Do Blog da Cidadania
Este é o caso mais emblemático que já surgiu sobre a transformação
dos maiores meios de comunicação do país em um partido político
dissimulado do qual o jornalismo passa longe. Leia com atenção, porque
este post contém a prova final de que não se deve dar o menor crédito ao
“jornalismo” que veículos como o jornal Folha de São Paulo dizem fazer.
Ao fim da tarde da última quinta-feira (15/12), recebi e-mail de uma
fonte que, por sua vez, recebeu de alguém que trabalha na redação da
Folha cópia da “crítica interna” diária que os ombudsmans do jornal
fazem circular há anos entre seus jornalistas. É uma bomba.
Antes de prosseguir, vale explicar que a “crítica interna diária” dos
ombudsmans da Folha era publicada abertamente na internet até abril de
2008. A razão de o jornal ter decidido torná-las “secretas”, ou seja, só
para consumo de sua redação, foi uma dessas críticas que o ex-ombudsman
Mario Magalhães fizera.
Magalhães, como no texto da atual ombudsman, Suzana Singer, que vazou
na quinta-feira, acusou o jornal de partidarismo contra o PT. Aliás, a
maioria dos ombudsmans fez essa crítica, ainda que com menos
intensidade.
Contrariado com a crítica de Magalhães, o jornal optou por não mais
publicar a crítica diária na internet afirmando que seus inimigos
políticos – um jornal que atua como partido político, é claro que tem
inimigos políticos – estariam usando as críticas do ombudsman para
atacar. Contrariado, o jornalista pediu demissão do cargo.
Lamentavelmente, soube que a Folha descobriu quem foi, em sua
redação, que, no melhor estilo Wikileaks, vazou ontem a crítica interna
arrasadora da atual ombudsman. Não é preciso pensar muito para concluir o
que acontecerá com esse profissional.
Todavia, é preciso que as pessoas entendam o poder de propagação da
internet. Caiu na rede, se espalha como fogo em mato seco. Quem não quer
grande divulgação de alguma coisa, que não ponha na rede. O que não dá é
para um blogueiro publicar alguma coisa que alguém lhe passa e depois
retirar.
Seja como for, vamos rever o que foi que Suzana Singer escreveu e
que, ao vazar, deixou a direção do jornal tão furiosa. Abaixo, a crítica
interna da ombudsman divulgada na redação da Folha na última
quinta-feira, 15 de dezembro.
—–
15 de dezembro de 2011
Crítica interna
ANTES TARDE DO QUE NUNCA
por Suzana Singer
Ainda bem que a Folha deu a notícia sobre o livro “A Privataria
Tucana” (A11). A matéria está correta, com o destaque devido, mas o
jornal deveria continuar no assunto, porque há mais pautas no livro.
Exemplo: por que Verônica Serra e o marido têm offshores? Não
deveríamos investigar e questioná-los? É já publicamos que Alexandre
Bourgeois, marido de Verônica, foi condenado por dever ao INSS?
É verdade que as declarações que ela deu na época das eleições, sobre a
sociedade com a irmã de Daniel Dantas, eram mentirosas? Fomos muito rigorosos com o caso Lulinha, por exemplo.
Outra frente é a o tal QG de dossiês anti-Serra na época da
eleição presidencial, que a Folha deu com bastante destaque. O livro
conta coisas de arrepiar a respeito de Rui Falcão. Ao mesmo tempo, sua
versão de roubo dos seus arquivos parece inverossímel. Seria bom
investigar, já que ele faz acusações graves contra a imprensa,
especialmente “Veja” e “Folha”.
Teria sido bom editar um “acervo Folha conta a história da
privatização” para lembrar ao leitor que o jornal foi muito duro com o
governo FHC. É um erro subestimar a capacidade da internet – e da Record – de disseminar a tese do “PIG”. E também seria bom esclarecer, com mais detalhes, o que é novidade no livro sobre esse período.
O Painel do Leitor só deu hoje uma carta cobrando a
cobertura do livro. Eu recebi 141 mensagens. Quem escreveu hoje criticou
a matéria publicada por:
1) ter um viés de defesa dos tucanos;
2) não ter apresentado Amaury Ribeiro Jr. devidamente e não tê-lo ouvido;
3) exigir provas que são impossíveis (ligação das transações financeiras entre Dantas e Ricardo Sérgio e as privatizações);
4) não ter esse grau de exigência em outras denúncias,
entre as mais recentes, as que derrubaram o ministro do Esporte (cadê o
vídeo que mostra dinheiro sendo entregue na garagem?);
5) não ter citado que o livro está sendo bem vendido
—–
Mesmo que você seja um leitor de direita, adesista à mídia, reconheça
que a ombudsman referendou, uma por uma, as teses da blogosfera
progressista. Não só quanto ao viés tucano do jornal como, também,
quanto ao poder de difusão da blogosfera.
Chega a ser ridículo a ombudsman ter que avisar ao jornal sobre esse
poder. O fato, porém, é que veículos como Globo, Folha, Veja e Estadão,
entre outros, parecem acreditar que o que não publicam, não aconteceu.
Um dia pode ter sido assim, mas hoje em dia, com a internet, já era. A
internet ajudou a derrubar ditaduras sangrentas no Oriente Médio. Não
tem, portanto, qualquer dificuldade em fazer circular denúncias de
maracutaias de jornais.
Diante de crítica tão arrasadora de sua ombudsman, porém, o que é que
fez a Folha? Aprofundou o partidarismo e a omissão e em sua edição
desta sexta-feira só publicou uma coisa sobre a privataria tucana, a
nota que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou ontem se
queixando do livro que desnuda o saque que seu governo praticou.
Vale registrar que os tucanos e a mídia, de mãos dadas e em uníssono,
desqualificam o livro de Amaury Ribeiro, autor de “Privataria”, porque
ele foi indiciado pela Polícia Federal , apesar de ter sido um
indiciamento político feito para atender aos interesses eleitorais do
PSDB ano passado, pois está sendo investigado por tucanos e mídia terem
dito que trechos de seu livro seriam um “dossiê” contra José Serra, o
que a publicação do livro, quinta-feira passada, desmente.
Mas se o fato de Amaury estar indiciado o desqualifica como cidadão e
jornalista, então os indiciamentos e condenações de familiares de Serra
e os processos a que o tucano responde não o desqualificam, também? Ou
essa lógica só funciona para os adversários do PSDB e das empresas de
comunicação que a ombudsman chama de “PIG”?
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