do Clima em Durban
2015 é o ano limite para acordo climático
Por Stephen Leahy, enviado especial*
DURBAN – O mundo caminha para um perigoso abismo climático. No
entanto, quando a 17ª cúpula do clima terminou na África do Sul, os
governos aceitaram discutir um novo tratado global para diminuir as
emissões de gases que provocam o efeito estufa.
Após duas semanas de intensas e amargas discussões, às quais se
somaram outras 29 horas, os 193 países partes da Convenção Marco das
Nações Unidas sobre à Mudança Climática (CMNUCC) conseguiram chegar a um
complexo conjunto de documentos intitulado Plataforma de Durban.
Os textos incluem a continuidade do Protocolo de Kyoto, único tratado
mundial obrigatório para reduzir os gases-estufa, a estrutura formal do
Fundo Verde para o Clima e novos mecanismos de mercado, entre outros
assuntos.
Porém, o ponto central, obtido ao amanhecer do dia 11, foi a
concordância de todos os governos de que se deve negociar um novo
tratado mundial para reduzir as emissões até 2015.
Embora isto possa parecer a simples decisão de realizar mais
reuniões, esta é a primeira vez que todas as nações aceitam ser
governadas por um regime específico no contexto da Conferência de
Mudanças Climáticas.
No momento, as promessas voluntárias de redução nas emissões feitas
em 2009 pelos países industrializados, Brasil, China, África do Sul,
Índia e outros no contexto do Acordo de Copenhague, garantem que a
temperatura média do planeta aumentará 3,5 graus centígrados em relação à
era pré-industrial.
Algumas análises afirmam que a temperatura subiria mais, entre quatro
e cinco graus, o que colocaria em risco a sobrevivência da espécie
humana. Apesar das declarações políticas de Estados Unidos, Canadá e
União Europeia, o certo é que as nações em desenvolvimento prometem
reduções maiores que o mundo industrializado, responsável por 75% de
todas as emissões humanas causadoras do aquecimento da Terra.
“Ainda não há novas promessas sobre a mesa, e o que foi aceito em
Durban, quanto a elevar as ambições e as reduções, é incerto com relação
ao seu resultado”, disse Bill Hare, diretor da Climate Analytics, grupo
assessor sem fins lucrativos com sede na Alemanha.
A presidente da COP 17, a sul-africana Maite Nkoana-Mashabane, foi
uma das que pediram aos governos para deixarem de lado seus interesses
“pelo bem maior do planeta e de seus povos”.
Países ricos como Estados Unidos, Canadá e Arábia Saudita bloquearam
as conversações em muitas frentes, para frustração e amargura das nações
menores e desfavorecidas.
“A triste notícia é que os sabotadores conduzidos pelos Estados
Unidos tiveram êxito ao incluir uma cláusula de escape que pode impedir
facilmente que o próximo grande tratado climático seja legalmente
vinculante”, lamentou o diretor-executivo do Greenpeace Internacional,
Kumi Naidoo.
Mesmo que em 2015 seja aprovado um rígido tratado legalmente
vinculante, deverá ser ratificado pelos governos para entrar em vigor. O
Protocolo de Kyoto foi adotado em 1997, mas só entrou em vigor em 2005.
Esperar até 2020 para efetuar reduções drásticas da contaminação
obrigará a ir muito mais a fundo, com maiores custos, para manter a
esperança de que a temperatura global não aumente além dos dois graus,
afirmou Hare.
“A aspiração coletiva de redução de emissões deve aumentar muito em
breve e de maneira substancial”, alertou Alden Meyer, diretor de
estratégia e política da União de Cientistas Preocupados, dos Estados
Unidos.
Vários estudos sustentam que as emissões mundiais de gases-estufa
deveriam alcançar seu ponto mais alto entre 2015 e 2020, e depois
declinar, se a intenção é a busca de uma possibilidade razoável de
controlar a temperatura a um custo alcançável. Se o pico e o declínio
ocorrerem mais tarde, os custos e os riscos dispararão.
“Os discursos contundentes e o cuidado na escolha das palavras não
podem alterar as leis da física. A atmosfera responde a apenas uma
coisa, as emissões”, disse Meyer.
Está claro que nas duas últimas semanas os governos ouviram as
corporações que contaminam e não seus povos, afirmou Naidoo em um
comunicado.
A Plataforma de Durban inclui um segundo período de compromissos do
Protocolo de Kyoto, que deve começar em janeiro de 2013, para evitar uma
brecha após o fim do primeiro prazo, em dezembro de 2012.
Sua duração e seu alcance serão discutidos na COP 18, que acontecerá
no Catar. Os países em desenvolvimento insistiram nesta condição, embora
o Protocolo somente obrigue a pequenas reduções dos países
industrializados europeus e de Canadá, Austrália, Japão e uns poucos
mais.
Os Estados Unidos permanecem fora do Protocolo de Kyoto, e o Canadá
ignorou suas obrigações e aumentou as emissões, e agora, junto com Japão
e Rússia, afirma que não vai aderir a um segundo período de
compromissos.
A continuidade de Kyoto é “significativa”, disse a
secretária-executiva da CMNUCC, Christiana Figueres. Os países partes
devem apresentar suas ofertas de redução até maio de 2012. Entretanto,
não há uma adoção formal do segundo período no texto atual do documento,
disse Pablo Solón, ex-chefe da delegação da Bolívia na Convenção.
“A decisão real foi adiada para a próxima COP”, e o Protocolo continua na “terapia intensiva”, afirmou.
O único progresso do Fundo Verde para o Clima foi seu desenho e sua
administração. Supõe-se que deve distribuir cerca de 100 bilhões de
dólares de assistência aos países em desenvolvimento, a partir de 2020,
para ajudá-los a reduzir suas emissões e a se adaptarem à mudança
climática.
Em Durban não houve compromissos sobre a origem do dinheiro.
Acordou-se estabelecer um “plano de trabalho” para mobilizar recursos de
fontes públicas e privadas. Estas últimas incluem de maneira explícita
os mercados de carbono, pois os governos do Norte industrial se
escudaram na crise financeira e econômica que ata suas mãos. A sociedade
civil e alguns países em desenvolvimento destacaram que os governos
entregaram bilhões de dólares a bancos e entidades financeiras e que o
orçamento militar supera em mais de dez vezes a quantia que o Fundo
Verde para o Clima necessita. Apesar de o mercado de carbono estar em
queda, o setor privado é considerado por Estados Unidos, União Europeia,
Nova Zelândia e Japão, entre outros, como sócio cruciais para financiar
a resposta à mudança climática.
Os mercados de compra e venda de compensações de carbono são um
sistema muito polêmico e complexo quanto a medições e propriedade do
carbono no solo ou nas florestas, entre outros aspectos. Também subsiste
o questionamento ético de que os países ricos compensem sua própria
contaminação comprando florestas ou terras em nações pobres. “Mantenham
as metas, deixem os mercados”, pediu Oscar Reyes, da Amigos da Terra
Grã-Bretanha, nos últimos dias da COP 17.
“É preocupante o fato de que, quando o Fundo Verde tiver recursos, os
emprestará ao setor privado para impulsionar o mercado de carbono”,
advertiu Reyes.
“Ao olhar as conferências anteriores, parece mais efetivo que seus
membros saiam da sala de reunião e plante árvores durante duas semanas.
Provavelmente, obteriam maior impacto”, disse o jovem de 14 anos Felix
Finkbeiner, da Alemanha. Finkbeiner lançou uma organização infantil
chamada Plante para o Planeta que agora trabalha em 70 países e dessa
forma cultivou quatro milhões de árvores nos últimos quatro anos. Seu
lema é “Chega de falar, comece a plantar”. (IPS/Envolverde/Terramérica)
*O autor é correspondente da IPS.
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